Pesquisadores da UFV, Fiocruz e UFF desenvolvem inseticida sustentável que combate mosquito da dengue

Produto foi desenvolvido a partir de uma planta endêmica do Brasil, conseguindo eliminar a larva do Aedes aegypti, mas preservando outras espécies do meio aquático


Por Tribuna

05/02/2024 às 12h58- Atualizada 05/02/2024 às 15h34

Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveram um inseticida sustentável, que age contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e outras doenças. Em um cenário de aumento dos casos e enquanto a vacina Qdenga, oferecida pelo Ministério da Saúde, ainda não chega a todos, o objetivo da inovação é matar a larva do mosquito e ajudar na prevenção.

Para isso, o produto foi desenvolvido a partir de uma planta endêmica do Brasil, que age matando a larva do mosquito, mas preservando outras espécies do meio aquático, o que torna a invenção também positiva para a conservação ambiental. O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Sustainable Chemistry and Pharmacy.

larvas aedes aegypti
Larva do Aedes aegypti (Foto: Divulgação UFV)

Nesta parceria entre centros de pesquisa brasileiros, coube à UFV e à Fiocruz a identificação do potencial inseticida sustentável a partir do óleo essencial da espécie de pindaíba (Xylopia ochrantha), encontrada usualmente na restinga, localizada ao longo de toda a costa brasileira. A UFV, por sua vez, testou a capacidade seletiva do produto.

“Existem muitas plantas com potencial inseticida, mas, para serem utilizadas de forma sustentável para o meio ambiente e sem maiores danos à saúde humana, elas precisam matar apenas o inseto-alvo, no nosso caso, a larva do mosquito transmissor da dengue”, esclareceu o professor do Departamento de Entomologia e um dos autores do trabalho, Eugênio Oliveira.

Capacidade seletiva

A capacidade seletiva que reduz os efeitos indesejáveis para espécies que não são alvo da tecnologia é um dos diferenciais entre inseticidas naturais e sintéticos. Para conseguir isso, os pesquisadores usam uma tecnologia de baixa energia e que não utiliza solvente orgânico, sendo considerada biodegradável. Dessa forma, torna-se possível retirar o óleo essencial de partes da planta sem destruí-la, já que encapsularam as moléculas através de uma técnica em que as gotas do óleo essencial estão em escala nanométrica e realizam uma melhor liberação dos compostos inseticidas ao longo do tempo, prolongando também a ação larvicida do produto.

O inseticida sustentável foi testado com larvas de Aedes aegypti e baratas d´água (Belostoma anurum), que é um percevejo comum em águas paradas e um predador natural de larvas de outros insetos. “Observamos que o inseticida garante uma seletividade em relação a outros organismos presentes no meio aquático e que são próximos filogeneticamente. Se for aplicado em uma caixa d´água, na concentração recomendada, não matará um peixe ou outros insetos, por exemplo, como é o caso da barata d’água. E isso o faz melhor que muitos larvicidas sintéticos”, disse Milton Campaz, pesquisador orientado pelo professor Eugênio ao longo deste trabalho.

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