Qual é o seu corre? Tricampeã do Ranking, Aline Barbosa concilia corrida com trabalho de esteticista
Tribuna inicia série na qual contará a história de dez corredores antes de cada etapa do Ranking de Corridas de Rua; primeira prova é a do Bahamas, neste domingo
Acordar às 5h30 para correr, trabalhar de 8h às 18h, ir para a faculdade às 18h30 e só chegar em casa à meia-noite, para no dia seguinte, praticar o esporte que ama, novamente, às 5h30. Durante os quatro anos em que cursou educação física, essa era a rotina de Aline Barbosa, 33, tricampeã do Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora e primeira personagem da nova série da Tribuna, a “Qual é o seu corre?”. A cada prova que integra a temporada oficial na cidade, uma história de vida será contada, rodeada pela paixão à modalidade, bem como os esforços necessários e as barreiras superadas, por exemplo, para conciliarem o esporte com outros trabalhos e afazeres. Neste domingo (19), a partir das 8h, acontece a primeira etapa do 35° Ranking, a 3ª Corrida do Bahamas.
A história de Aline com as corridas começa quando estava na quarta série do colégio, com cerca de dez anos. Ela participou de disputas de 100m e 200m rasos e conquistou o primeiro lugar logo na sua estreia em competições. Na sétima série, com 13 anos, sua professora de educação física, Zirlene (Santos), lhe inspirou a correr ainda mais. Porém, com a necessidade de trabalhar – como esteticista – o sonho foi travado. Foram anos realizando massagens e depilações e passando horas em pé, sem sentir a adrenalina dos campeonatos. Mas quando tinha 26, por um convite de uma cliente, Aline decidiu voltar a correr e, rapidamente, reacendeu sua paixão pelo esporte.
Nesse momento do retorno para a atividade física, além de trabalhar como esteticista, Aline cursava educação física. “Consegui bolsa na faculdade por ser atleta. Mas esse período foi muito tenso. Precisava conciliar isso tudo e como ainda não trabalhava por minha conta, tinha um horário certo a cumprir. Foi muito difícil adaptar o horário dos treinos”, conta. Após alguns anos, ela se tornou dona de uma empresa de estética e pôde focar ainda mais nas corridas, se sagrando tricampeã do Ranking. “Hoje, é mais tranquilo. Treino por volta de 6h30 e trabalho de 9h às 19h. À noite fico livre. Com a corrida tenho mais bem-estar e benefícios físicos e mentais. Traz uma sensação que é muito boa, não tem igual”.
“Correr é um privilégio”
Para que possa continuar no lugar mais alto do pódio, Aline valoriza o aspecto psicológico na mesma intensidade que o físico. “Devemos ter o controle da mente muito grande. O atleta precisa estar focado, concentrado ali. Busco separar a hora do treino e do trabalho, porque se não afeta o meu rendimento. Precisamos ter muita dedicação, os treinos são cansativos e pesados. Em vários dias fico cansada e preciso trabalhar mesmo assim, mas é o único jeito”, fala. Mesmo que reconheça os esforços necessários para se manter em alto rendimento, Aline não enxerga o esporte como um trabalho. “Acho que correr é um privilégio. Gosto de superar os meus limites, me conhecer e aumentar a competitividade”.
Assim como outros colegas da modalidade, Aline precisa arcar com os custos de inscrições, viagens, alimentação e academia. “As despesas são muitas, alguns não têm de onde tirar, isso nos limita muito. Lançaram esse ano o bolsa atleta, algo interessante, mas que precisa ser acessível a todos os esportes. Acaba que alguns possuem mais privilégio, até por conta de ter mais mídia, e a corrida não ter tanto. Acho que seria legal a Prefeitura isentar algumas inscrições, principalmente para quem briga por pódio. E quem sabe cobrir os gastos para quem precisa sair da cidade para disputar campeonatos”, opina.
Outro empecilho para que os corredores juiz-foranos possam atingir o alto desempenho é a falta de estrutura, de acordo com Aline. Ela realiza treinos diários em seu bairro, o Naútico, na Zona Norte de Juiz de Fora, além de treinos de velocidade na UFJF. “O problema é que precisamos nos preocupar com carros e pessoas que às vezes não nos respeitam. Falta segurança também, porque são várias pedras no chão com o perigo de se machucar. Tinha que ter outras pistas na cidade, porque corredores que moram longe precisam adaptar o horário de treino com o de trabalho, e mesmo assim, demoram muito para ir e voltar”, lamenta Aline.
Estreia e força para continuar
Após sete anos se dedicando às corridas, Aline pretende disputar, em 2023, sua primeira maratona. “Na questão do corpo, eu sempre soube que responderia. Mas na parte psicológica, acho que só agora estou pronta. São muitos quilômetros, tem que estar bem mentalmente”, acredita. Sua dúvida é se irá participar da prova de São Paulo ou de Blumenau, duas das mais conhecidas maratonas do país.
Nos próximos anos, Aline pretende continuar praticando o esporte diariamente, além de disputar novas competições. “Até os 40 anos, quero fazer um Iron(man Triathlon). Pedalar, nadar e correr em uma distância superior à do triathlon”, diz.
Outra meta de Aline é inspirar ainda mais atletas. “Algumas pessoas falam que criaram coragem de começar no esporte por causa de mim. Poder incentivar alguém a mudar de vida é muito legal. Falo que se Deus me permitir, vou correr até envelhecer.”
3ª Corrida do Bahamas: 1.800 participantes
A prova que abre a temporada do Ranking juiz-forano tem largada às 8h deste domingo (19) no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, no Bairro Aeroporto, Cidade Alta. Conforme a organização, são esperadas cerca de 1.800 participações entre a corrida principal, de 6,5km, o percurso sugerido para caminhada, de 3,5km, e a corrida infantil, programada para começar às 9h30.
A entrega dos chips foi agendada para ocorrer entre 6h30 e 7h45.
A Corrida do Bahamas é a primeira de dez etapas do 35º Ranking da cidade, que tem conclusão na última prova, curiosamente a Corrida do Bahamas Night Run, prevista para 25 de novembro.
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