Por que as bandeiras tarifárias influenciam no valor da conta de luz?
Entenda como é feito o cálculo do montante adicional cobrado dos consumidores e veja dicas de especialista sobre como economizar energia
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve aprovar, na próxima semana, um reajuste no valor das bandeiras tarifárias, cobranças adicionais variáveis incluídas nas contas de luz em ocasiões em que há aumento nos custos de geração de energia elétrica. A medida deve encarecer as contas de luz dos brasileiros, principalmente nos próximos meses, já que a bandeira vermelha no patamar 2, que está sendo cobrada atualmente, pode ter acréscimo de até 20%. Para explicar como o reajuste das bandeiras tarifárias vai impactar no bolso dos consumidores, a Tribuna conversou com o professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora, Moisés Vidal Ribeiro, que também dá dicas sobre como economizar energia.
A Aneel já havia imposto a bandeira vermelha no patamar 2 nas contas de luz a partir do mês de junho, devido à gravidade da atual crise hídrica. De acordo com o Sistema Interligado Nacional (SIN), maio foi primeiro mês da estação seca nas principais bacias hidrográficas do país, registrando então, condições hidrológicas desfavoráveis.
Junho também teve os principais reservatórios do SIN em níveis mais baixos para essa época do ano, o que aponta para um horizonte com reduzida geração hidrelétrica e aumento da produção termelétricas. Essa circunstância pressiona os custos relacionados ao risco hidrológico e o preço da energia no mercado de curto de prazo, levando à necessidade de acionamento do patamar 2 da bandeira vermelha, conforme a Aneel.
O custo desta bandeira é de R$ 6,243 para cada 100kWh consumidos, mas este valor pode passar para cerca de R$ 10 com o reajuste, conforme cálculos de especialistas. Com a decisão da Aneel, o reajuste das bandeiras pode chegar a até 60%.
Como funciona
As contas de energia passaram a contar com o Sistema de Bandeiras Tarifárias em 2015. Anteriormente, os custos das distribuidoras eram incluídos no cálculo das tarifas e repassados aos consumidores até um ano depois de sua ocorrência, quando a tarifa geral era reajustada. Com as bandeiras, no entanto, a sinalização mensal do custo de geração de energia elétrica cobrado do consumidor passou a constar nas faturas, com acréscimo já no mês da ocorrência do custo adicional. Conforme a Aneel, essa notificação dá ao consumidor a oportunidade de adaptar seu consumo, ajudando a evitar um repasse maior posteriormente. Portanto, o sistema de bandeiras tarifárias funciona como uma espécie de “semáforo”, que mostra a diferença de custo de geração de energia para os consumidores.
Atualmente, são utilizadas quatro bandeiras: verde, amarela e dois patamares da bandeira vermelha. As tarifas seguem as condições de geração energética, conforme a Aneel. Na bandeira verde não há acréscimo à conta de luz, e ela representa condições favoráveis de geração de energia. Já a bandeira amarela tem um acréscimo de R$ 0,01343 para cada quilowatt-hora (kWh) consumido e representa condições menos favoráveis. As bandeiras vermelhas são aquelas cujas tarifas são mais altas, sendo R$ 0,04169 para cada quilowatt-hora kWh consumido no patamar 1 e R$ 0,06243 para cada quilowatt-hora kWh consumido no patamar 2 quando as condições para geração de energia estão desfavoráveis, como quando há menos chuvas, por exemplo.
Uso consciente
Por conta de o acréscimo das bandeiras ser proporcional ao gasto de cada consumidor, os usuários que tiverem maior gasto de energia também pagarão maiores valores nas bandeiras tarifárias. Desta forma, com o acionamento da bandeira vermelha em seu patamar mais alto, o consumidor pode lançar mão de estratégias de uso consciente e combater o desperdício de energia para evitar, também, o aumento do valor das suas contas de luz.
A tendência de aumento nas contas de luz também é uma realidade da pandemia de Covid-19, segundo o professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora, Moisés Vidal Ribeiro, já que as pessoas começaram a passar mais tempo em casa. De acordo com o especialista, a pandemia teve um impacto direto no consumo de energia. “Além da necessidade de estudar e trabalhar em casa, o uso da tecnologia para fins de lazer também influenciou nesse acréscimo”, aponta.
Por isso, para tentar reduzir o gasto de luz, o engenheiro elétrico dá algumas dicas de ações de curto prazo que contribuiem para a economia de energia a nível residencial. A principal dica é manter os equipamentos eletrônicos desligados da tomada quando não estão sendo usados, assim como evitar o uso de vários eletrônicos ao mesmo tempo. Outra orientação é usar lâmpadas de LED, que consomem menos energia.
Para aqueles que estudam ou trabalham em casa, o engenheiro orienta evitar deixar o computador ligado 24 horas por dia, pois o consumo de energia aumenta muito nesses casos. Além disso, é preciso reforçar atitudes como desligar as luzes dos cômodos que não estiverem sendo utilizados ou demorar menos tempo no banho.
Calculando o consumo de energia
Conforme Moisés, alguns eletrodomésticos e eletrônicos gastam muita energia, enquanto outros, nem tanto. Mas, se o consumidor souber como calcular o consumo de energia de cada um, ele pode ter um controle do gasto mensal e reduzir a conta de energia. Dessa maneira, é possível evitar o desperdício e até aumentar a vida útil dos aparelhos.
O professor explica que para calcular o consumo por hora, é preciso multiplicar a potência em kW pela quantidade de horas em que um aparelho é usado. O valor será obtido em quilowatt hora ou kWh. Na sequência, deve-se multiplicar a sua potência em kW pelo número de dias e horas em que ele foi utilizado.
Por exemplo: para saber o valor de kwh mensal de um chuveiro com potência de 5.500 watts, o primeiro passo é achar o valor em kW, dividindo o valor da potência por 1.000, obtendo, assim: 5,5 kw (5.500/1.000).
Já na segunda etapa é preciso descobrir o tempo de utilização no período: supondo que ele fique ligado durante 15 minutos por dia, deve-se multiplicar o valor pelo total de dias, para verificar neste caso, o total mensal (15×30). O resultado será de 450 minutos usados por mês.
Em seguida, é necessário transformar este número em horas, dividindo, então, 450 por 60, obtendo 7,5 horas de utilização do chuveiro elétrico no mês. Então, o aparelho terá consumido 5,5 kW multiplicado por 7,5 horas, resultando em um total de 41,25 kWh por mês.