Obras inacabadas
Governo pretende concluir hospitais regionais, mas ainda não definiu o formato; medida é necessária, pois há uma demanda crescente por atendimento, sufocando a atual rede pública hospitalar
A iniciativa do Governo de Minas de elaborar um chamamento público para identificar, em cada unidade, qual a melhor ação para a abertura e o funcionamento dos hospitais regionais é um passo adiante, sobretudo diante do cenário de incertezas que marca esses empreendimentos há pelo menos quatro anos. Quando estava em campanha, o então candidato Fernando Pimentel prometeu terminar as obras iniciadas e paralisadas pela gestão tucana, mas não saiu do campo do discurso. Durante sua administração, as obras permaneceram no mesmo impasse, com raras intervenções, frustradas pela inadimplência das empresas que, sem repasses, não conseguiram honrar seus contratos.
O chamamento público deve ser marcado por um claro compromisso de conclusão dos projetos, hoje esqueletos espalhados pelas principais cidades de Minas Gerais, sendo Juiz de Fora uma delas. É necessário que os grupos interessados tenham meios de garantir a conclusão dos trabalhos mesmo diante de um eventual impasse financeiro com o Estado. Não há mais espaço para iniciativas de início e sem fim que criam pelo país afora projetos não finalizados que demonstram a leniência dos gestores com o dinheiro público. Em Juiz de Fora, além do Regional, também há o Hospital Universitário, que carece de uma solução. Os dois empreendimentos são estratégicos para a Zona da Mata, que leva sua demanda para as demais unidades, sufocando o sistema.
A saúde é uma rubrica de investimentos intensivos e permanentes, pois funciona diante de um paradoxo: quanto melhor, mais o fluxo de pacientes, o que pode ser visto em Juiz de Fora, cuja rede de atendimento é referência, atraindo pacientes de toda a região e até mesmo do vizinho Rio de Janeiro. Como o sistema é universal, não há espaço para negativa. Desta forma, aumentam-se os gargalos, sobretudo em situações críticas como nesse ciclo de dengue que assola o estado.
O governador Romeu Zema não garante a permanência dos hospitais regionais sob a tutela do Estado, por considerar que a instância pública está sobrecarregada, mas deve considerar que a saúde ainda deve ser uma prioridade de Estado, sobretudo para atender aos que menos podem. A privatização é uma realidade e deve ser implementada em setores em que o Estado já se mostrou incapaz de realizar boa gestão, mas é necessário avaliar as consequências. No país, há uma cultura de obras e inaugurações sem avaliação do custeio, como se cortar a fita fosse a etapa final. Na verdade, é apenas o começo.