Juiz-foranos são atingidos por bombas, gás lacrimogêneo e cassetetes no entorno do Maracanã
Festa pela final da Sul-Americana se tornou pesadelo para torcedores que foram ao Rio acompanhar a partida decisiva
Torcedores juiz-foranos que foram ao Maracanã para ver a final da Sul-Americana entre Flamengo e Independiente na noite desta quarta (13) vivenciaram momentos de tensão e violência durante a confusão antes e depois da partida. Como aconteceu em 98, o time argentino saiu vencedor no duelo com o Rubro-Negro. O empate de 1 a 1, no jogo desta quarta, garantiu ao “Rei de Copas” o bicampeonato da Copa Sul-Americana. No jogo de ida, em Buenos Aires, a equipe portenha havia vencido por 2 a 1. Os gols foram marcados por Lucas Paquetá para o Flamengo e Barco, de pênalti, para o Independiente, ambos no primeiro tempo.
A noite, que era para ser de festa, virou um pesadelo. Pedro Campos Matta, 27 anos, médico, que costuma assistir os jogos do Flamengo desde criança, conta que saiu de Juiz de Fora por volta das 16h para o Rio com outros 14 amigos de van. “Para começar, um clima de tensão logo na entrada. Na Avenida Brasil teve um arrastão na pista lateral. Assaltantes armados de fuzis renderam motoristas parados, roubando carros e objetos pessoais”, diz.
Eles conseguiram chegar ao Maracanã por volta das 19h, três horas antes do jogo. Ele já tinha comprado os ingressos pela internet, mas as entradas estavam com o pai de um amigo. “Depois que pegamos os ingressos, ele (o pai do amigo) foi assaltado e teve o celular roubado. Presenciamos atos racistas da torcida argentina e muitos torcedores rubro-negros sem ingresso gritando que iriam invadir. De repente, várias pessoas afrontaram os policiais e invadiram o estádio, quebrando catracas e grades de segurança. Calculo que pelo menos uns mil torcedores entraram sem ingresso. Nisso a polícia tentou conter com spray de pimenta e bombas de efeito moral”, relata.
Segundo Pedro, pais de família com crianças de colo, mulheres, idosos e torcedores que estavam com ingresso desistiram de entrar por causa da confusão. “Foi cena de guerra, com bala de borracha, gente com pedaço de pau, pedra, foguete, sinalizador, todos entraram sem ingresso no setor Leste no Maracanã”, afirma. O médico diz que conseguiu entrar, mas foi alvo de spray de pimenta e sofreu seus efeitos tóxicos e amigos seus tomaram cacetadas de policiais. “Dentro do Maracanã, perdi as contas das vezes que fui ameaçado. Não houve clima de paz hora nenhuma. Não consegui aproveitar a partida para ver meu time do coração. Estava torcendo para o jogo acabar logo para estar em casa em segurança. Eu estou muito triste e acho que não volto mais enquanto isso estiver acontecendo”.
O designer gráfico Rubens Muller, 22 anos, também passou por maus bocados. Ele saiu de Juiz de Fora numa van com outros 17 amigos. “Foi uma experiência terrível”, relata ele, que chegou por volta das 19h no portão Leste para aguardar um amigo de Três Rios (RJ) que estava com seu cartão-ingresso. “Estava com mais três amigos, quando começou a confusão. Muitos torcedores invadiram o estádio e começaram a quebrar tudo, as catracas e os alambrados. Muita gente entrou sem ingresso. Teve confronto com a polícia, que jogou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para conter o tumulto”. Eles conseguiram entrar e, aos 43 do segundo tempo, ele e os amigos decidiram sair antes para evitar mais confusão. “Mas foi pior ainda. Descemos a rampa e decidimos ficar atrás do carro da PM imaginando que estaríamos mais seguros. Mas torcedores insatisfeitos com o resultado jogaram uma bomba bem do nosso lado. Fiquei com o ouvido zunindo por muito tempo. Daí os policiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo e também fomos atingidos, tive náuseas e fiquei com os olhos ardendo”, diz o flamenguista. Rubens relata que vai ao Maracanã desde 2013, mas nunca havia presenciado nada parecido. “Já vi vários clássicos. Ontem, por ser praticamente torcida única, não esperava nada disso. Foi pesado”, desabafa.