Seguir adiante
Com a denúncia do procurador–geral fora da agenda, o Congresso tem que retomar a pauta de reformas, pois é isso que a sociedade espera dos deputados e senadores
Foi explícito o jogo de poder exercido pelo presidente Michel Temer para sobreviver à denúncia do procurador Rodrigo Janot, jogando todas as suas fichas e algo mais na base governista na Câmara dos Deputados, mas manter o tema na agenda do Congresso em nada irá ajudar o país. O processo não se extinguiu, sendo apenas adiado para quando o chefe do Governo perder o foro privilegiado. O que está em jogo, agora, é a necessidade de se dar fim a esse palanque permanente, que tem marcado as sessões no Parlamento. Para muitos partidos, manter a fervura é interessante para anabolizar seus projetos de 2018. Para outros, um presidente emparedado é alvo permanente de chantagens políticas, próprias das legendas que atuam em proveito próprio sem se preocuparem com o interesse coletivo. É preciso, pois, seguir adiante.
Michel Temer precisará reorganizar a sua base para aprovar as reformas que ainda faltam, como a tributária, que deve ser a primeira da agenda, por ser mais fácil, e a da Previdência, que acabou escanteada por conta da denúncia do procurador-geral da República, que consumiu todas as energias do Planalto. Os deputados e senadores, por sua vez, têm que fazer a reforma política já, uma vez que os prazos começam a se esgotar. Por conta da anterioridade legal, as mudanças, para serem adotadas no pleito de 2018, precisam estar aprovadas até o fim de setembro.
O preocupante é que, diante de tão pouco tempo, os políticos façam uma reforma à meia bomba, apenas para agradar o eleitor, mesmo sabendo que é preciso ir mais fundo. Não dá para sustentar o atual modelo e nem tantos partidos. Na sessão de quarta-feira, boa parte do tempo foi consumida com discurso de líderes de legendas que só aparecem em tais ocasiões para participar do balcão de barganhas elaborado pelo Governo. Não dá para garantir nada num Congresso com quase 30 partidos. Sequer espaço ideológico para abrigar tantas tendências. A reforma, com sua cláusula de barreira, poderia filtrar esse processo. Mas ela vai ser inserida no texto?
As muitas propostas em discussão correm o risco de ficar para 2020, ou jogadas para 2022, seguindo a velha rotina do adiamento, que se tornou comum ao curso dos anos. A reforma política é um velho tema tanto na Câmara quanto no Congresso e não avança por conta do paradoxo das próprias instituições: os políticos jamais farão regras que os prejudiquem. Daí, quem sai sempre perdendo é a sociedade.