O papel do Centrão
Dirigentes do grupo tentam mexer na reforma da Previdência, o que pode tirar a essência do necessário projeto para o país
Políticos ligados ao Centrão – o que ideologicamente não significa, necessariamente, que sejam de centro – tentam acrescentar novos jabutis ao projeto de reforma da Previdência, numa típica manobra de quem aumenta a conta para receber pelo menos alguma coisa. Deputados insatisfeitos com seus governadores, por sua vez, tentam tirar a reforma dos estados do pacote, embora reconheçam que, se nada for feito nos entes federados, a situação ficará pior, pois a condição deles é mais crítica.
As idas e vindas são parte de um longo processo de negociação comum a todos os projetos de grande monta, mas, no caso em questão, é necessário que a instância política não perca o foco. A reforma é uma necessidade, e não uma conveniência deste ou daquele governo. Já era para ter sido feita há mais tempo, mas o que ocorreu foram remendos que não chegaram ao cerne da questão. Por isso, quando o jogo da barganha ensaia mais um passo, não é em nome do interesse coletivo que se move, e sim por ações particulares de grupos que sempre adotaram essa postura para sobreviver.
É fato que o Governo tem ajudado pouco nesse debate, preferindo um afastamento que não se justifica, sobretudo diante do tamanho da causa. O Palácio teria que atuar ostensivamente para aprovar o projeto, em vez de se escudar basicamente na boa vontade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ele tem força na Câmara, mas a matéria carece de discussão e votação também no Senado. O tempo está passando, e o que se vê são recuos sistemáticos de partidos, como o MDB, que agora quer também tirar os professores da reforma, num gesto mais demagógico do que de convicção.
Como o tempo está passando, os governadores, parte diretamente interessada, também devem sair da arquibancada e ir a campo, sob o risco de ficar com o verdadeiro pepino. A maioria dos Estados, como foi dito acima, tem sérios problemas com a sua previdência, muitos deles já utilizando recursos do tesouro para a sua complementação. Se ficarem imóveis, terão tempos duros pela frente.
O grave desse enredo, porém, é que no fim das contas tudo cai no colo da população, que corre o risco de assistir a uma reforma meia-boca, incapaz de solucionar as demandas do futuro. Os jovens que hoje entram no mercado viverão com a incerteza de sua aposentadoria, enquanto os atuais beneficiários correm o risco de ver seus ganhos comprometidos, tudo por conta de políticos que olham mais para o umbigo do que para o necessário projeto de país.