PASSO EM FALSO
Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, recomendavam os antigos, mas também cai bem no atual momento político do país. O pedido de prisão do ex-presidente Lula, formulado pelo Ministério Público de São Paulo, é a típica situação em que foi dado um passo além da conta. Ele já foi ouvido, e a suspeita de que estaria destruindo provas e incitando as ruas não se sustenta para garantir o pedido de prisão. Até a oposição viu no pedido um exagero, pois, em vez de ter efeitos que os procuradores querem, pode sair pela culatra, vitimizando o ex-presidente.
Às vésperas de uma manifestação convocada pelos adversários do Governo, o pedido soa como tática diversionista, por tirar o foco do projeto oposicionista de protestar, especialmente, contra a presidente Dilma Rousseff. Mas o ponto central foi mesmo a insuficiência de dados para pedir a prisão. Até mesmo renomados juristas e procuradores de outros estados entendem que passou do limite. Ademais, cria-se uma situação embaraçosa: as investigações podem levar à conclusão do caso ou quebrar uma das pernas da operação Lava Jato, como advertiu recentemente o articulista Elio Gaspari, em sua coluna semanal.
Como foi apenas um pedido, cabendo ao juiz definir pelo seu acolhimento, ou não, resta esperar pelos próximos passos, já que, durante esse interregno, haverá matéria suficiente para longas discussões, envolvendo o próprio Lula, que teria rejeitado a sugestão para ser ministro de Estado. Se aceitasse, decretaria de vez a falência da gestão da presidente, já fragilizada o suficiente por tantas demandas.