PRIMEIRO, A BASE
A presidente Dilma Rousseff tem razão ao criticar os que defendem o pior para tirar proveito próprio, em ações tipicamente de cunho pessoal, quando há uma crise instalada que carece de esforço coletivo. Mas também é fundamental lembrar que o país não chegou a tal estágio de graça, fruto apenas da situação internacional – mote usado recorrentemente -, sendo a responsabilidade, em boa parte, pelas ações e inações do seu Governo. As concessões, em anos recentes, para anabolizar a economia, como a redução das tarifas de energia elétrica, têm, agora, seu preço na conta desse mesmo consumidor que se pensou beneficiar anteriormente.
Não há dúvidas de que há sempre os que tiram proveitos do caos, mas é necessário também reconhecer as causas para a busca de soluções. E essa operação nem sempre é simples. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem encontrado mais dificuldades entre os aliados do que na oposição para levar seu ajuste econômico à frente, embora não haja outro caminho, a não ser este, para retomar o crescimento. Na última segunda-feira, o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, apresentou um pacote de sugestões, em nome de seus pares, para pacificar não só os números mas também a instância política.
O gesto é nobre, mas o que ele faz não dá garantias de sucesso, ainda mais quando já há medidas do próprio Governo em curso. A ideia soa mais como uma busca de protagonismo ante a fragilidade da Presidência do que verdadeira alternativa para os impasses instalados nas instâncias de poder. No mesmo prédio, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também buscando os mesmos holofotes, age como um líder da oposição, embora seu partido seja o principal aliado do Governo, tendo, inclusive, um vice-presidente que exerce a coordenação política.
Em tal cenário, embora haja razões para a advertência da presidente, a primeira medida é pacificar a sua base, o que também não é simples, em decorrência de interesses nem sempre republicanos que esses aliados colocam em pauta.