INVISIBILIDADE SOCIAL
É louvável a iniciativa de jovens estudantes para tirar da invisibilidade atores do cotidiano sistematicamente ignorados pela sociedade, como a Tribuna mostrou na edição de domingo, e que usam as ferramentas do mundo virtual para dar-lhes requisitos mínimos de cidadania. São personagens apartados não apenas dos projetos sociais mas também da rotina dos demais atores da mesma cena, que os olham, mas não os veem, ora fruto do preconceito, ora pela própria postura ensimesmada da sociedade pós-moderna.
O projeto visa dar cores ao preconceito social que ainda perpassa o dia a dia das cidades, com o advento desses personagens invisíveis. Há algum tempo, em São Paulo, um professor universitário, em sua tese de doutorado, tratou do tema: ele se tornou gari, para ver de perto a face da invisibilidade social. Na rotina do trabalho, recolhia o lixo da própria universidade, convivendo, indiretamente, com colegas de magistério e alunos. Deles não obteve, sequer, um cumprimento ao curso dos quatro anos de elaboração da tese, embora com eles cruzasse sistematicamente. Defendida a tese, tornou-se amigo dos garis, compadre de alguns e mostrou essa invisibilidade que os alunos, em Juiz de Fora, tentam mudar.
Não é uma tarefa fácil, mas é fundamental começar, a fim de dar cores ao que apenas alguns poucos veem e outros se recusam a enxergar. Em um de seus contos, o dinamarquês Hans Christian Andersen abordou a questão na “Roupa nova do rei”. Um bandido, que se passou por alfaiate, confeccionou uma roupa invisível para o imperador, que passou a desfilar nu pela cidade ante a admiração dos súditos. Coube a uma criança dizer, em sua pureza, que o rei estava nu. O que os jovens estudantes apontam, agora, é que há cidadãos que fingimos – como as roupas do rei – ignorar, embora a realidade nos salte aos olhos tão de perto.