Entrevista/ Marisa Ulhoa, gerente na Votorantim Metais em JF

Marisa: “Ainda existem empresas que têm preconceito, duvidam da capacidade” (marcelo ribeiro/22-06-16)
A diversidade de gênero na indústria, com foco na atuação feminina. Um tema espinhoso para a maioria das corporações começa a ser discutido por empresas interessadas em mudar o perfil de seu quadro de funcionários. Essa foi a missão dada à gerente de desenvolvimento humano e organizacional da Unidade Juiz de Fora da Votorantim Metais, Marisa Ulhoa, há 11 anos no comando do departamento. Na última quarta-feira, ela participou de um debate com alunos da Faculdade de Administração da UFJF e depois conversou com a Tribuna. A especialista apresentou números que comprovam a menor proporção de mulheres no ambiente corporativo e abordou questões como competências, oportunidades e desafios para quebra de paradigmas no mercado de trabalho. Formada em psicologia e mãe de dois filhos, Marisa também falou sobre a conciliação da carreira com a vida pessoal. A apresentação integra campanha da Votorantim, após a constatação de que o público feminino representa apenas 6% do seu quadro de funcionários.
Tribuna – Como você avalia a participação feminina na indústria?
Marisa Ulhoa – O percentual é baixo e se concentra no setor administrativo. Nós percebemos, por exemplo, que a participação feminina nos processos seletivos é menor do que a masculina. Ao analisarmos esta realidade nos questionamos se a mulher juiz-forana conhece as oportunidades que a indústria oferece, e então surgiu o projeto de ir a campo divulgar a nossa empresa e deixar claro que ela tem condições de estar e fazer carreira no setor. Estamos lutando para trazer a mulher para as mais diversas posições, pois competências nós temos de sobra.
– Quais são as vantagens da mão de obra feminina?
– Homens e mulheres têm habilidades diferentes, e todas elas são muito importantes no ambiente corporativo. No caso delas, a sensibilidade diferenciada, a empatia, a capacidade de liderança e de adaptação, a flexibilidade e a criatividade são pontos fortes. Nós estamos caminhando para a sociedade do conhecimento, que irá exigir cada vez mais dos profissionais a aplicação destas características. Se as empresas abrirem os olhos e contratarem mais mulheres, perceberão essa diferença positiva, pois muitas destas habilidades e competências são inerentes ao público feminino. Na minha experiência como mãe e dona de casa, eu vejo o tempo todo a necessidade de liderar, ser flexível e trabalhar em equipe, por exemplo.
– Quais são os desafios para a mulher em um ambiente predominantemente masculino?
– É preciso ser confiante para desempenhar bom trabalho. Além disso, como todo profissional, a mulher deve mostrar competência, comprometimento, ser participativa.
– Mas ainda há preconceito?
– No nosso país isso ainda acontece. Sabemos que há casos de preconceito, mas acredito que já evoluímos, e ainda temos muito o que caminhar. Iniciei a minha carreira na indústria em 1987, passei apenas por duas empresas, mas tive a sorte de nunca vivenciar uma situação desse tipo. E percebo que, naquela época, a inserção da mulher no mercado de trabalho era bem mais difícil do que hoje.
– O que mudou nesses quase 30 anos?
– Muitas mudanças vieram com o processo de globalização, e as empresas estão conectadas o tempo todo, conhecendo outras culturas e trocando conhecimento. Além disso, a própria luta da mulher aumentou a participação feminina no mercado de trabalho, na política e em outros setores, o que foi capaz de nos dar vários exemplos, ao longo desses anos, de que a mulher é capaz de atuar onde ela quiser.
– No Brasil, a diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo chega a 20%, conforme a Employee RH. O setor da indústria ainda reserva diferenças na remuneração?
– Se fizermos um análise global, sim. No nosso país ainda existe essa diferenciação. A luta para a inserção da mulher no mercado de trabalho é nova, e ainda existem empresas que têm preconceito, duvidam da capacidade e até mesmo consideram a questão da dupla jornada na hora de estabelecer a remuneração, pois não sabem se a funcionária, por ser também mãe e dona de casa, estará à disposição.
– O que é preciso para mudar para essa cultura?
– As empresas precisam se conscientizar que a mulher é competente, é capaz e que, independente da dupla jornada, tem habilidades suficientes para fazer uma carreira promissora, seja na indústria ou em qualquer outro setor.