Grupo apartidário prepara lideranças políticas em JF
RenovaBR tem cinco selecionados para realização de ações públicas neste sábado na cidade; três admitem candidatura a vereador
A quase um ano das eleições municipais que acontecem em outubro do ano que vem, cinco aspirantes a lideranças políticas de Juiz de Fora selecionados pelo RenovaBR preparam uma série de ações na cidade, como parte do programa de formação do projeto (ver arte). Três deles já admitem lançar seus nomes como candidatos à Câmara Municipal já em 2020, na esteira de fenômeno observado no processo eleitoral do passado, quando, ao lado de outros movimentos, escolas e organizações suprapartidárias que propõem a renovação política, o RenovaBR contribuiu para o surgimento, a potencialização e a eleição de nomes para cargos legislativos país afora e tem, entre seus ex-alunos, um senador e dez deputados federais eleitos.
Diretor de seleção do RenovaBR, Rodrigo Cobra explica que as atividades que serão desenvolvidas pelos selecionados em Juiz de Fora integram uma série de avaliações do curso de liderança promovido pela organização que, em um primeiro momento, reuniu cerca de 1.400 alunos em todo o país. “Vamos acompanhar as ações no sábado para identificar se os alunos estão realizando o que foi planejado. Isto vai pesar na avaliação para a formação destes alunos. Ao final do curso, os melhores vão ser selecionados para participar de um treinamento mais aprofundado no ano que vem. É um treino para demonstrarem o aprendizado deles nas disciplinas de comunicação política, de liderança e de desafios municipais”, explica, ressaltando que não há um quantitativo de quantos irão ser chamados para o próximo curso ou mesmo um objetivo de quantos formados irão se lançar candidatos nas próximas eleições”, afirmou, lembrando que os selecionados já passaram por aulas on-line.

Organizações preenchem vazio deixado por legendas
Para um grupo de especialistas ouvidos pela Tribuna, tais grupos contribuem para a discussão política do país, na medida em que preenchem um vazio deixado pelos partidos, devido ao desgaste decorrente da crise política nos últimos anos. “Dessa forma, eles possuem o objetivo de promover o engajamento de seus seguidores, tendo em vista que é muito importante que em uma sociedade democrática seus cidadãos sejam proativos politicamente para cobrar e fiscalizar os governantes, criando uma cultura cívica”, afirmam de forma conjunta, os cientistas políticos Renato Hayashi, Aline Santa Cruz, Carolina Martinelli, André Régis e Mylena Santos, em resposta encaminhada à Tribuna.
Para o quarteto, que assina estudo intitulado “Renovação Política ou Camuflagem Eleitoral? Um raio-X da ‘nova’ política brasileira”, o crescimento de tais movimentos e organizações tem efeitos colaterais. “A forma com que os partidos têm perdido sua importância é perigosa para a democracia, pois tradicionalmente são eles que deveriam exercer a função de dar formação política para a população, para criar uma identidade com seus simpatizantes, e ser um elo entre a sociedade civil e os governantes. Desta maneira, eles atuam como ‘guardiões’ da democracia, e sua desmoralização pode acarretar em uma instabilidade no sistema democrático ao permitir a ascensão de grupos anti sistêmicos”, consideram os especialistas.
Sobre o assunto, o conjunto de cientistas políticos reforçam: “A crise política e os escândalos de corrupção, principalmente decorrente das revelações da Operação Lava Jato, atingiram os principais partidos do país e terminaram por enfraquecê-los por eles não terem tido a capacidade de se renovar e de fazer uma autocrítica. Essa polarização e o desgaste dos partidos tradicionais geraram vácuos na escala ideológica, abrindo uma janela de oportunidade para esses movimentos, principalmente por não se utilizar do termo ‘partido’, desgastado entre os eleitores, apesar de atuarem como tal.”
Atuação como ‘partido político informal’
Recentemente, após posicionamento da deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) na votação da reforma da previdência na Câmara dos Deputados, contrária à orientação partidária, a principal liderança pedetista no país criticou o vínculo da parlamentar com grupos como o Acredito, Renova, Raps. “Ninguém pode servir a dois senhores”, afirmou Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT nas eleições do ano passado, em postura crítica ao fato de Tabata ter votado favorável ao texto da reforma à revelia da orientação partidária contrária ao texto. Na prática, Ciro quis insinuar que a parlamentar mantinha fidelidade aos grupos que ajudaram em sua ascensão política e eleitoral, em detrimento do partido que acolheu sua candidatura.
Conciliação
Os quatro especialistas ouvidos pela Tribuna concordam que tais grupos ditos suprapartidários atuam como uma espécie de partido político informal. “Os parlamentares eleitos por esses movimentos, precisam conciliar sua atuação política entre a orientação partidária e sua liderança do movimento, tendo em vista que precisam seguir a orientação do partido nas votações, mas também tem que prestar contas ao seu movimento, deixando-os em situação delicada”, diz texto elaborado pelo grupo à pedido da Tribuna.
Como exemplo, os cientistas políticos citam o fato de o movimento Acredito, antes da filiação de seus líderes, ter enviado uma carta de independência para os partidos pelos quais suas lideranças iriam disputar as eleições. “Apesar disto, este acordo não foi cumprido pelo PDT, pois foi observada a retaliação do presidente do PDT à deputada Tabata Amaral, ameaçando-a de desfiliação por não seguir a orientação do partido, mesmo ela alegando independência. Acreditamos que esse seja uma assunto delicado e que continuará acarretando atritos entre os representantes dos movimentos com seus partidos escolhidos.”
Diretores rechaçam rótulo de ‘movimento político
O diretor de seleção do RenovaBR, Rodrigo Cobra, rechaça o rótulo de movimento suprapartidário e qualquer ambição política eleitoral do grupo, que se apresenta como uma escola de formação de novas lideranças políticas. “Nosso objetivo é a formação e com a qualificação destes alunos para eles competirem da melhor forma possível no ambiente político consolidado. Uma pessoa comum precisa saber como fazer uma campanha, entender os problemas municipais e se portar como líder. Nosso objetivo é o dar melhores condições de competição a estas pessoas. A partir do momento que acaba o curso, essas pessoas viram ex-alunos”.
Conforme levantamento feito pelo “Congresso em Foco” após as eleições do ano passado, tais organizações suprapartidárias mantêm ou mantiveram vínculos com 29 deputados federais e quatro senadores eleitos, levando-se em consideração apenas parlamentares federais. Entre os eleitos, nove grupos estão representados: Agora!, o RenovaBR, o Livres, o Nós, o Ocupa Política, o Muitas, o Vote Nelas, a Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (Raps) e o Movimento Brasil Livre (MBL).
O melhor desempenho eleitoral foi obtido pelo Raps, que tem vinculação com 19 parlamentares federais eleitos no ano passado. Segundo a própria organização, financiada com base em doações de pessoas físicas e jurídicas sem fins lucrativos, seu objetivo central é o de “contribuir para o aperfeiçoamento da democracia e do processo político brasileiro”. “Para isso, atuamos na formação, apoio e desenvolvimento de líderes políticos, com e sem mandatos eletivos, de diferentes posições político ideológicas, dispostos a dialogar e colocar as diferenças de lado”, afirma nota encaminhada à Tribuna. Desta maneira, o Raps evita o rótulo de “movimento”. “Não temos somente pessoas que pensam da mesma maneira.” Assim, a organização afirma não ter bandeiras políticas específicas ou qualquer tipo de posição ideológica.
Entidades dizem que não influenciam atividades parlamentares
Neste sentido, o Raps reforça que não tem por objetivo influenciar ex-alunos que se elegeram parlamentares, mas, “qualificar a política”. “Para dar um exemplo concreto, um de nossos últimos encontros foi sobre mudança do clima, um assunto caro para a organização.” Assim, a organização garante que “não tem qualquer ingerência sobre os votos de seus membros e nenhuma pretensão de substituir os partidos políticos”. “Pelo contrário, entendemos que os partidos são fundamentais para o vigor da nossa democracia.”
Rodrigo Cobra reforça que a entidade não tem qualquer tipo de ingerência sobre a atuação parlamentar e política de seus ex-alunos. “Nosso objetivo é formar novas lideranças políticas. Não temos bandeiras ou causas. Como uma escola, queremos dar a melhor formação possível. Temos pessoas de todas as ideologias e todos os partidos. Entre 31 mil inscritos para atual edição do curso, tivemos inscritos dos 33 partidos. Entre os 1.400 selecionados, temos integrantes de 30 partidos e 40% deles nem partido tem.” Cobra reforça ainda que a formação de novas lideranças é financiada por doações. “São mais de 500 pessoas físicas entre os doadores que foram se acumulando ao decorrer dos dois últimos anos.
Outra que também refuta o rótulo de movimento político é a Fundação Lemann, que, nas eleições passadas, viu quatro de seus ex-alunos eleitos deputados federais. “Não influenciamos, nem financiamos ou apoiamos candidaturas. Nosso trabalho principal é investir em gente para que o Brasil seja um país mais igual e com oportunidade para todos. Nosso maior foco é em educação pública. Também temos programas para profissionais que queiram mudar o Brasil. Oferecemos bolsas de pós-graduação em universidades internacionais e formamos uma rede de líderes que troca informação e se apoia nesse objetivo de transformar o Brasil. São 700 pessoas nessa rede. Ano passado, uma pequena parcela desse grupo se candidatou a cargos do legislativo. Nós não apoiamos, financiamos, nem tivemos qualquer envolvimento com essas campanhas”, afirma a organização por meio de nota.