Ronaldo da Costa completa 50 anos, rifa réplica de Berlim e celebra a chegada da segunda filha
Sem a principal fonte de renda, recordista mundial na Maratona de Berlim busca ajuda com o sorteio de medalha do recorde mundial e conta os dias para o nascimento de Lis
Ídolo do esporte brasileiro, atleta olímpico e fundista recordista mundial, Ronaldo da Costa, nascido em Descoberto (MG) e que tem o Ranking de Corridas de Juiz de Fora como seu “xodó”, completa 50 anos de vida neste domingo (7) com a certeza de que vive e ainda passará por algumas das experiências mais intensas de sua vida. Bastou uma entrevista por telefone, aliás, para que o vencedor da São Silvestre de 1994 e primeiro corredor do mundo a completar uma maratona em ritmo inferior a três minutos por quilômetro (marca de 2h06min05s), em Berlim, 1998, se comover e, como se fosse necessário, pedir desculpas por se emocionar. Morando em Brasília desde 2012, Ronaldo será pai pela segunda vez e, sem sua principal fonte de renda por conta da pandemia do novo coronavírus, busca auxílio financeiro por meio de rifa de réplicas da medalha conquistada na capital alemã.
“Eu vivo hoje em dia viajando pelo país contando a minha história de vida em palestras. E minha esposa e eu tivemos um contrato com uma empresa cancelado por conta da pandemia, mandaram esperar isso tudo passar. Aí ficamos de mãos atadas. Temos que aguardar, mas existem contas para pagar. Ninguém estava preparado para essa pandemia”.
Veio, então, a ideia da rifa. “Eu estava com a programação de começar uma turnê pelo país em março. Faria treinões, e os inscritos receberiam uma réplica da medalha de Berlim. No dia 14 de março teve um evento em Recife, mas depois tudo foi cancelado por causa da pandemia. Estava com planos até novembro nessa turnê. Mas veio o coronavírus. Mas, como tenho as medalhas, pensei em pegar algumas para essas rifas. Através do Sílvio Boia, que conheço há algum tempo, fiz amizade com o Erick Brugiolo, que tinha pedido, antes, para fazer uma live comigo e se disponibilizou a me ajudar depois que soube da ideia. E graças a Deus tá dando certo. E no ano que vem vai ter a turnê. Depois disso, não mais”, conta o corredor.
Criada, então, a rifa on-line está disponível no site Rifa Tech, com links também fornecidos nas redes sociais do professor Erick Brugiolo (@erickbrugiolo). Cada bilhete custa R$ 10, sem limite de compra, até o sorteio, marcado para 15 de junho. “Serão cinco réplicas da medalha. Uma delas pelo site e as outras quatro por mim”, explica Brugiolo, que se prontificou a auxiliar Ronaldo mesmo sem conhecê-lo pessoalmente em ação que já considera um sucesso.
“A ideia de realizar uma live com o Ronaldo da Costa, no início da quarentena, foi aceita por ele logo no primeiro contato. Em momento algum me pediu algo em troca. Foi super espontâneo, receptivo, e essa simplicidade me despertou a vontade de ajudar ele ao máximo. Já temos 90 rifas vendidas, e o meu objetivo é chegar a 150. Mesmo porque o site já nos cobra essa taxa de R$ 1,50 por bilhete vendido”, esclarece Brugiolo. Outras informações sobre a iniciativa podem ser obtidas em contato com o professor de Juiz de Fora, pelo número (32) 99176-0502.
Lis, presente e felicidade
Ronaldo certamente não esperava um presente como o que está por vir em seu cinquentenário. “Por incrível que pareça, minha esposa Edileusa vai fazer seis meses de gravidez. Estamos tentando há sete anos, são oito de casados. Iríamos adotar um bebê, estava conversando com um amigo promotor, mas antes de eu assinar o documento, minha esposa engravidou. Será uma menina, Lis. E já tenho uma filha de 20 anos, Vitória. Tirando essa quarentena, estamos felizes e bem. Moro em um setor de chácaras, não tem muitas pessoas, e vou para o meio do mato correr”, revela Ronaldo, emocionado.
A gratidão transborda no aniversariante. Mas quando é questionado sobre a reciprocidade do país pelo que já conquistou representando uma nação, com status de ídolo mundial, o recordista titubeia. “Rapaz, vou chorar aqui. Me desculpa. Vamos chegando aos 50 e ficamos sensíveis a algumas coisas. Tenho muita gratidão a todo mundo que está colaborando comigo de alguma forma. Claro que podia ser muito mais pelo que já fiz pelo Brasil, mas infelizmente a vida é assim mesmo. O importante é galera que tá sempre me abraçando, sabe quem é o Ronaldo da Costa, uma pessoa do bem, honesta, graças a Deus. Se puder ajudar as pessoas, faço. De coração, sem querer nada em troca. O Erick mesmo, sem me conhecer pessoalmente, quis me ajudar. Isso é gratidão. Mas todos vamos sair dessa.”
‘Ele precisa de ajuda, mas não deixa de ajudar’
“Não conheço o Ronaldo pessoalmente, mas o acompanho durante a minha vida por todos os feitos dele. Ele é um ser humano fora da curva. O que já fez pelo esporte mundial, poucos no mundo conseguiram. Tanto que tem recordes até hoje. E continua sendo um ser humano espetacular. Ele precisa de ajuda, mas não deixa de ajudar as pessoas.” O relato de Brugiolo é facilmente comprovado.
No ano passado, Ronaldo decidiu rifar sua própria tocha olímpica, com a qual desfilou antes do início do Rio 2016, para angariar fundos com destino a duas instituições que ele ajuda no Distrito Federal.
“Chegou a quase R$ 10 mil. E a tocha, por incrível que pareça, ficou comigo, porque a pessoa que ganhou, meu cunhado, queria um tênis”, conta Ronaldo, sorrindo.
Mesmo em meio à limitação financeira, sem poder viajar, ele não deixou de buscar auxílio às crianças assistidas por instituições que conhece. “Meu lema é o social. Sou padrinho de três projetos aqui. Esses dias mesmo consegui 50 cestas básicas para um deles, que atende mais de 50 crianças. Sempre estou envolvido com essa galera de alguma forma. E quando tudo voltar ao normal, quero estar com esses meninos. É muita criança carente que não podemos abandonar”, destaca o fundista.
Berlim 2020
Até o fechamento desta matéria, a Maratona de Berlim desta temporada, inicialmente programada para 27 de setembro, está suspensa. Segundo a organização, ainda não há como precisar se o evento que tradicionalmente reúne participantes de todo o mundo irá ocorrer nesta temporada. Ídolo também dos alemães pelo recorde em 1998, Ronaldo apoia o cancelamento.
“Acho que neste ano não acontece mais nada. Eventos grandes, assim, vai ser difícil. É melhor cancelar, deixar para o ano que vem. Esse é o meu pensamento. O negócio é sério.”
Para amenizar a falta das corridas, seja pelo mundo ou em Juiz de Fora, Ronaldo vê uma solução paliativa. “O Ranking aí é meu xodó! E aos atletas daí, que fiquem em casa e usem a criatividade. Dá pra fazer muita coisa. Polichinelos, alongamentos, abdominais… basta um pequeno espaço de uma sala pra fazer algo. A questão é usar a criatividade.”
‘Não podemos ser egoístas’
Não fosse a pandemia, Ronaldo estaria, provavelmente, no momento desta leitura, comemorando com os amigos a data tão especial. Se o abala? “A quarentena, por um lado, foi boa porque eu pude refletir muitas coisas. Não podemos ser egoístas, mas pensar no próximo sempre. E vendo meus vídeos, as fotos de Berlim, por exemplo, mostram que todos podemos sair dessa, temos força para isso. Me deixa feliz.”