PÚBLICO INTERNO
A reforma política aprovada pela Câmara demonstra a força das grandes legendas e aponta para um projeto meramente administrativo, que reduz o tempo de campanha, para prejudicar os menores, mas não resolve a relação com as ruas. O fim das coligações, que teria resultado mais eficaz, está fora do texto, embora haja a possibilidade de ser inserido pelo Senado. Os deputados passaram longe de mudanças profundas, fazendo uma maquiagem no financiamento de campanha. As empresas vão continuar doando, e os limites adotados não garantem o fim da festa do dinheiro.
Desde o início, os deputados demonstraram que não mexeriam nas questões pontuais, preferindo adotar um projeto mais voltado para o público interno do que para o interesse coletivo. No Senado, o olhar pode ser outro, mas há também indícios de que as mudanças – se ocorrerem – não serão substanciais. Tudo depende da sintonia entre os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros, que disputam o protagonismo ao lado do também representante do PMDB, Michel Temer, vice-presidente da República e articulador político do Governo.
O encurtamento da campanha, uma das medidas adotadas, pode ser positivo ao olhar do público, pois implica, necessariamente, a redução dos custos, mas se apresenta apenas como uma tentativa de reduzir a ação das legendas de menor porte. O país, no entanto, vai continuar com mais de 30 siglas, 28 delas abrigadas no Congresso, numa clara demonstração de que o viés ideológico não existe, prevalecendo o balcão de interesses, no qual lideranças políticas são donas de partidos, fazendo deles uma mercadoria de troca em períodos eleitorais.