Vacinação sem política
Quando mais de 70% das crianças não são vacinadas contra a febre amarela há riscos grades de se ter a doença. País precisa retomar a condição de campeão da vacinação
A politização das medidas sanitárias durante a fase mais aguda da Covid trouxe grandes transtornos e afetou outras frentes. A partir das fake news demonizando a vacina, mesmo diante de tantas mortes, a resistência a qualquer tipo de imunização aumentou. Na edição dessa quarta-feira, a Tribuna mostrou o cenário de Minas Geais. Mais de 70% das crianças não foram vacinadas contra a febre amarela. Até abril, a cobertura em Juiz de Fora alcançava 52,14%, abaixo da meta preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%.
A febre amarela é uma doença infecciosa grave transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti, cujos sintomas são febres de início agudas, associa a icterícia, e pode evoluir para quadros críticos. Seu índice de mortalidade é alto, assim como o da Covid.
Como se trata de uma doença imunoprevenível, a febre amarela pode ser evitada, da mesma forma de outras em consequência da não vacinação.
A despeito de o país ter um novo olhar sobre a vacina, ainda há aqueles que continuam se mantendo na trincheira da rejeição. A polarização dos últimos seis anos criou um paradoxo: durante décadas, o Brasil foi um dos campeões de imunização, bastando acompanhar campanhas como a do Zé Gotinha que tiraram do glossário médico diversas doenças, como a paralisia infantil.
Nas primeiras décadas do século XX, o Rio de Janeiro foi palco de eventos como a revolta da população que se recusava a seguir as orientações do médico Oswaldo Cruz. Por diversas razões, inclusive ideológica, houve enfrentamentos nas ruas da capital.
O viés ideológico também teve grande influência quando se discutia medidas de enfrentamento à Covid. Nos anos 1910 a população era totalmente desinformada e o discurso de alguns poucos afetava o comportamento dos demais. No período da Covid, a despeito de os tempos serem outros e os canais de informação bem mais eficientes, a resistência ocorreu, e ainda ocorre.
Quando mais de 70% das crianças não receberam uma dose sequer da vacina contra a febre amarela há margem para discussão e para apurar as razões de tal resistência. Assim como na pandemia, os números deveriam ser referência para se estabelecer políticas preventivas.
É fundamental que o Ministério da Saúde retome campanhas informativas, pois é entre a população menos informada que ocorre a maior incidência da doença. É preciso virar o jogo e apostar na eficiência da vacinação.
A febre amarela estava sob controle desde 2018, com o primeiro caso sendo constatado somente em 2023 na região de Monte Santo, aqui em Minas. A partir, daí vários outros registros foram feitos. O primeiro óbito ocorreu em Monte Sião, envolvendo um paciente que não tinha registro de vacina contra a doença.