‘Educação financeira deve fazer parte da grade escolar’
Em tempos de crise, lidar de forma correta com o dinheiro é mais do que uma garantia para evitar problemas econômicos. É o caminho para continuar realizando sonhos materiais em meio à adversidade, conforme explica o escritor e educador financeiro Reinaldo Domingos. Fundador e atual presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), autor do livro “Terapia financeira” e responsável pela criação da metodologia DSOP (diagnosticar, sonhar, orçar e poupar), Reinaldo visitou escolas de Juiz de Fora esta semana, para falar sobre a necessidade do ensino para crianças, responsabilidade que, segundo ele, deve ser compartilhada entre família e instituições de ensino. Em conversa com a Tribuna, ele falou sobre como deve ser a relação de pais e filhos com o dinheiro, a necessidade de inserção do tema como disciplina na grade escolar e deu orientações sobre como se organizar no atual cenário econômico.
Tribuna – O que é ter educação financeira?
Reinaldo Domingos – É buscar qualidade de vida. A educação financeira permeia várias linhas de conhecimento como economia, sustentabilidade, cidadania e o comportamento. É uma busca pelo equilíbrio entre estes eixos para que as pessoas possam ter planos e condições de realizá-los. É necessário enxergar o dinheiro não como um problema, mas como uma ferramenta que possibilita o acesso a sonhos materiais. Para isso, as famílias e as escolas precisam criar novos hábitos e conversar com as crianças, para que possamos formar cidadãos educados financeiramente.
– Existe uma idade ideal para isso?
– A partir do momento em que a criança tem contato com o dinheiro, ela está apta para receber estas informações. Pode ser que ela tenha 3, 4 anos, não saiba ler e escrever, mas já entende que o dinheiro compra bala, chocolate, sorvete ou o brinquedo que ela quer. Quando a criança começa a entender que o dinheiro tem “força”, é este o momento que os pais podem fazer a escolha entre “deixar rolar” ou adotar um comportamento correto sobre como lidar com dinheiro. Se for a primeira opção, os pais continuam dando o dinheiro e permitindo que a criança gaste como quiser. Desta forma, cria-se um incentivo ao consumo e, mais tarde, quando o filho for cobrado sobre poupar, ele vai responder que não aprendeu. Nós queremos que seja feita a segunda opção, mas ela requer mais trabalho. É preciso reestruturar o hábito das famílias, fazer com que elas conversem sobre finanças, criem planos, e que os pais ensinem aos filhos que o dinheiro usado de maneira correta permite realizar sonhos. Por isso, é importante saber como poupar, investir e gastar.
– Qual é a importância de este aprendizado ser disponibilizado nas escolas como disciplina?
– O aprendizado deve ser iniciado em casa e ter uma complementação nas escolas para que seja fortalecido e aconteça de forma natural. A escola é o local onde a criança passa boa parte do tempo, por isso, a importância de que as instituições estejam estruturadas para oferecer este ensino. Várias escolas já oferecem em suas grades curriculares conteúdos de educação financeira, o que prepara os alunos a consumir de forma consciente. Entendemos que não é possível educar se não tivermos essas duas bases (família e escola).
– Como funciona a metodologia DSOP?
– Baseamos em quatro pilares: diagnosticar, sonhar, orçar e poupar para que haja mudança nos hábitos e na própria relação com o dinheiro. A pessoa deve compreender a sua situação financeira, traçar planos de curto, médio e longo prazo, saber quanto eles custam e poupar para poder realizá-los. A partir disto, é possível garantir o equilíbrio financeiro.
– Qual deve ser o conceito correto para mesada?
– A mesada não deve ser um incentivo ao consumo desenfreado, mas uma ferramenta para educação financeira. A família tem um papel decisivo no significado que a criança atribui ao dinheiro e na maneira em que ela vai administrá-lo futuramente. É importante que ela entenda que o dinheiro usado de forma correta permite a realização de sonhos, que é possível ter, mas nem sempre no momento em que se quer.
– O brasileiro é educado financeiramente?
– Não, porque não aprendemos sobre o assunto. Hoje somos 57 milhões de brasileiros inadimplentes, o que comprova a necessidade do ensino da educação financeira.
– Quais são as orientações para os consumidores neste momento?
– O primeiro passo é se livrar das dívidas. Parece complicado, mas este é o momento em que os credores oferecem as melhores condições para negociação. É importante quitar os débitos para evitar juros altos. Feito isso, um exercício interessante é realizar o diagnóstico da vida financeira por 30 dias, anotando tudo o que se gasta. Assim, você observa se tem algum consumo supérfluo que pode ser eliminado. Também é importante que a família defina planos de curto, médio e longo prazo, identifique quanto custam e quanto deve poupar para realizá-los. Isto ajuda a não cometer deslizes. Em seguida, planeje o orçamento: registre as receitas mensais, separe os valores definidos para os projetos da família e com o restante faça a adequação dos gastos.