Confira dicas para organizar seu dinheiro em 2024
Economista traz recomendações para quem deseja organizar as contas, guardar dinheiro, realizar sonhos ou quitar dívidas
O começo do ano é o momento ideal para definir metas e fazer planejamentos. É nesse momento de “reset” que as pessoas devem pensar em como realizar seus sonhos, e por isso escrevem o que gostariam de fazer ao longo do ano. Mas, para fazer com que esses desejos se realizem, é preciso pensar antes em um planejamento financeiro que seja viável – já que muitos dos planos envolvem dinheiro.
No Brasil, no entanto, o endividamento já atingiu 76,6% das famílias, de acordo com estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em 2023. Por isso, é ainda mais importante planejar a vida financeira e estar atento a como o dinheiro do consumidor será gasto, o que deve ser valorizado nas contas e quais economias devem ser feitas. A economista e professora de Master in Business Administration da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, traz recomendações para quem deseja organizar as contas em 2024 e ter uma vida financeira melhor.
Análise de despesas
Como a especialista explica, todo planejamento financeiro começa por aquilo que é gasto fixo de cada pessoa – sendo um valor até mesmo mais importante do que o quanto se ganha. “Aquilo que a gente gasta é onde temos controle, porque de forma geral, temos pouco controle sobre o que ganhamos: podemos ser demitidos, receber um aluguel e deixar de receber, ter mais ou menos clientes na prestação de serviços. A entrada de dinheiro pode ser muito variada, mas cada decisão de despesa é certa”, explica.
Por isso, para ela, quem deseja se organizar deve fazer uma lista com todas as despesas, de forma simples, no tradicional papel e caneta. Como ela destaca, não adianta focar em planejamentos complexos e que vão ser largados no mês seguinte. “É preciso começar o ano sabendo quais contas você tem a pagar. Coloque suas despesas fixas por mês, e dentro delas considere o que pode ser dispensado e e qual é possível economizar”, orienta.
Controle o cartão de crédito
De acordo com o mesmo estudo do CNC, os gastos com cartão de crédito são o principal fator de endividamento dos brasileiros. Para Carla, fica claro que esse é um recurso que precisa de bastante cuidado ao ser utilizado: “Os gastos precisam ser controlados, diminuídos e sempre pagos na forma do valor integral na fatura. Mesmo com a redução dos juros, ainda há 100% de juros no rotativo do cartão de crédito”, explica.
Para pessoas que têm dificuldade com disciplina financeira, ela destaca que o cartão de crédito deve ser evitado, sendo melhor “contrair a despesa e pagar à vista”, usando o cartão apenas para compras maiores que demandam parcelamentos grandes. “O grande problema do cartão de crédito é quando se usa para todas as despesas, divide em várias parcelas e esquece. É muito comum as pessoas receberem a fatura e levarem um susto.”
Acabe com o consumo excessivo
O consumo excessivo é uma grande barreira para muitos brasileiros terem controle sobre seus gastos. Por isso, a especialista propõe um exercício para refletir sobre as compras. “Pegue todos os itens de dispensa que estão vencidos, tanto de alimentação quanto de produto de limpeza e de higiene e beleza. Coloque todos os itens que você tem vencidos e coloque na mesa de casa. Isso representa dinheiro jogado fora, falta de planejamento e consumo excessivo.”
Para ela, essa é uma forma de perceber o quanto se está comprando sem necessidade ou comprando por impulso. “A compra por impulso está muito ligada, hoje em dia, com as redes sociais. Lá, somos direcionados por algoritmos, ‘arrasta para cima’, QR Codes e cupons de descontos. Mas temos que questionar: será que precisamos mesmo disso? Ou será que o algoritmo quer que você compre ou ache que precisa?”, questiona.
Para ela, o vestuário é um campo que merece atenção especial quando se fala em consumo excessivo. “Há no Brasil um forte direcionamento para o fast fashion, em que cada pessoa teria que trocar de roupa e estar sempre na moda. Há uma crença generalizada de que você precisa de muita roupa e muito sapato, por exemplo. Em uma estrutura comparativa, o brasileiro ou a brasileira possui uma quantidade maior de roupa, sapatos e acessórios do que os europeus”, explica. Por isso, destaca que também é preciso olhar dentro do armário quantas roupas foram compradas e não usadas. “Tudo que você compra e não usa é desperdício de dinheiro, não importa se estava na promoção ou se custou R$ 10”, diz.
Organize a alimentação
O dinheiro para a alimentação é um gasto fixo do planejamento, mas que pode ser bem reduzido e gerar economias se for pensado de forma estratégica. “Tenho observado, por exemplo com alunos, que muitos têm gastado um percentual muito alto da renda com entrega de alimento em casa. Depois da pandemia, ficou muito comum que, ao invés de fazer a própria comida, se peça por aplicativos. Mas isso traz uma despesa muito grande para as casas”, diz. Para as pessoas que desejam ter uma reserva maior para realizar um sonho ou ter dinheiro guardado, ela destaca que esse é um campo que precisa ser analisado com cuidado – e requer planejamento para isso, pois a melhor saída é cozinhar e comer em casa.
Quando se vai ao supermercado, por exemplo, Carla recomenda que seja seguido o velho conselho de mães e avós: é preciso levar uma lista. Dessa forma, os consumidores têm facilidade em se ater ao que precisam, e não ao que desejam. “Esse processo de cozinhar, fazer o planejamento e congelar, reduz muito a despesa orçamentária na parte da alimentação”, afirma. Em diversos casos, isso também evita desperdícios, deixa a dieta mais balanceada e até reduz as contas com o gás.
Guarde dinheiro
Guardar dinheiro, como destaca a especialista, pode fazer toda a diferença na vida de uma pessoa – e também é muito necessário para quem deseja realizar metas. “Escuto muita gente falando: não consigo guardar dinheiro. Mas para comprar um título público, no tesouro direto, você precisa de R$ 30. E as pessoas gastam isso em lojas facilmente”, argumenta.
Por isso, ela propõe a reflexão sobre o poder que o dinheiro guardado pode trazer, porque tendo esse recurso, as pessoas podem ter mais alternativas. “Se você passa por alguma dificuldade, não adianta ter 50 pares de sapato, é preciso ter dinheiro guardado, até pra sair de uma situação difícil, comprar uma medicação, trocar de emprego e até sair de um relacionamento abusivo”, conta. “Essas economias podem começar pequenas, mas com tempo e disciplina, fazem a diferença.”
Quite as dívidas
Milhões de brasileiros ainda têm dívidas que são impeditivos para a realização de planos, e até mesmo de ter uma boa qualidade de vida. Após as dívidas com cartão de crédito, os grandes vilões são contas de consumo e contas de varejo. Para começar o ano, a especialista ressalta a importância de quitar as dívidas para que o consumidor consiga definir melhor o que fazer com o próprio dinheiro.
O principal recurso para conseguir se livrar do endividamento, conforme ela destaca, é o programa Desenrola, que conta com o intermédio do Governo nessas negociações. “Renegocie suas dívidas na menor quantidade de prestações possíveis, para realmente fazer uma mudança séria em 2024 e para poder dormir em paz”, indica.