POTE DE MÁGOAS
A carta encaminhada à presidente Dilma Rousseff pelo seu vice, Michel Temer, é a prova material da falta de interlocução entre ambos, embora estejam à frente do país por quase cinco anos. O texto entregue na noite de segunda-feira é um pote de mágoas, onde ele enumera, inclusive, o que chama de desfeitas do Planalto, como a vez em que a presidente recebeu o vice dos EUA, Joe Biden, e se esqueceu de convidar o seu para a reunião. De fato, foi uma descortesia, pois era o mínimo que se esperava numa reunião bilateral. Temer abriu a gaveta para outras questões, mas, a despeito de todo o discurso, ainda não se sabe aonde quer chegar, por isso, preferiu escrever a ter que se encontrar com sua colega.
Quando a situação chega a esse nível, um retorno à normalidade é quase impossível, já que não fizeram uma DR no tempo certo. Se tivessem discutido a relação ainda no primeiro mandato, certamente muitas demandas teriam sido resolvidas, inclusive na formatação do Governo. Dilma tem um estilo de ouvir pouco, enquanto Temer tem o estilo de quase não falar. Aí, cria-se um vácuo de silêncio que culmina, quase sempre, em desencontros. O que ambos precisam avaliar, porém, é qual a consequência dessa postura para o país.
Itamar Franco – que Temer tenta imitar ao ficar longe do epicentro de problemas – deixou claro desde o início da gestão que discordava de Fernando Collor, e não apenas do seu estilo imperial de governar, mas da prática política e das companhias que lhe faziam corte no Palácio. O atual vice prefere o silêncio, em que é impossível detectar se está concordando ou discordando. Agora, ante uma pequena chance de poder, usa metáforas para se apresentar ao país, como ao dizer que faltava alguém para conciliar o país, mas não moveu peças no tabuleiro político, preferindo outros caminhos. Seus próximos passos, pois, serão importantes para dizer, de fato, o que pretende. O que não pode é manter a indecisão que afeta o andamento da administração.