ERA DOS HUMANOS
O indiciamento da Samarco e da Vale do Rio Doce, que afeta ainda sete dirigentes das empresas, é uma demonstração clara de que o ciclo de abusos, se não está terminando, pelo menos está na mira dos órgãos de fiscalização. Basta lembrar que o desastre arrasou o distrito de Bento Rodrigues e deixou 17 mortos, dois desaparecidos e um passivo de destruição ao curso do Rio Doce chegando até o Oceano Atlântico, e ainda não aferido, pois a poluição ainda não foi totalmente controlada.
A empresa terá direito de ampla defesa, mas há claros indícios de que foi leniente não apenas no trato dos reservatórios mas também na imprevisão de sua ocupação. E há outros que passam por fiscalização, uma vez que alguns deles são maiores do que a barragem que se rompeu em Mariana. Quem visita o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, tem oportunidade de acompanhar palestras sobre o que a ciência chama de “antropoceno”, a era dos humanos. Ela foi cara para o planeta, pois suas mazelas equivalem aos meteoros que dizimaram os dinossauros há 66 milhões de anos.
Com pequenos e grandes gestos, o homem está destruindo o planeta, e a discussão ainda é rasa. O debate é desenvolvido sob viés do preconceito contra os que defendem o meio ambiente em detrimento do “progresso”. As licenças ambientais são concedidas sem uma profunda avaliação de suas consequências, sobretudo em projetos que claramente vão comprometer o ecossistema.
É fato que é preciso razoabilidade, uma vez que não se deve deter o progresso, mas os investidores, como no caso das mineradoras, deveriam ser mais atentos, sobretudo por entender que desastres de tal ordem não causam apenas danos materiais instantâneos: são perenes e tiram vidas.