Empresas brasileiras testam semana de quatro dias de trabalho
Escritório de advocacia de Belo Horizonte participa de experimento global ‘4 Day Week’, que visa a redução de carga horária sem perda salarial
Com o objetivo de obter os mesmos resultados em um tempo menor de trabalho, 21 empresas brasileiras se inscreveram para participar do experimento global “4 Day Week Global” (em tradução livre, “Quatro dias por semana”). Desde setembro, as participantes passam por uma preparação com masterclasses e palestras para, a partir de novembro, iniciarem a pesquisa junto com a Boston College e com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). As empresas inscritas para desenvolver testes dos quatro dias de trabalho são de diferentes regiões do Brasil e de diversos campos de atuação, como nas áreas da saúde, contabilidade e arquitetura.
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Em Minas Gerais, o escritório de advocacia Clementino e Teixeira, de Belo Horizonte, está entre as empresas participantes, além de prestar assessoria jurídica ao projeto do 4 Day Week. De acordo com a advogada e sócia-fundadora da empresa, Soraya Clementino, por auxiliar o experimento nas questões trabalhistas, o escritório também decidiu aderir aos testes.
“O processo está sendo bastante rico. Nós temos aulas de técnicas para aumentar a nossa produtividade, aulas de bem-estar com especialistas da 4 Day Week, tanto do Brasil quanto do exterior”, conta. “Essas aulas são sempre coletivas, então também conseguimos, além de aprender com os professores, trocar ideias com as outras empresas que estão participando, para que a gente vá desenhando qual o melhor modelo para cada uma.”
Um dia inteiro sem trabalho
No total, 14 pessoas atuam no escritório Clementino e Teixeira, que também conta com uma unidade em São Paulo (SP). Conforme Soraya, a equipe foi consultada sobre a participação no 4 Day Week, e os colaboradores receberam a ideia positivamente. Inicialmente, o escritório planejava reduzir a carga horária nas segundas e nas sextas-feiras, porém, já na preparação inicial do 4 Day Week, receberam a orientação de que esse formato pode não funcionar.
“O ideal é que tenha um dia inteiro, que a pessoa nem comece a trabalhar. Então, estamos analisando a possibilidade de ser um dia, por exemplo, sexta-feira, que provavelmente é o dia que as pessoas vão aderir mais”, explica.
Algumas empresas têm a possibilidade de não trabalhar todo mundo no mesmo dia. Para nós, isso não é possível, porque temos prazos judiciais e audiências que não são negociáveis. Então nós provavelmente vamos adotar a sexta-feira em esquema de revezamento.”
Mais qualidade
De forma geral, o 4 Day Week visa melhorar a produtividade e o bem-estar no local de trabalho. No caso da Clementino e Teixeira, a proposta se alinha também à iniciativa “Great Place to Work” (em tradução livre, “Ótimo lugar para trabalhar”), pelo qual a empresa também é certificada. “Nós queremos que essa redução da carga horária traga para o nosso time mais qualidade de vida, mais equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Para a empresa, esperamos que aumente a nossa atratividade de talento, nossa retenção do time que já temos e, também, que a gente ganhe em performance, em produtividade e em qualidade da prestação do serviço.”
Testes visam a 100% de produtividade em 80% do tempo de trabalho
No Brasil, o experimento do 4 Day Week acontece em parceria com a empresa Reconnect Happiness at Work, especializada em felicidade no trabalho e liderança positiva. No país, o modelo a ser testado será focado em manter a produtividade e os salários a 100%, porém, com os colaboradores trabalhando 80% do tempo. A ideia é que, ao final, o projeto demonstre resultados melhores na saúde e bem-estar dos funcionários, além de propor uma forma de trabalho mais sustentável.
Em setembro, as 21 empresas brasileiras participantes iniciaram a preparação com masterclasses e palestras sobre gestão de produtividade e de tempo, entre outras técnicas que possam contribuir para a mudança na rotina, de acordo com a diretora da Reconnect Happiness at Work, Renata Rivetti.
“Esses meses são de planejamento, em que vamos estruturando junto com as empresas para que elas possam escolher como é que vai ser, porque não tem uma fórmula mágica. A empresa vai decidir se é sexta-feira, se é segunda-feira, ou se ela vai reduzir 20% de cada. Isso é uma decisão da empresa, avaliando os seus clientes e como ela atua hoje”, explica.
400 interessadas
Nos meses de junho e julho, o 4 Day Week Global disponibilizou um formulário para esclarecer dúvidas sobre o projeto. Conforme Renata, mais de 400 empresas demonstraram interesse em saber mais sobre a iniciativa. Em relação às 21 selecionadas, a diretora da Reconnect Happiness at Work aponta que as participantes estão recebendo bem a metodologia proposta pelo projeto. “Nós acreditamos que o projeto é uma das propostas que pode nos ajudar a trabalhar melhor e a redesenhar esse futuro do trabalho de uma forma que, no final, seja mais produtiva, mas também mais saudável.”
Assessoria jurídica
Ao final do experimento, que deve durar seis meses, as empresas decidem se irão manter o arranjo de redução do tempo de trabalho. Como destacado pela advogada e assessora jurídica do projeto, Soraya Clementino, a legislação trabalhista no Brasil é rigorosa, o que teria desencorajado muitas entidades a participar do experimento.
“Se você dá esse benefício – uma redução de carga horária sem redução do salário – e, ao final do projeto, você opta por voltar à carga horária original por qualquer que seja o motivo, você não pode correr o risco de isso ser considerado uma alteração lesiva ao contrato de trabalho e, por exemplo, correr o risco de ter que aumentar o salário das pessoas porque voltou a uma carga horária maior”, explica Soraya. “O projeto ajuda cada empresa a adotar as medidas jurídicas necessárias para fazer esse trabalho com segurança, tanto em termos de acordos individuais, acordos coletivos e regulamentos internos.”
Ministro é adepto da semana de quatro dias de trabalho
Durante reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal na última segunda-feira (9), o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, apontou que a economia do país “suportaria” uma semana de trabalho de quatro dias, de acordo com informações do jornal “Metrópoles”. O ministro defendeu o debate sobre uma nova regulamentação da jornada de trabalho. Ainda conforme o “Metrópoles”, ele teria dito, entretanto, que ainda não conversou com o presidente Lula (PT) sobre o assunto.