BRIGA DE JACU
A presidente Dilma Rousseff faz aniversário nesta segunda-feira à espera de um presente do Congresso, ora envolvido em demandas que afetam diretamente a sua gestão. E o cenário não é bom, pois o PMDB, um dos pontos de referência, está dividido e envolto numa luta interna que pode ter todo tipo de consequência. Uma delas é deixar ainda mais frágil a representação do Governo no Congresso, num momento em que o Planalto mais precisa. Os peemedebistas têm uma questão interna a ser resolvida e outra externa. No âmbito paroquial, a formatação da liderança tornou-se uma batalha de cardeais, com o envolvimento do vice-presidente da República, Michel Temer e, especialmente, da bancada do Rio de Janeiro, capitaneada pelo governador Luiz Fernando Pezão, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo deputado Leonardo Picciani. Uma vitória de Temer, embora seja ele o número dois da República, significaria, paradoxalmente, a derrota do Governo do qual faz parte.
No debate externo, o PMDB não sabe o que fazer com o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Acuado em várias frentes, ele tem tomado decisões que extrapolam a sua competência, na busca de um porto seguro que não existe. A única tábua de salvação é se afastar do posto e enfrentar a Comissão de Ética. No cargo, mesmo com o poder que sabe bem utilizar, compra a hostilidade dos pares e da opinião pública. Já perdeu o apoio dos pares de seu estado, mas ainda tem uma expressiva bancada que não mede consequências em defendê-lo, como se viu na sessão de quinta-feira, quando um de seus representantes estapeou um colega de comissão.
Prestes a completar 68 anos, a presidente terá, também, que fazer a sua parte, o que não tem sido uma de suas virtudes. Depois de uma conversa reservada com Michel Temer, para discutir a relação, saiu prometendo aproximação, mas seu discurso não se confirmou na prática ao colocar o Governo no meio da discussão interna do PMDB. Embora seja mineira, não aprendeu uma máxima do folclore de seu estado: em briga de jacu, inhambu não entra. Ao investir em Picciani, que é contra o vice-presidente, faz exatamente isso.