Adriano Mello é campeão nos 300km do Caminhos de Rosa
Ultramaratona é um resgate do caminho que teria sido percorrido por Guimarães Rosa enquanto escrevia ‘Grande Sertão Veredas’
No último domingo, o atleta carioca Adriano Mello, 47 anos, representou Juiz de Fora nos 300km da ultramaratona Caminhos de Rosa, que aconteceu entre os dias 6 e 9 de setembro, e foi campeão na categoria geral, após 55h14min54s de disputa.
A quinta edição do Caminhos de Rosa contou com duas provas de mountain-bike e sete de ultramaratona. Participaram 270 atletas de 14 estados brasileiros, além de argentinos, uruguaios e espanhóis. Nos 300km de corrida, sete atletas competiram, sendo duas mulheres. O percurso de Três Marias a Cordisburgo (MG), terra natal do escritor Guimarães Rosa (1908-1967), é uma adaptação do caminho feito em 1952 pelo autor enquanto escrevia o célebre “Grande Sertão Veredas”.
“Guimarães só teve uma experiência no sertão mineiro, que foi acompanhando a boiada por dez dias em maio de 1952”, contou André Ferreira, idealizador e diretor da prova. “Nós compramos uma fazenda no município de Curvelo, há 20 anos, e sempre recebemos pesquisadores para saber da noite em que Guimarães Rosa passou na casa. Em 2014, li o diário “A boiada”, mapeei o caminho que ele fez e coloquei a ultramaratona nesse trajeto.”
Mais 50
Adriano Mello diz conhecer as obras do autor, mas foi atraído mesmo pelo desafio. Em 2016, o atleta foi o terceiro colocado nos 250km, e em 2018, o diretor da prova aumentou o desafio, criando a prova dos 300km. Segundo Adriano, as condições do ambiente são as maiores dificuldades enfrentadas na competição. “É um lugar que tem muita poeira, que dificulta a transição do competidor e quase não tem vegetação. Não tem sombra, o calor é excessivo, a umidade é baixa. Não é uma prova de montanha, mas tem bastante elevação. O competidor vai perdendo resistência”, avalia.
Sem descanso
Para se preparar para as ultramaratonas, Adriano faz acompanhamento físico e pratica três a quatro vezes por semana, com pelo menos 35km a cada treino. Segundo ele, no dia da prova, o atleta é acompanhado por um carro de apoio, responsável pela alimentação e hidratação do competidor, e é permitido parar no km 160 para fazer curativo, tomar banho e descansar. Foi aproveitando esse momento, que o atleta liderou a prova.
“Dentro da prova você vê o seu desgaste. No meu caso, como sou muito resistente, não tenho muita necessidade de parar para descanso. Eu estava na frente competindo com outro, então parei somente no km 160 para descansar, tomei banho e dormi por 40 minutos. Acordei, comi e retornei como primeiro colocado e não dormi mais. A partir daí eu assumi a prova e fui o líder isolado”, conta. Ao final da prova, a sensação do campeão foi de realização e alívio. “Passa pela cabeça todos os treinamentos que você fez, todo o sacrifício que passou nos meses de preparação. É uma sensação única, de dever cumprido”, comenta.
O interesse de Adriano pela ultramaratona começou em 2016, quando foi pacer (aquele que dá ritmo) de outro atleta na ultramaratona BR 135+. “Eu nunca tinha corrido uma ultramaratona e gostei da prova. Fiz 103km, e o atleta não terminou. Eu fiquei com isso na cabeça e pensei: ‘vou voltar e terminar a prova’. Em 2017, voltei e fui o quinto colocado geral na competição.” A partir daí, o carioca acumulou várias conquistas. Em 2016, foi oitavo colocado geral na UAI Ultra dos Anjos Internacional, de 235km. No ano seguinte, foi o quinto colocado geral na ultramaratona ‘300, O desafio’, além de campeão na categoria 45/49 anos e décimo lugar geral nos 226km do Extremo Sul Ultramarathon.
Agora, Adriano se prepara para correr na semana que vem os 230km do Cassino Ultra Race e, assim, completar as sete ultramaratonas do Brasil. A competição acontece entre 19 e 23 de setembro, na Barra de Chuí (RS).
Tópicos: corrida