Altamente competitivas

QUEIMADA
A diferença entre brincadeiras e modalidades esportivas sempre foi muito tênue. Jogos criados de forma lúdica viram competições formais quando estabelecidas regras e determinadas maneiras padronizadas de disputar provas. É o que vem acontecendo com uma das mais populares atividades das crianças e adolescentes brasileiros: a queimada.
Em Juiz de Fora, a modalidade – que por aqui só é disputada no naipe feminino – faz parte do atual formato dos Jogos Intercolegiais, este ano completando sua vigésima edição, desde a primeira disputa, e está entre as mais procuradas pelas escolas. Ao lado do futsal e do futebol, a queimada é sempre um dos esportes mais disputados, tanto no infantil (atletas de 12, 13 e 14 anos) como no juvenil (jogadoras de 15, 16 e 17 anos), diz o chefe do Departamento de Fomento a Políticas de Esporte e Lazer da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), Cláudio Esteves, responsável pelo certame estudantil local.
Com o tempo, a brincadeira da qual quase toda criança brasileira já tomou parte, ganhou ares de modalidade esportiva organizada. Um conjunto de regras foi sendo estabelecido ao longo do anos. Essas normas e regulamentação fomos criando. Buscamos aqui, ali, usamos a experiência de outros anos e estabelecemos um jeito de organizar e padronizar as disputas, explica Esteves.
Mas, a essência da transformação de uma atividade puramente lúdica em prática competitiva está mesmo nos praticantes. Jogadora da Escola Estadual Clorindo Burnier, que domina a modalidade tanto no infantil como no juvenil há três anos nos Jogos Intercolegiais, Gabriela Helena, 17 anos, explica a diferença entre a forma lúdica e as disputas para valer da queimada na competição local. Jogo desde muito pequena. Mas, na brincadeira, com amigas. Aqui na escola comecei a disputar a modalidade desde 2005. É bem diferente. Só de estar em uma equipe, ter treinos… você sente isso. Há regras, com as quais você tem que saber jogar e respeitar para não ser punida. Tem que ter inteligência na hora da competição, diz Gabriela.
Técnica e tática
Na visão do professor Marcos Constant, responsável pela queimada no Clorindo Burnier ao lado da professora Rosane Barreto, seus times têm sucesso graças a uma combinação de fatores que não incluem a força física. Trabalhamos a modalidade nas aulas de educação física e vamos vendo quem tem aptidão. Não necessariamente as mais fortes. Mas, posso dizer que tenho ajuda, pois a maioria delas também treina handebol, o que desenvolve aspectos como o arremesso e a movimentação rápida, explica.
Para Rosane, ex-jogadora de queimada da Academia de Comércio, as jogadoras do Clorindo vêm tendo sucesso nos Intercolegiais pois prestam atenção em outros aspectos do jogo e não só nas eliminações de adversárias. Tem toda uma parte tática, na qual elas devem reagir de acordo com o momento da partida. Treinamos isso bastante. Elas são muito focadas, elogia.
Disputa estadual em 2011
Este ano, apenas cinco instituições de ensino vão disputar o torneio de queimada estudantil municipal, todas com equipes no juvenil e no infantil. Estarão em quadra as escolas estaduais Clorindo Burnier, Deputado Olavo Costa, Teodoro Coelho e Batista de Oliveira, além do Colégio dos Jesuítas, que estreia na modalidade nos Intercolegiais de Juiz de Fora e será sede das disputas, marcadas para o dia 29 de outubro, encerrando a competição escolar. Por causa dos Jogos Estudantis de Minas Gerais (Jemg), tivemos que deslocar a queimada e o futebol para o segundo semestre, já que estes não faziam parte do programa da disputa estadual. Então, houve a greve das escolas estaduais e municipais, além de termos uma janela mais complicada de calendário nesse período do ano, e acabamos prejudicados na participação das demais instituições de ensino, explica Esteves.
A predominância das escolas públicas na queimada, para Cláudio, é explicada pela facilidade da prática da modalidade. É um esporte de baixo custo: você precisa de uma bola. Só. O espaço é adaptável, e o número de jogadores também, além de quase toda a criança estar familiarizada com ele. Então, realmente é bem fácil de praticá-lo, sejam quais forem as condições, considera.
Nasce uma equipe
Pela primeira vez participando do torneio de queimada dos Jogos Intercolegiais, a equipe do Jesuítas nasceu apoiada na experiência de jovens vindas das escolas públicas. Sempre trabalhamos a modalidade da segunda à quinta série do ensino fundamental de forma lúdica. Mas, esse ano, o colégio iniciou um projeto de bolsistas vindos para cá da rede pública de ensino, para estudar à noite, no ensino médio. Decidimos oferecer a opção da prática da queimada às meninas, e elas toparam na hora. Identificamos potencial e resolvemos entrar pela primeira vez na disputa. O fato até integrou mais o pessoal da noite com o da manhã, turno no qual a gente teve várias meninas interessadas em jogar e que hoje fazem parte do time, conta o professor de educação física do colégio e treinador da queimada, Henrique Mancio.
Entusiasta da entrada do Jesuítas no torneio de queimada, Meluza Conceição, 16 anos, é uma das meninas que chegou à instituição através do programa de bolsas – que além da vaga para frequentar as aulas dá aos participantes uniformes, material escolar e lanche. Vinda da Escola Municipal Arlete Bastos, a jogadora pode ser considerada a mais experiente do grupo. Não me considero uma líder, mas é bem legal participar do nascimento de um time. Já estou ansiosa para jogar com minhas novas companheiras, deseja a jovem, dona de um potente arremesso. Não é só força, é técnica também, explica.