Urban Sketchers Juiz de Fora: moradores se reúnem em patrimônios públicos para desenhar cidade

O próximo encontro será neste sábado às 14h, na Capela Senhor dos Passos, na Santa Casa da Misericórdia


Por Elisabetta Mazocoli

29/05/2025 às 07h00

urban sketchers jf
Grupo reúne cerca de 15 pessoas a cada encontro e já está na 41° edição (Foto: Mamm/ Divulgação)

O grupo Urban Sketchers Juiz de Fora se reúne uma vez por mês para desenhar um patrimônio público da cidade. Entre artistas e os menos experientes, eles se sentam no local que dá um bom ângulo e distância, observam a cena e começam a desenhar — cada um com seu material e seu estilo de preferência, seja aquarela, caneta, lápis ou carvão. O importante é querer se expressar, sem limite de idade ou imposições. São cerca de 3h dedicadas a um mesmo lugar, mas que aparece de diferentes maneiras nas folhas de papel. As cerca de 15 pessoas em cada encontro até variam, mas o objetivo, não: registrar o próprio olhar para a cidade que se habita e, por meio dele, também guardar a memória do tempo. O próximo encontro será na data de aniversário da cidade, no sábado (31), às 14h, em frente à Capela Senhor dos Passos, na Santa Casa da Misericórdia.

Foi essa ideia que guiou Laura Nery até os encontros, que já estão em sua 41° edição. Ela é nascida em Juiz de Fora, mas morou boa parte da vida no Rio de Janeiro, onde já ocorriam encontros como esse, que são espalhados por várias capitais do mundo. Quando voltou para Minas, quis desenvolver esse olhar justamente para o seu novo entorno. “É um movimento bem livre, sem muitas regras. Mas o objetivo é registrar o lugar em que você vive, a sua cidade, o patrimônio arquitetônico, histórico e afetivo.”

O artista Petrillo, da prestigiada Galeria Hiato, é outro participante, que vai desde o primeiro encontro do grupo trazido por Angélica Gomes para cidade, e garante que não é preciso de muita experiência. “É uma oportunidade de desmistificar que tem que saber desenhar para desenhar na rua. Às vezes, as pessoas fazem detalhes, como uma fechadura. E não tem que ser para ‘desenhar bonito’. Tem que ir para se expressar. Nós vamos conhecendo e agregando pessoas de diversas áreas, é uma troca.”

Por isso mesmo, é gratuito e nem se vende nada — é feito apenas para agregar olhares e perspectivas bem diferentes a partir dos desenhos. “Cada um interpreta a mesma coisa de formas distintas. Que bom que não temos o mesmo olhar, que bom que temos essa diversidade da forma de se expressar e de fazer, de eleger o que quer ver”, destaca. Da mesma forma, Laura entende que o objetivo é estarem juntos, mas sem julgarem o trabalho um do outro. “Não é um espaço para desenvolver esse olhar crítico, é pra cada um fazer o que gosta, o que quer. No final do encontro, fazemos uma foto juntos, mostrando os trabalhos.” Nessa caminhada, já fizeram desenhos de pontos muito marcantes da cidade, como o Castelinho dos Bracher, Mercado Municipal e Paço Municipal.

E o interessante, para eles, é que os lugares parecem não se esgotar. Isso porque, apesar de já terem passado em muitas fachadas clássicas da cidade, tem sempre um novo lugar para conhecer e redescobrir. “Tenho na minha memória todos os caminhos que percorri quando era criança. Ainda lembro das lojas antigas, uso como referência, é um vínculo afetivo. Acho que a importância é criar esse vínculo com a cidade em que você vive”, define Laura. Ela entende, ainda, que o material de cada um, muitas vezes feito em caderno e em um tempo “corrido”, pelo menos para um desenho, também se trata de algo bastante pessoal e, ao mesmo tempo, coletivo. Eles também já fizeram uma exposição juntando essa experiência, na Galeria Hiato, comandada por Petrillo.

Encontros inesperados

Quando se juntam para desenhar, precisam sempre pensar nas condições externas que o local tem, para se planejarem de onde vão conseguir sentar para ter uma visão boa. E, ainda, se vão estar expostos ao sol ou se vai ter como abrigar o número de pessoas necessário. No caso da Casa D’Itália, como Laura conta, precisaram ficar nos abrigos do ônibus. Tudo isso também gera algum reflexo no desenho – mas há outros eventos inesperados que também acontecem quando eles se reúnem. 

É o caso das pessoas que aparecem no caminho. “Um dia, estávamos desenhando e parou um carro da polícia de onde saiu um policial vindo em nossa direção. Ele falou que adorou, que estava esperando a gente passar, que achava o trabalho muito legal. E convidamos ele para voltar, em outro encontro. E ele foi com o filho. Ele teve o olhar sensibilizado pela arte”, conta Laura. Além desse homem, também já vieram pessoas que participam do Urban Sketchers de outras cidades, além das que passam e cumprimentam, querem ver os desenhos ou contam que também gostam de desenhar.

Registro do tempo

Para Laura e Petrillo, o registro do tempo, antes que muito da cidade se perca, é um dos diferenciais do projeto. “Desenhamos a fábrica de plástico que era na Olegário Maciel em uma semana, e na semana seguinte ela foi para o chão. Nós ficamos com esse registro. Se a cidade não tem passado, não vai saber contar o seu futuro”, conta Petrillo. Laura entende que é algo que fica para as gerações futuras. “Se perdemos o fio da história, vamos nos identificar com o quê? É importantíssimo, e também para os que vêm depois, para se sensibilizarem com esse olhar. Se não tem alguém que te mostre, você nunca vai ver”, completa.

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