Paixão pelo esporte ajuda paratleta a superar a depressão e a obesidade
Crystian Luiz, que irá participar da Corrida Camilo dos Santos, conta como a prática de exercício físico foi fundamental também para recuperar a autoestima
Há histórias que servem como inspiração para qualquer pessoa que as escutam. A de Crystian Luiz, de 45 anos, morador do Bairro Graminha, Região Nordeste, é uma delas. O paratleta possui uma jornada de superação que transcende barreiras físicas e emocionais: o esporte foi a âncora que o tirou da depressão e o impulsionou a superar a obesidade. Hoje, correr se tornou não só uma paixão, mas também um motivo para ser uma pessoa melhor com todos à sua volta, retribuindo a ajuda que teve de outros envolvidos com a modalidade.
Por todas as adversidades que superou, Crystian é o personagem da série original da Tribuna de Minas “Qual é o Seu Corre”, que conta a história de um atleta da cidade a cada etapa do Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora. Ele será um dos quase 3 mil participantes da 11ª edição da Corrida Camilo dos Santos, que acontece neste domingo (17), às 8h, com largada no Centro de Futebol Zico. A tradicional prova do circuito juiz-forano bateu recorde de inscritos, superando as 2 mil inscrições que a corrida teve em 2022.
Da obesidade à glória nas corridas
Há apenas alguns anos, em 2013, Crystian estava em um abismo emocional após sua avó e sua mãe morrerem em um intervalo de menos de três meses. A partir desse momento, começou a luta do paratleta contra a depressão, que o afastava dos amigos e da família. Ao mesmo tempo, sua saúde estava em perigo devido ao aumento de seu sedentarismo e a obesidade. “Só tinha vontade de dormir e nem queria acordar nessa época. Cheguei a pesar 140kg. Estava a ponto de não conseguir vestir mais minha cueca dentro de casa, tinha que pedir ajuda aos meus filhos”, relembra o pai de Maria Helena, de 8 anos; Isaac, de 17; e Matheus, de 20.
O aposentado, então, procurou ajuda, e foi no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) que voltou a ter contato com o esporte. “Sempre fiz musculação, mas no estado que estava, tinha parado. Retornei quando os psiquiatras e psicólogos do Caps me alertaram sobre a importância da atividade física no tratamento. Iniciei em oficinas de futebol e depois, em 2020, conheci o projeto JF Paralímpico, que estou até hoje, com muito apoio”.
Depois que retornou às atividades físicas, Crystian conseguiu escapar da negatividade que o cercava e abriu um caminho para restaurar sua autoestima. Apesar de precisar lidar com uma Discopatia Degenerativa do Disco – doença que causa dor e rigidez na coluna -, o paratleta participa de todas as etapas do Ranking, com sua autoestima de volta. “Ali você se depara com pessoas com a mesma lesão que você em graus maiores e menores, deficientes visuais e auditivos. Passa a aprender a se pôr no lugar dos outros, ver que a dor que você está sentindo pode ser pequena. Por exemplo, consigo correr sozinho, enquanto tem gente que necessita da ajuda do guia. Tudo isso te faz refletir, colocar numa balança, enxergar de outra forma”, declara. “Defino que o esporte é empatia e oxigênio”.
Hoje, com 98kg e uma vida saudável, ele realiza atividades de musculação, resistência, força e condicionamento na Arkadyas Academia, com acompanhamento especial. “Só posso ter impacto de leve a moderado, se não minhas pernas travam. Mas está ótimo, aprendi a me amar. Jamais imaginei que poderia dar uma entrevista contando minha história, pois fui debochado quando tinha 140kg, as pessoas questionavam até onde eu iria”, se emociona.
“Todos podem recomeçar”
Além das corridas do Ranking, Crystian vai disputar, no mês de outubro, em Juiz de Fora, o Jogos do Interior de Minas (JIMI) Paradesporto. “Procuro melhorar a cada dia. Hoje, já são três anos correndo, debaixo de sol e chuva, treinando dia e noite, conhecendo pessoas, fazendo amizades, pedindo conselhos e viajando. Já cheguei a disputar prova de 21km e vou continuar até o momento que o corpo não aguentar”, projeta.
Questionado sobre qual recado daria para as pessoas que ainda não praticam nenhuma atividade física, o paratleta reforça que a corrida salvou a sua vida. “Me sinto uma criança correndo aos 45 anos. Vou debaixo de chuva e relembrando quando era moleque, é a mesma sensação. E todos podem recomeçar, basta perseverança e força de vontade”.