Segundo sindicato, 90% dos trabalhadores dos Correios aderiram à greve na região
Ainda não há estimativa de qual será o atraso nas entregas, mas entidade acredita que o tempo de espera pode dobrar em razão da paralisação
No segundo dia da greve nacional, os funcionários dos Correios de Juiz de Fora fizeram uma manifestação para protestar contra perdas na remuneração dos trabalhadores e contra a privatização da estatal no Bairro Santa Terezinha. A estimativa do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postal, Telegráfica e Similares de Juiz de Fora e Região (Sintect/JFA) é de que 90% da categoria tenha aderido à greve em 127 municípios da região até esta quarta desde esta terça (18). Em razão disso, a população pode verificar atrasos nas entregas de encomendas. Apesar de ainda não haver estimativa exata, conforme a direção do sindicato, já estavam ocorrendo atrasos nos prazos, em função do afastamento de funcionários que pertencem ao grupo de risco para a Covid-19. Assim, a expectativa é a de que o tempo de espera possa dobrar.
A principal reclamação da categoria é a respeito da ação dos Correios sobre o Acordo Coletivo de Trabalho firmado em outubro de 2019, que teria validade até julho de 2021. A normativa teve seus efeitos suspensos por decisão do Supremo Tribunal Federal, que reduziu a validade do acordo para um ano, com vencimento em julho de 2020. Por meio dessa ação, conforme o Sintect, foram retiradas 70 cláusulas, que representam um prejuízo de até 60% na remuneração dos trabalhadores. Em entrevistas concedidas à imprensa nos últimos dias, o presidente da estatal, Floriano Peixoto Vieira Neto, afirmou que os benefícios estão sendo cortados porque a estatal não tem condições de mantê-los no momento de crise.
À Tribuna, o diretor de formação política e sindical do Sintect e presidente da Central Única dos Trabalhadores (Cut – Regional Zona da Mata), Reginaldo de Freitas Souza, afirmou que os Correios são a empresa estatal com menor piso salarial do país. “O que temos, além do nosso piso, são conquistas de décadas. Entre as perdas estão o adicional de risco, retirado no último dia 1º, ao qual entendemos que temos direito porque estamos expostos às intempéries do tempo, a mordidas de cachorros, atropelamentos, entre outros, e como os Correios estão em todo o território nacional, há companheiros que atravessam o Pantanal, rios, e não tem como ser diferente.”
Reginaldo comenta ainda que auxílios importantes, como o que atende filhos e dependentes com alguma deficiência também foram cortados. “Nosso salário é muito baixo, quem tem essa necessidade e não tem como pagar pelas terapias, médicos, ficou sem esse recurso, que era garantido em acordo.” Além desse, benefícios como o vale-cultura e o vale-peru – que garantia um pagamento extra no fim do ano, para incrementar a alimentação – também estão no pacote de cortes. Aumenta também o valor do plano de saúde a ser pago pelos trabalhadores. “Somando tudo, dá um decréscimo na nossa remuneração mensal de 60% para parte dos funcionários. Quem ganhava uma remuneração de R$ 3 mil, passa a receber algo como R$ 1.600. Isso fora outras coisas, como a falta de concurso público desde 2011”, diz Reginaldo. Ele ainda pontuou que há dificuldade de diálogo, já que nem o dissídio coletivo foi aceito pela empresa até esta quarta-feira (19).
Uma nova mobilização deve ocorrer nesta quinta-feira (20), a partir das 9h30, com a entrega de uma carta aberta à população em frente à unidade da Rua Marechal Deodoro.
Funcionários administrativos passam a auxiliar na operação
Em nota nacional publicada pelos Correios nessa quarta-feira (19), a empresa afirmou que o movimento é uma paralisação parcial e disse que a movimentação não afeta os serviços de atendimento da estatal. No levantamento feito pela empresa, 83% do efetivo total no país segue trabalhando regularmente, conforme o comunicado. Ainda segundo o texto, a empresa colocou em prática o Plano de Continuidade de Negócios para minimizar os impactos para a população. A medida desloca empregados administrativos para auxiliar na operação, por exemplo.
A nota afirma ainda que há comunicações inverídicas e desatualizadas, com o objetivo de causar confusão nos empregados sobre o termo da proposta, e que nenhum direito foi retirado. O que há, segundo o comunicado, é a adequação de benefícios que extrapolavam a CLT e outras legislações, para “alinhar a estatal às práticas do mercado.”
Os Correios alegam que os trabalhadores continuam recebendo o auxílio-creche e os tíquetes de refeição e alimentação, sendo que as quantidades foram readequadas para os dias úteis, conforme a jornada, sendo 22 tíquetes para quem trabalha de segunda a sexta-feira e 26 para os empregados que trabalham inclusive aos sábados ou domingos. “Estão mantidos ainda – aos empregados das áreas de Distribuição/Coleta, Tratamento e Atendimento -, os respectivos adicionais”, frisa o comunicado nacional.
Negociações
Sobre as medidas, os Correios destacam que estão respaldados pela orientação da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Ses), bem como por diretrizes do Ministério da Economia. A empresa pontua que se vê obrigada a zelar pelo equilíbrio financeiro, de modo que parte das decisões passam, justamente, por “repensar a concessão de benefícios, que extrapolem as práticas de mercado e a legislação vigente, com a intenção de manter a sustentabilidade da empresa e a manutenção dos empregos”.
Essas preocupações, que constam no comunicado, visam à “retomada do poder de investimento e estabilidade, protegendo a estatal da crise financeira causada pela pandemia. Conforme amplamente divulgado, a diminuição de despesas prevista com as medidas de contenção em pauta é da ordem de R$ 600 milhões anuais. As reivindicações da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, por sua vez, custariam aos cofres dos Correios quase R$ 1 bilhão no mesmo período – dez vezes o lucro obtido em 2019. Trata-se de uma proposta impossível de ser atendida.”