Males do verão
O verão tem sido marcado por doenças tropicais que deveriam, em tese, já estar erradicadas. Investimentos em políticas de prevenção não podem ser reduzidos
O novo surto de febre amarela que assola o país, especialmente a região Sudeste, é um claro sinal de que ainda é preciso muita estrada para ser revertido o cenário de medo que assola o verão. Antes, o mosquito Aedes aegypti transmitia apenas dengue; depois, descobriram-se a chikungunya e, agora mais recente, a febre amarela. Doenças que já deveriam ter saído do mapa continuam latentes, o que exige investimentos profundos não apenas em projetos para esclarecer a população, mas também para imunizá-la definitivamente contra esses males.
Minas Gerais e São Paulo apresentam números preocupantes de óbitos de humanos, a despeito das ações realizadas nos dois últimos anos, quando a doença ganhou números de endemia. Reverter esse quadro deve ser ação de Estado, pois a população, nesse jogo, só entra como vítima, salvo nas questões em que tem papel ativo, como cuidar de seu espaço para evitar a proliferação do mosquito.
O lado perverso desse enredo é a reação popular quando os índices melhoram. Basta dizer que tal doença está em números descendentes para boa parte da população voltar a cometer as mesmas imprudências. Na fase mais crítica da dengue, foram feitos vários mutirões para a retirada de entulhos que se tornavam criadouros, mas bastou o Governo dizer que houve redução nas ocorrências para o velho comportamento voltar à tona. É fácil constatá-lo nos bolsões de lixo que se espalham por terrenos baldios e nas águas retidas em espaços desocupados.
A febre amarela chega sob o mesmo viés. Nos primeiros casos, entendeu-se que eram fatos isolados, afetando apenas animais não humanos. Só com os primeiros óbitos é que a população passou a se preocupar, por pressentir as consequências de contaminação.
E aí, o lado positivo é que o medo induz à tomada de cuidados, acentuando, por outro lado, a necessidade de ações preventivas. Que venham, então.