REDE DE PRECONCEITOS
No início deste ano, uma jovem negra da cidade de Muriáe, Zona da Mata, por namorar um jovem branco, foi vítima de duros ataques na internet, ora investigados pela polícia. Os autores deram ênfase à sua cor, como se fosse um estigma, para proibir a relação, numa explicitação do racismo que permeia as postagens que trafegam pelos canais da internet. Recentemente, a jornalista Maria Júlia Coutinho (Maju), responsável pela apresentação do noticiário sobre o tempo, no “Jornal Nacional”, foi o alvo da vez. Reagiu, manifestou sua indignação e ganhou a solidariedade. Os autores, porém, ainda não foram identificados. Agora chegou a vez da atriz Taís Araújo. Sua página no Facebook foi marcada por uma série de ofensas, típicas da intolerância que usa o anonimato da rede mundial para se apresentar.
Como Maju, Taís também reagiu e vai manter as ofensas em sua página como prova material do atraso daqueles que ainda pensam ser a cor definidora do caráter ou do talento. Ambas são mulheres de sucesso. Os dois casos servem, no entanto, para apontar para tantas outras que, sem a mesma visibilidade, são ofendidas diariamente no seu trabalho, nas ruas ou no seu próprio meio por conta da cor. O país miscigenado ainda é um território fértil para o preconceito, sob a aquiescência dos demais que desviam os olhos para tal questão.
A única alternativa é manter a cabeça erguida, denunciar o preconceito e envergonhar os seus autores. O país, como bem lembrou o ator Vagner Moura, em artigo publicado ontem no jornal “O Globo”, ainda não se livrou da advertência de Joaquim Nabuco, feita dez anos depois da abolição: “A escravidão permanecerá por muito tempo como característica nacional do Brasil”. Referia-se ao trabalho escravo, mas a frase cabe em outros contextos, mais de cem anos depois.