NOVO SÉCULO
Quando surgiram as primeiras ondas migratórias, representantes brasileiros foram convidados a dividir suas experiências com os europeus, que até então não tinham qualquer experiência com populações de rua. No Brasil, mesmo diante de um cenário social ainda precário, há esse know-how. Boa parte dos moradores de rua age por conta própria, ciente dos riscos e dos problemas, pois há programas de incentivos para abrigá-los ou incentivá-los a retornar aos seus pontos de origem. Mas o que se vê na Europa, hoje, é desolador. A despeito de todos os avanços nas relações interpessoais, o homem do século XXI ainda tem sérias dificuldades em lidar com o outro. O fluxo que ora causa uma das principais preocupações da União Europeia não tem prazo para acabar. Ao contrário, tudo indica que vai se intensificar ante a intolerância política e as dificuldades econômicas nos pontos de origem.
O primeiro dilema é o fato de não haver políticas públicas capazes de absorver tanta gente, salvo as ações de princípios humanitários. Longe do ciclo virtuoso das economias e com disparidades entre os próprios membros da UE, o número de migrantes induz a preconceitos e medo, sobretudo no mercado de trabalho. Ele sinaliza para mão de obra barata, que, a troco de um novo lar, se mostra disposta a qualquer emprego. O velho continente já vem enfrentando o desemprego há algumas décadas e vê com preocupação a possibilidade de agravamento, sobretudo para os nativos, que, até por questão cultural, não se submeteriam a trabalho com salários aviltantes.
O outro impasse é a falta de perspectiva. Os migrantes, embora tenham se evadido de seus países em busca de dias melhores, não têm essa garantia. Em princípio, terão abrigo, mas fica no ar a indagação sobre o dia seguinte. A Grécia tem sido um dos pontos de referência para tais estrangeiros, mas o país já tem problemas suficientes para considerar que não tem meios de abrigá-los adequadamente. Até a Alemanha, o primo rico europeu, tem se preocupado com o tema, chamando os parceiros para acolher os que procuram abrigo. Mas até quando e como?
O avanço tecnológico, as conquistas sociais e outros implementos ainda têm sido ineficazes para esse novo século.