‘Natureza das Expressões’: mostra de Jorge Hallack e Adauto Venturi chega ao Espaçorh
Exposição, que começa nesta quinta, tem como proposta o olhar para a natureza, absorvendo os sentimentos que ela provoca
A exposição “Natureza das expressões” de Jorge Hallack e Adauto Venturi chega a Juiz de Fora nesta semana. Os dois artistas trazem como proposta o olhar para a natureza, absorvendo os sentimentos que ela provoca e buscando passar para a tela as diversas camadas de interpretação que podem tirar dela. Apesar das interpretações individuais e do caminho próprio de cada um como artista, as obras possuem uma temática comum e conversam entre si, ainda mais por trazerem o viés do abstrato. A mostra acontece a partir desta quinta-feira (28) e segue até 28 de novembro, no Espaçorh (Estrada Eng. Gentil Forn, 1805 – segundo piso – Morro do Cristo).
Apesar da exposição estar sendo feita em conjunto, ambos os artistas têm carreiras independentes e já contam com anos de experiência nas artes plásticas. Enquanto a obra de Hallack é mais abstrata e trabalha com diversas séries, a de Adauto prioriza o trabalho com esculturas e pinturas grandes e feitas em muitas camadas. Tendo em vista as diferenças, para Venturi, a exposição consegue mostrar bem a relação que os artistas têm com a natureza – algo recorrente na obra dos dois. “Estou sempre sendo levado por essa questão da natureza, principalmente agora, porque fiquei muito em casa durante a pandemia de Covid-19, e resolvi refletir sobre o que estava vendo da minha casa e o espaço de fora. A natureza traz tranquilidade, uma afetividade, é quase um santuário”, afirma. Seu trabalho, como ele explica, é fortemente inspirado por jardins e pelas plantas, apesar dele também trabalhar com esculturas e formas humanas, tendo usado ainda uma diversidade de materiais e técnicas ao longo de sua carreira.
Da mesma forma, Jorge afirma que a natureza os escolheu, e não ao contrário. “Não temos como escapar”, brinca. As cores e a diversidade de formas que ela proporciona, em sua visão, acaba gerando para o artista a possibilidade de inspiração infinita, contendo o mundo inteiro nela e sendo uma fonte eterna de descobertas. “A natureza é muito forte e muito clara, muito definida nas suas belezas e suas formas, e isso impulsiona a gente a fazer alguma coisa, e a gente vai”, afirma. Ele gosta da arte abstrata justamente porque proporciona reproduzir parte dessa liberdade que a própria natureza já tem, e faz com que o artista transmita para a tela sensações – que são potencializadas com o uso da tinta acrílica, que seca rápido, e permite uma sobreposição de texturas.
Já o trabalho de Adauto parte de uma pintura feita em várias camadas, com elas sendo sobrepostas. Assim, a própria identidade da pintura vai “relembrando as matas e as florestas”. “São camadas em cima de camadas. As primeiras são aguadas e eu espero secar. As próximas, por serem muito orgânicas, vão sendo elevadas e me dão a possibilidade de construir paisagens imaginárias e corpos que sempre refletem a natureza. É uma coisa muito relacionada à forma de pintar e ao resultado final”, explica. Por isso, o processo inteiro também é a arte em si: “A natureza acontece no meio da minha pintura”.
Obras que conversam
Os dois artistas foram convidados para fazer essa exposição juntos por Andrea Peres, que é a curadora, e explicam que consideram que o trabalho dos dois conversam – não só pela temática da natureza, mas por valorizar essa força de expressão que ela tem. Além disso, como explica Jorge, ambos são contemporâneos, juiz-foranos e universitários, tendo uma trajetória em comum. Dele, vão ser 30 telas expostas, enquanto de Adauto serão nove telas em grandes formas e mais alguns objetos escultóricos para criar variedade de ocupação do espaço.
Além da exposição estar disponível durante os dois meses, os dois também pretendem fazer visitas guiadas. “Quem for à exposição, vai poder trocar saberes, conversas e ideias com a gente. Além da visão da gente, vão poder saber do nosso pensamento para realizar a obra e a exposição em si”, explica Adauto. Para ambos os artistas, comunicar esse processo torna tudo ainda mais interessante. “Acho que é importante também deixar o espectador tentar interpretar o que o artista quis passar. É quando a obra se completa”, diz.
Espelho de si
A beleza da arte está em ver além de traços, cores e figuras, mas olhando justamente com cuidado para os conjuntos e o que eles formam ou causam. Longe de nomenclaturas e enquadramentos em movimentos artísticos, no entanto, eles buscam algo de mais essencial nas suas artes: “A pintura representa a própria vida, as questões que a gente tem com a vida. Você acorda e está diante de um mundo cheio de cores, formas, um pensamento interno e pessoas, cada um é único”, afirma Jorge.
Para Adauto, a pintura representa “algo como um espelho”. Qualquer forma de arte, em sua visão, traz um encontro que se tem com a vida, sempre em reprodução. “Todos os elementos que a gente absorve da natureza e do nosso dia a dia, acaba passando. Nós acabamos sendo um veículo e vamos orquestrando com as nossas mãos tudo isso. Representa uma vivência do artista, o que ele expõe é o que ele absorve, o que ele convive. Tudo que passa pelo corpo e pelas ideias do artista, ele concretiza”, afirma. É por isso que, como Jorge continua, desde os tempos das cavernas já existiam as pinturas rupestres. “Se jogar na mão de uma criança um lápis de cor e um papel, ela naturalmente começa a desenhar. Ela começa a se manifestar com aquilo que ela está percebendo do mundo. A arte é uma expressão natural, uma resposta para vida que você recebe”, afirma.