Athletic se torna a maior paixão de morador de São João del-Rei
Carlos Henrique, que viaja o Brasil para acompanhar o Esquadrão, sonha com Série A
Para aqueles que se dedicam de corpo e alma ao clube de suas cidades, a paixão se torna mais do que uma expressão de apoio – é um vínculo que se entrelaça com trabalho, pessoas e cultura do município. Em São João del-Rei, Carlos Henrique Carvalho, de 34 anos, é um desses exemplos. O comerciante tem, em sua loja de acessórios de celulares, diversas camisas do Athletic – algumas autografadas por jogadores. Mais que isso, ele vende seus produtos para jogadores e torcedores, além de já ter rodado o Brasil para acompanhar o Esquadrão.
Foi assim que “CH”, como é conhecido, virou um torcedor símbolo do Athletic, reconhecido na cidade pelo seu fanatismo. A Tribuna esteve em São João del-Rei e visitou a loja do são-joanense dias antes da estreia do clube na Série C do Campeonato Brasileiro. Nesse primeiro jogo, o alvinegro venceu o Caxias, fora de casa, por 1 a 0, e assumiu a liderança da competição. O próximo compromisso é em casa, contra o Remo, no sábado (27), às 19h30.
“Muito gratificante por ser da cidade”
O Athletic, fundado em 1909, ficou 49 anos sem participar de competições profissionais entre o final do século passado e as primeiras décadas do atual. A agremiação só voltou em 2018 para a disputa da Segunda Divisão do Campeonato Mineiro – equivalente à Terceira Divisão estadual. “Também ficamos muito tempo sem campeonato amador, faltava algo na cidade. Decidi ver o primeiro jogo do Athletic por curiosidade, e já foi logo uma vitória por 3 a 0 contra o Patrocinense. A partir daí, começou a paixão”, conta CH.
No primeiro ano após o retorno, a equipe subiu para o Módulo II. Já em 2020, chegou à elite do futebol mineiro. Dois anos depois, participou da Copa do Brasil e foi campeão Mineiro do Interior. Já em 2023, disputou a Série D e conseguiu o acesso para a Terceira Divisão nacional. “Ninguém imaginava que o Athletic teria essa ascensão tão rápido. O projeto foi muito bem montado, e é muito gratificante poder acompanhar, ter uma ligação com o time da sua cidade e um convívio com os torcedores”, diz o comerciante.
Além do fortalecimento de vínculo com a população, CH enxerga que, por São João del-Rei ser uma cidade relativamente pequena, o contato com diretoria e jogadores também é próximo. “Falamos com eles sobre o time, damos alguns palpites, e eles são super abertos. Essa ligação é muito boa e faz a diferença. Não fomos acostumados a torcer de berço, sempre torcemos para times do Rio, mas, agora, todo mundo se une em prol da equipe”.
Com o Athletic onde ele estiver
Durante esses cinco anos e meio desde o retorno, CH já esteve em diversas cidades para acompanhar o Athletic. “Quando vejo de casa, fico com coração apertado. Então, sempre tento ir. Já fui para o Rio de Janeiro contra o Vasco em um amistoso e para Brasília, contra o Brasiliense. Rodei Minas Gerais, em cidades como Belo Horizonte, Pouso Alegre, Tombos, Sete Lagoas”.
Nessas aventuras, quem o acompanha é a esposa, Daiana Carvalho. “Aprendi a torcer com o Athletic e com ele, vou acompanhando com a minha família e participando dessa loucura. Aprendendo aos poucos, sabendo o que cada jogador está fazendo, dou palpite também. É uma felicidade para todos, a cidade vem junto. Quero continuar indo sempre que puder em todos os jogos”, afirma Daiana. A família se completa com o filho Diogo, de 18 anos, também torcedor, e Davi, de 13, que joga na base do clube da cidade.
Quando as partidas são em São João del-Rei, o movimento da cidade fica intenso, relata o torcedor. “Todo mundo passa com a camisa em dia de jogo. Eu já acordo e me visto com ela, para entrar no clima. Vira meu uniforme de trabalho e às vezes até fecho a loja mais cedo para chegar com calma no Estádio”.
Melhora na estrutura e expectativa
No momento, o Athletic realiza seus treinamentos em um clube da cidade, que se tornou um centro de treinamento parcial para a agremiação. Mas, a tendência é que ainda esse ano tenha um CT próprio com quatro campos, além de um Centro de Excelência. “Já estão construindo, e pelo que vi, é gigante. Tem tudo para ser uma das melhores de Minas Gerais. Essa estrutura chama jogador, é fundamental para trazer atletas renomados”, analisa CH.
A construção desse CT só foi possível, na visão do torcedor símbolo, pelo Esquadrão ter se tornado Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em 2021. “Só tivemos melhorias. Os atletas têm mais conforto em hospedagem, viagem, alimentação. Trouxe profissionalismo, sem dinheiro não se faz futebol”
Série B em 2025?
Como não poderia ser diferente devido ao rápido crescimento, o Athletic tem animado a torcida. CH quer que o time esteja na Série B no próximo ano. “Estou com a expectativa alta, acho que podemos brigar pelo acesso. A volta do Roger (treinador) foi fundamental, ele tem experiência na Série C, sabe como é. Estamos com ótimos zagueiros e atacantes, estou cobrando da diretoria meio-campistas”.
Apesar da ambição, o lugar que o time chegou já é motivo de orgulho. “É gratificante ligar a televisão e ver o escudo do Athletic onde víamos os gigantes do futebol brasileiro. É o símbolo da nossa cidade estampado nos principais canais do Brasil”, elogia o comerciante.
Futuro do Athletic
“Se lá atrás o Athletic acabou, agora não acaba mais”. No entendimento de CH, a torcida do time mineiro está começando a mudar, com o clube podendo ser a primeira paixão dos torcedores. “Antes, as pessoas não nasciam torcendo pelo Athletic, e sim para times do Rio ou outros de Minas, porque o nosso não estava jogando. Hoje, já nascem sabendo. São João precisava disso, uma atração para a cidade e família, porque sempre teve bons jogadores, como o Thiago Galhardo e o André Luiz”.
Para os próximos anos, o torcedor coloca como meta estar cada vez mais presente. “Estarei sempre apoiando. O Athletic é um dos amores da minha vida, passei para os meus filhos. Faço questão de levar isso para eles, quero que torçam para sempre. No máximo, em cinco anos, estaremos na Série A do Campeonato Brasileiro. Seria a melhor sensação do mundo”, projeta o são-joanense.