FARINHA POUCA
Num período econômico em que todos os setores trabalham com margens mínimas, o pedido de reajuste salarial formulado pelos ministros do Supremo, depois de outras instâncias oficiais terem feito o mesmo e nas mesmas proporções, soa como um gol contra – ou, como dizem os mineiros, farinha pouca, meu pirão primeiro -, pois não leva em conta a situação dos demais segmentos, ora sob pressão da inflação, mas sem margem de negociação, já que suas empresas também vivem situação de aperto. Recentemente, a Câmara dos Deputados ensaiou pedido semelhante e só não foi adiante por conta da pressão da opinião pública.
O problema do reajuste dos ministros está no efeito cascata que produz. Não se questionam a qualidade e a quantidade de trabalho produzido pela Corte e pelas demais instâncias, o sacrifício deve ser de todos, principalmente do setor público no qual o patrão, em última instância, é a própria população. E esta, pelos números da área econômica, está pagando um preço elevado pelas inações do próprio Governo.
Como não se sabe como o Congresso irá reagir ao pacote apresentado pelo senador Renan Calheiros, é necessário torcer para que dê certo, embora, tecnicamente, tenha propostas que não batem com a realidade e outras que já estão em curso pela própria equipe do ministro Joaquim Levy. Os que defendem a proposta miram mais no seu viés político do que no aspecto econômico. O presidente do Senado é, hoje, um contraponto à beligerância crônica do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, embora ambos sejam do mesmo partido, o PMDB. Renan, agora aliado, pode reforçar as posições do vice-presidente Michel Temer e conter uma das fontes de pressão sobre o Planalto.
Num cenário melhor, o reajuste deve voltar à pauta.