Projeto no Nova Califórnia trabalha a integração social de jovens por meio do futebol

Programa é comandado por ex-treinador de Tupi e Tupynambás, colecionando atletas profissionalizados ao redor do país


Por Gabriel Silva, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

20/12/2020 às 07h00

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Projeto auxilia a transformação da vida de dezenas de jovens no Nova Califórnia e região (Foto: Fernando Priamo)

Os sonhos de diversos garotos do Bairro Nova Califórnia, na Cidade Alta, ganham novo estímulo com o projeto social realizado há oito anos no campo de futebol do bairro. No gramado da Rua Otília de Souza Leal, 214, ser jogador de futebol profissional é um objetivo não muito distante para os comandados de Antônio Marcos Lima, treinador, ex-jogador e exemplo de vida para pelo menos cem atletas mirins.

Os treinamentos são completamente gratuitos e integram jovens entre 5 e 20 anos, seja do próprio bairro ou de regiões vizinhas ao Nova Califórnia. Em contraste com a falta de apoio financeiro, o trabalho enfrenta as adversidades e reserva belas histórias, a começar pela do próprio treinador e idealizador.

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Marquinho passa sua vivência esportiva, erros e superações pessoais como exemplo aos jovens (Foto: Fernando Priamo)

Vício e volta por cima

Antes de conhecer a obra, é necessário compreender o autor. Marquinho, como é conhecido pela comunidade do Nova Califórnia, auxilia meninos a trilharem um caminho que ele mesmo percorreu há 25 anos. Jogador talentoso na adolescência, o juiz-forano passou por Sport Club Juiz de Fora e Tupi até chegar à equipe sub-20 do poderoso Fluminense. “Na época, todo mundo dizia que eu era uma promessa”, lembra.

Mesmo chegando próximo, a profissionalização não veio, segundo Marquinho, influenciada pelo vício em cocaína. “Com 13 anos, quando eu jogava no Sport, um garoto levou cocaína e a gente usou. Com 17 anos, eu era viciado”, conta. Se a carreira como atleta foi à lona com o vício, uma nova oportunidade surgiu quando Marquinho teve sucesso na reabilitação, há 20 anos. De jogador, ele passou a treinador, ainda dentro do futebol, paixão desde a infância.

Início do projeto

“Eu vi o bairro crescendo e imaginei: ‘tanto menino crescendo. Não pode acontecer com essas crianças o que aconteceu comigo’. Foi quando eu criei o projeto”, recorda o idealizador e treinador. Na medida em que o tempo foi passando e mais alunos foram sendo apadrinhados, a necessidade de formação técnica aumentou, gerando a primeira aparição profissional de Marquinho no Tupynambás, em meados de 2012.

Desde então, o treinador ainda passou pela Inter Academy Base Brasil, a escolinha ligada à Inter de Milão (ITA), e também pelo Tupi, auxiliando na formação do elenco vitorioso do sub-20 carijó de 2018 e 2019. “No início, (o projeto) foi mais para integração social. Para não deixar os meninos entrarem nas drogas. Mas como eu trabalho com futebol e tenho bastante moral no cenário, eu consigo encaixar os meninos nos lugares”, orgulha-se o treinador.

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Marquinho passa sua vivência esportiva, erros e superações pessoais como exemplo aos jovens (Foto: Fernando Priamo)

Crias do Nova Califórnia

Entre os garotos que tiveram parte da formação de maneira gratuita no projeto do Nova Califórnia, o sucesso mais recente é de Max Alves, juiz-forano que recentemente assinou contrato profissional com o Flamengo. Mas o meio-campista não é o único que ganhou destaque após ser orientado por Marquinho no bairro da Cidade Alta. O treinador se orgulha por ter representantes do projeto em outros estados brasileiros, além de atletas que atuam em países estrangeiros, como Polônia e Portugal.

O goleiro Wellington Santana, destaque do Porto Velho Esporte Clube, de Rondônia, treinou por dois anos no projeto social antes de conseguir espaço em um clube profissional. “O Marquinho sempre me ajudou. Mesmo quando eu queria parar de jogar, ele sempre estava me incentivando a continuar e a não desistir. Por isso, eu o considero como pai”, conta o atleta que vive um momento especial, tendo sido campeão rondoniense, título inédito para o seu clube, e ainda comandando a melhor defesa do campeonato.

Outro dos destaques é o volante Igor Siqueira, de 17 anos, jogador do sub-17 do Sport Club Recife (PE) que trabalhou com Marquinho no Nova Califórnia para manter a forma durante o período de paralisação das atividades em Pernambuco, em virtude do coronavírus. “O projeto é muito importante na comunidade do Nova Califórnia, porque vários adolescentes têm um sonho de poder se tornar um jogador e o projeto faz com que eles não percam essa vontade”, avalia o meio-campista.

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Apoio por sobrevivência

Há alguns meses, quem passa pela Rua Otília de Souza Leal se depara com um outdoor do projeto social com os dizeres “aceitamos doações”. O trabalho do técnico Marquinho sobrevive com ajudas voluntárias de pessoas que participam ou não do projeto, para suprir a necessidade de materiais para os treinamentos e também necessidades pontuais de alguns atletas. “Tem garoto que não tem nem passagem. O menino vem lá do Bairro Filgueiras e não tem passagem para voltar. Como que eu vou deixar voltar a pé? Não posso”, relata o comandante.

Em dias de jogos, Marquinho também se prontifica a custear alimentação para os meninos, mesmo que tirando dinheiro do próprio bolso. Por outro lado, segundo o próprio treinador, a recompensa é colhida diariamente. “Tem exemplo ali que o cara já casou, construiu família e vai lá no campo para conversar comigo e levar o filho para treinar. Isso é demais, não tem valor que pague”.

Àqueles que se interessarem em auxiliar a sequência do projeto, basta entrar em contato com Marquinho pelo número (32) 98841-5695.

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