Agenda Permanente
Fim das celebrações do Dia da Mulher não pode tirar de foco as discussões sobre as abissais diferenças entre homens e mulheres em várias frentes
Terminada a semana em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher, não será surpresa se a discussão de gênero sair do centro das atenções. Esse é um problema que se repete a cada ano, embora, reconheça-se, haja um ativismo mais elaborado nos tempos recentes. A discussão do tema deve ser uma agenda permanente, a fim de verbalizar as discussões que já estão nas ruas. Só que, além dos pronunciamentos, é preciso agir. O papel da mulher na sociedade, mesmo com tantas ações, ainda é considerado secundário em várias frentes, a começar pela recorrente discussão sobre os salários. Mas a questão é bem mais ampla. A representação feminina nos cargos de liderança ainda é desproporcional tanto no serviço público quanto no setor privado. No Governo federal, então, a situação é mais aguda, pois não há um só ministério comandado por mulher.
Na própria Esplanada dos Ministérios, o problema se explicita na casa ao lado. O Congresso Nacional é o retrato mais fiel dessa desproporção. O número de mulheres fica na casa dos 10%, registrando um visível paradoxo, pois elas são maioria da população e dos colégios eleitorais. A justificativa continua sendo a mesma ao curso dos anos: as próprias mulheres não votam em mulheres sem que haja uma razão formal para essa situação.
Na sua visita a Juiz de Fora, na última quinta-feira, quando participou da Conferência da OAB, a ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon, foi enfática ao dizer que há muito a ser feito, mas advertiu que as mulheres precisam reagir e deixar de ser fantoches dos dirigentes partidários. E deu números. No pleito de 2014, cerca de 18 mil mulheres não obtiveram um só voto embora fossem candidatas. Na verdade, eram apenas nomes colocados nas listas dos partidos para cumprir a cota feminina exigida pela Justiça Eleitoral. Para Calmon, eram fantoches que se dispuseram a esse papel.
A ministra tem razão. Se houver mudança de atitude, as casas legislativas, os governos dos estados, dos municípios e a própria presidência da República poderão ser disputados por um número mais expressivo de mulheres. Trata-se apenas de uma questão lógica, e não de enfrentamento entre homens e mulheres, que não pode ser a tese a ser levada para os palanques.