Almas admite possibilidade de disputar reeleição
Prefeito completa um ano à frente do cargo e faz balanço das dificuldades financeiras. Apesar disso, projeta concluir três grandes obras: 2 viadutos e ginásio poliesportivo

Há praticamente um ano, no dia 6 de abril de 2018, Antônio Almas (PSDB) foi empossado prefeito de Juiz de Fora, o 23° da história da cidade. O tucano tinha pela frente um mandato diferente, menor, de apenas dois anos e oito meses, após a renúncia do agora ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB), que saiu do comando do Poder Executivo para tentar uma vaga na Assembleia Legislativa, sem sucesso. Neste sábado (6), Almas completou 365 dias na função, período no qual já enfrentou dificuldades diversas, com destaque para a greve do caminhoneiros, em maio de 2018, e os atrasos de repasses constitucionais devidos pelo Estado aos municípios que se intensificaram entre o decorrer de 2018 e janeiro de 2019. Às vésperas de completar seu primeiro ano na principal cadeira política da cidade, o prefeito visitou a redação da Tribuna para uma entrevista exclusiva (ver vídeo no site), em que fez um balanço de sua administração; revelou a intenção de entregar três obras importantes até o fim de 2020; e deixou no ar a possibilidade de tentar a reeleição para o cargo nas eleições do ano que vem.
“Temos que ter clareza do momento que estamos vivendo. É um momento de grande dificuldade. Sei me colocar como cidadão. Assim, avaliando o momento, eu não me daria uma nota 10 de jeito nenhum, porque a cidade tem muito em que avançar. Mas, pelas dificuldades econômicas e pelo esforço neste momento de grande dificuldade, acho que o prefeito Antônio Almas merece uma nota de sete a oito”, pontuou um autocrítico Almas, ao ser questionado sobre, de zero a dez, qual avaliação faria de sua atuação à frente da Prefeitura.
Antes, no entanto, já havia admitido aos debatedores a possibilidade de disputar as eleições de 2020, desta vez como cabeça de chapa na corrida pela Prefeitura e em busca da reeleição. Isto ocorreu quando ele reiterou o compromisso de dar continuidade ao projeto iniciado por Bruno Siqueira e validado pelos eleitores juiz-foranos nas urnas há cerca de dois anos e meio. “Apesar da mudança de prefeito, não podemos esquecer que houve um contrato assinado na eleição de 2016 entre aquela chapa e a sociedade Juiz de Fora. É dentro deste contrato que a gente precisa caminhar para entregar o Governo em 31 de dezembro 2020 para quem quer que seja o próximo prefeito, que, inclusive, pode ser a própria figura do prefeito que agora administra a cidade de Juiz de Fora.”
A resposta provocou reação imediata dos entrevistadores, que questionaram se aquela era uma confirmação da intenção do atual prefeito disputar o comando do Município em 2020. A resposta, no entanto, foi ponderada e apontou como natural a candidatura de um quadro do atual grupo político que comanda a PJF. “O que estou dizendo é que é obrigação do atual prefeito caminhar para levar a cidade a ter uma condição de governança melhor do que ela tem hoje. Se, lá na frente, for uma opção da cidade e for uma opção pessoal, poderíamos, sim, estar no jogo. É da minha responsabilidade enquanto prefeito acreditar no projeto que nós estamos construindo e colocá-lo em julgamento.”
Situação ainda mais grave nas prefeituras de Minas
Em vários momentos da entrevista, Almas ressaltou que assumiu a Prefeitura em um momento de grande dificuldade para o país, os estados e os municípios. No caso das prefeituras mineiras, tal situação se agravou com o contingenciamento dos repasses constitucionais por parte do Estado que se estendeu entre meados de 2018 e janeiro de 2019, perpassando as administrações do ex-governador Fernando Pimentel (PT) e do atual, Romeu Zema (Novo). “Chegamos à Prefeitura em um momento de grandes dificuldades econômicas. Tivemos um cenário de crise que se agravou ao longo de 2018. Isto traz consequência, e todas as dificuldades que nós tivemos no ano passado vão se perpetuar em 2019. Mas eu gostaria de dizer ao cidadão de Juiz de Fora que não nos falta vontade e coragem para enfrentar esse momento difícil.”
Apesar do caixa combalido e sem fazer promessas, Almas afirmou que trabalha para concluir três obras de grande porte: a alça do Viaduto Augusto Franco, elevado entre a Avenida Brasil e a Praça Antônio Carlos; um viaduto no Poço Rico, na altura do Tupynambás; e o ginásio poliesportivo municipal. “Mesmo com as dificuldades, buscamos entregar algumas obras até o final do nosso mandato. Caso não ocorram movimentos diferentes na economia, temos, praticamente, a garantia de que isso vai se realizar ainda no atual mandato. Estamos trabalhando para concretizar estas obras.”
Almas ressaltou, no entanto, que outras intervenções urbanas tiveram sequência no período em que ocupa a cadeira de prefeito. “As obras de contenção de encostas continuam. Elas são muito importantes, pois outro grande problema que enfrentamos foram as fortes chuvas de dezembro e janeiro. Graças a Deus, apesar de termos tido problemas de alagamento, não tivemos um acidente grave com deslizamento de encosta. Isto se dá em função do trabalho desenvolvido e da atenção que temos para a questão mesmo nas dificuldades”, pontuou.
‘Zeladoria’ da cidade comprometida
Para além dos avanços em obras de grande porte, o prefeito Antônio Almas ressaltou as dificuldades nas ações de varejo, do cotidiano da cidade – o que ele chama reiteradamente de zeladoria -, por conta da crise financeira. Talvez, o reflexo mais visível disto aos olhos da população no último ano tenha sido os buracos espalhados por inúmeras vias da cidade. Durante a entrevista, o tucano admitiu tais ocorrências e revelou até que isto gerou questionamentos em sua própria casa. “Eu ando pelas ruas. Já até brinquei, lembrando uma situação ocorrida há pouco tempo em que minha esposa teve dois pneus furados por causa de um buraco. Tive reclamações em casa.”
O prefeito, no entanto, ponderou que o problema vai além da simples manutenção. “Quando a gente anda na rua e o asfalto está cheio de buraco, não podemos deixar de lembrar que temos uma malha asfáltica muito antiga. Se a gente for olhar o nosso asfalto, ele tem a marca deste envelhecimento. Ao longo do tempo, não tivemos planejamento que pudesse ser usado em momentos de crise econômica tão grave. Não há reservas. Então, temos que fazer algumas opções na saúde; na educação; e na assistência social, comprometendo esta zeladoria”, afirmou.
Críticas
Desta maneira, Almas se diz aberto a críticas, desde que permaneçam no limite da civilidade. “Desde que não falte respeito, as críticas são extremamente pertinentes. Não tenho dificuldades em lidar com isto. Como cidadão, eu percebo todas as dificuldades. Agora, quero garantir uma coisa ao juiz-forano: nós queremos servir Juiz de Fora. Temos as nossas dificuldades e nossas limitações, mas temos coragem e vontade de servir. Assim, não tenho problemas com críticas. Eu mesmo sou autocrítico.”
Apesar de aberto aos questionamentos, o prefeito revelou receio pessoal de ficar marcado por uma situação que fuja a sua alçada por conta das dificuldades financeiras agravadas pelos atrasos de repasses estaduais. “Isto é muito difícil como cidadão e como pessoa. Tenho dito que o que me fez retornar à política, como candidato a vice em 2016, foi exatamente aquilo que a minha atividade profissional como médico proporcionou: o respeito das pessoas. Perceber que, lá na frente, posso estar menor enquanto pessoa no que tange ao respeito da comunidade por conta da gravidade da crise econômica me chateia. Mas tenho certeza de que, mesmo nestas condições, as pessoas reconhecem que nós não fugimos do debate; que nós estamos nas ruas; e que a gente não tem problemas em enfrentar a situação.”
Greve de caminhões e reforma administrativa: marcos do 1º ano
Já no segundo mês à frente da Prefeitura, o prefeito Antônio Almas teve que enfrentar um desafio de proporções nacionais: a greve dos caminhoneiros de maio do ano passado. Para ele, aquele foi um grande teste para colocar em prática sua opção pelo diálogo como ferramenta política. “Foi o primeiro embate para quem já estava assumindo o mandato em um momento de grande dificuldade econômica, situação que também foi agravada naquele momento, pois a própria greve gerou uma perda de R$ 7 milhões para a cidade. Vivenciamos todo aquele processo de crise com a greve dos caminhoneiros, mas, graças a Deus, com o modo nosso de buscar a interlocução com a sociedade, conseguimos estabelecer soluções. Isto na base do diálogo, não só com o cidadão, mas também com os órgãos de segurança, de forma que a gente pudesse superar de uma maneira não tão grave quanto em outros locais aquele momento tão difícil no cenário nacional”, considerou o tucano.
Além da atuação na greve, Almas também destacou entre as principais ações de seu primeiro ano de mandato a reforma administrativa em implementação na Prefeitura, que, entre outros pontos, projeta uma economia de R$ 13 milhões até o fim de 2020 com o corte de cargos e de gastos com servidores comissionados. “A reforma administrativa traz em si não só a redução de cargos e a redução de custo da máquina. Ela traz ações que, a médio prazo, correspondem à melhora da gestão pública, como a criação dos gabinetes e intersetoriais.”
Para o prefeito, os gabinetes intersetoriais vão aprimorar a gestão pública municipal. “Estes gabinetes permitem a racionalização e a melhoria das ações públicas. Por outro lado, a reforma também traz um efetivo controle por parte da sociedade por meio da constituição da Controladoria Geral do Município, onde temos organismos que vão permitir, cada vez mais, que o cidadão tenha conhecimento total do que ocorre na Prefeitura e acesso às informações. Esta transparência já era uma marca do Governo do ex-prefeito Bruno, que estamos aprofundando”, avaliou o chefe do Executivo juiz-forano.
Relação com o ex-prefeito Bruno Siqueira é institucional
Durante a entrevista, o prefeito Antônio Almas reforçou que, apesar de dar continuidade ao projeto iniciado por Bruno Siqueira, sua gestão tem luz própria e trabalha para deixar a marca pessoal do atual chefe do Executivo. Assim, o tucano minimizou uma possível influência do ex-prefeito em seu governo, ressaltando que a relação com Bruno é institucional, assim como acontece com outras lideranças municipais.
“Agora, as decisões dizem ao prefeito Almas, que assumiu a Prefeitura e tem o seu toque pessoal. Com relação ao ex-prefeito Bruno e a todos os outros agentes políticos da cidade, estamos sempre abertos a ouvir e receber sugestões. Ele (Bruno), quando se sente à vontade para conversar conosco, nos liga e conversa. Eu não tenho esta pretensão de ser o dono da verdade. Tenho a pretensão de conversar com a cidade para construir melhores caminhos para ela. Isto também significa conversar com o ex-prefeito Bruno e conversar com o ex-prefeito Custódio (Mattos, PSDB), que são pessoas com quem sempre tive relações pessoais muito próximas”, considera o prefeito.
Assim como disse na ocasião de sua posse em abril do ano passado, Almas ressaltou que a marca pessoal que já implementou e pretende avançar é o foco no diálogo, a atuação social e o estreitamento nas relações com a sociedade. “O que posso destacar é a busca incessante pela participação popular e por estar junto à sociedade. Não ficar só no gabinete, mas ir em direção ao cidadão. Um exemplo disto é o projeto Bem Comum Bairros, em que deslocamos a Prefeitura durante uma semana para uma região ou um bairro, e lá compartilhamos todas as nossas ações com a sociedade.”
Prefeito diz não temer trabalhos da CPI dos ônibus
O prefeito Antônio Almas ainda falou de sua relação com a Câmara, destacando que deve confirmar o nome do novo líder do Governo na Casa já no período legislativo de abril. Disse ainda não ter receios de que a Prefeitura possa ser atingida pelos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito instalada no Palácio Barbosa Lima, a CPI dos ônibus, que apura possíveis irregularidades no cumprimento de obrigações previstas em contrato por parte das empresas concessionárias responsáveis pela prestação do serviço de transporte urbano. Tais concessionárias venceram processo licitatório concluído em 2016, ainda durante o primeiro mandato do ex-prefeito Bruno Siqueira – à época, Almas não tinha ligações com o comando da PJF.
“Não me incomoda. Tenho a certeza dos atos que foram realizados durante a administração no primeiro mandato do ex-prefeito Bruno, que conduziu todo o processo licitatório, com relação ao transporte coletivo. Tem aquele velho ditado: ‘quem não deve, não teme’. Assim, tenho tranquilidade”. O tucano foi além e não fez nenhuma condenação à instalação da CPI.
“Penso que qualquer denúncia tem que ser apurada. Aproveito para dizer ao cidadão de Juiz de Fora: o prefeito tem toda a responsabilidade de fazer suas relações de forma republicanas. Mas gostaria de salientar que eu não consigo ter a certeza dos atos de 15 mil funcionários da Prefeitura. Porém, se houver qualquer deslize que chegue ao prefeito, ele será apurado. Isto é o mínimo que eu posso fazer pela cidade. A Câmara está cumprindo o seu papel constitucional de fiscalizadora. Se ela acha que possa ter algum problema, que vá a fundo, observe e chegue a suas conclusões. Se houver problemas, vamos buscar as formas de saná-los. Se não houver problema, o Legislativo vai ter que tornar pública a situação e reconhecer isto”, disse.