Projeto social de Juiz de Fora trabalha o alto rendimento no futebol feminino
Villa Cruz realiza preparação multidisciplinar com 42 atletas de Juiz de Fora e região
Apesar de carregar a alcunha de ser o país do futebol, o Brasil chegou a proibir mulheres de praticarem o esporte na década de 1940, já que a modalidade seria “incompatível com a natureza feminina”. Tal restrição vigorou até 1979, e a prática foi plenamente regularizada apenas em 1983. Desde então, o futebol feminino vem crescendo no país de forma notável, a ponto de o Brasil ser o principal candidato a sediar a Copa do Mundo de 2027. Para que essa evolução acontecesse, foi necessário um trabalho de estruturação das categorias de base para a formação de novas jogadoras. É justamente nesse ponto que trabalha o Villa Cruz, projeto social localizado no Bairro Santa Cruz, Zona Norte de Juiz de Fora, que dá oportunidade a atletas da cidade e da região com uma preparação voltada ao alto rendimento, para que elas consigam chegar nos grandes clubes.
O Villa Cruz começou o seu trabalho há nove anos e rapidamente chamou a atenção das atletas de Juiz de Fora. Com o passar do tempo, a equipe passou a enfrentar times de cidades da região, obtendo resultados positivos. O bom desempenho também atraiu apoio as secretarias de esportes de outros municípios, como Bias Fortes e Santa Rita de Ibitipoca. A partir de parcerias com as prefeituras, o projeto passou a receber também jogadoras de outras cidades e, com isso, desde 2022, passou a promover seletivas em busca de talentos para focar no trabalho de alto rendimento.
“O nosso maior objetivo é fazer muito mais parcerias para poder oportunizar as meninas que têm planos e sonhos de se tornarem atletas profissionais (…). Elas geralmente tomam o Villa como referência para poder seguir dentro do seu projeto esportivo e chegar no sonho delas”, relata Bruno Silva, professor e coordenador do Villa Cruz.
Foco no alto rendimento
O projeto atende, atualmente, 42 atletas no núcleo de alto rendimento. Bruno explica que, a partir do momento em que a jogadora é captada, o foco do Villa Cruz é trabalhar os pontos negativos e aprimorar os aspectos positivos de cada uma. “Realizamos diversos tipos de trabalhos dentro da área que cada atleta precisa melhorar. Cada uma apresenta uma necessidade diferente e temos que modelar elas, no sistema que a gente utiliza. Umas são mais explosivas, outras têm um pouco uma dificuldade de domínio com bola, então a gente tem que aplicar bastante fundamento com elas, respeitando as necessidade de cada uma das jogadoras”, conta Silva.
Bruno também conta que, além do trabalho dentro de campo realizado para potencializar as atletas, o Villa oferece às alunas cuidados fora das quatro linhas. “A gente tem alguns convênios para cuidar das atletas. Todas elas têm direito a um fisioterapeuta esportivo, a um trabalho psicológico, caso elas precisem, porque mexer com essa pauta esportiva é muito intenso, e cada uma delas encara essa pauta com a sua própria vivência social”, afirma o coordenador.
O diferencial do projeto
Para Bruno, o trabalho multidisciplinar realizado pelo Villa Cruz é o principal diferencial do projeto com relação aos demais. “A gente trabalha fora da caixa, porque a maioria das instituições aqui de Juiz de Fora, dentro do segmento feminino, não trabalham com funcional na academia, que é o procedimento com a atleta para prevenção contra lesão”, avalia o professor do projeto.
Bruno também tem o bom ambiente dentro do Villa Cruz como algo que destaca o projeto. “Os trabalhos que são aplicados aqui, os fundamentos, o nosso método, todos eles são diversificados. Por causa disso, muitos alunos que passaram aqui, até mesmo que ultrapassaram a idade sub-20, acabam vindo aqui no CT, vêm rever os professores, porque gostam de estar aqui, de se envolver”, conta.
A ‘exportação’ de atletas
O Villa Cruz, como realiza o trabalho voltado para o alto rendimento com as atletas, tem como objetivo oferecer oportunidades. Para que elas tenham a chance de ir para grandes clubes, o projeto lança mão de parcerias para atrair olheiros das principais equipes do futebol brasileiro. “São parcerias que a gente geralmente faz no dia a dia, no decorrer da caminhada. É um trabalho que a gente conversa, faz o contato com o captador, o captador faz contato com o clube, que faz a liberação e, assim, o captador vem e faz a pré-avaliação do atleta”, explica Bruno.
Uma das atletas do Villa Cruz que teve experiência em um grande clube é Grazielle Gonçalves, de 18 anos. A meio-campista passou, em 2023, um período nas categorias de base do Fluminense, mas acabou não sendo aprovada e, por isso, retornou ao projeto. A atleta destaca a importância do trabalho realizado com ela. “O Villa Cruz foi muito importante na minha formação como atleta, porque é um clube unido, responsável com os atletas, fazemos treinos na academia e individuais para termos o melhor desempenho em campo”, afirma.
*Estagiário sob a supervisão do editor Gabriel Silva