Comicidade que também emociona
“Concessa tecendo prosa” está na programação do Festival de Gargalhadas
Concessa tem história. Foi criada para a ficção, mas hoje possui uma biografia que chega a convencer, de tão verossímil que é. É casada com Vicente, com quem teve quatro filhos – Anderson Cleiton, Roberto Carlos, Marluce e Marcilene, e sempre nutriu o sonho de morar na cidade grande. “Nasci num povoado perto de Pará de Minas. Sô a fia mais véia de Nhô Quim. Minha mãe morreu parino Lourenço – meu irmão mais novo”, conta a mineira que vem prosear em Juiz de Fora neste sábado, às 20h30, e domingo, às 18h, no Pró-Música. Entre os causos que traz para a terceira edição do Festival de Gargalhadas, estão aqueles que se passaram na roça, quando ficava cuidando dos irmãos e “ouvino” a “Hora do Brasil”. “As pessoa acha graça no meu modo de contá. Ora eles ri do meu proseio, ora da minha feição no contar. Acho bão demais da conta tecê a prosa com o povo, por isso deu e ainda dá tão certo apresentá “Concessa tecendo prosa”.
A bagagem não vem muito cheia. Chega apenas com o necessário para passar um cafezinho e cozinhar para a plateia. “É um ambiente de uma casa. Não é nada naturalista, não tem paredes. Só umas flores para a mesa e um fogão”, comenta a intérprete Cida Mendes, confidenciando os motivos que faz sua criação ter fôlego nos palcos por quase 20 anos. “Ela é muito humana, tem um tempo e um ritmo certo de prosa. Não é uma peça só com a contação de piada o tempo inteiro. É uma história delicada aqui, outra ali, e daí a pouco o público começa a rir de novo. Ela é igual a gente mesmo”, defende Cida, vencedora do Prêmio Multishow do Bom Humor Brasileiro, em 1997.
Composta por uma trilha sonora bem pontual, a apresentação dura pouco mais de uma hora. A plateia acompanhará o cotidiano de uma dona de casa simples e contestadora e sua luta junto ao marido pela subsistência. De acordo com Cida Mendes, mesmo que a popularidade de Concessa tenha crescido na TV, é nos palcos que ela mais gosta de ficar. Cida esteve no elenco de programas, como “Turma do Didi”, da Rede Globo, e “Escolinha do Barulho”, da TV Record. “Quem não a conhece da TV, olha e fala: “Nossa, parece minha tia.” Isso é sinal de que a Concessa representa muitas mulheres. O que ela fala é muito universal. É uma mulher que não tem nada de extraordinário, tudo que fala é muito comum. Quando a criei, não imaginava que fosse durar muito tempo.”
‘CONCESSA TECENDO PROSA’
27 de junho, às 20h30, 28 de junho, às 18h
Pró-Música
(Av. Rio Branco 2.329 – Centro)
‘A Concessa me engoliu’

Cida Mendes também é mineira de Pará de Minas e começou a fazer sucesso na carreira em 1993, quando teve a ideia de montar um pequeno restaurante-teatro. No espaço, ela apresentava esquetes cômicos de sua autoria. “Era a Cantina Real, em Pará de Minas, que funcionou três anos servindo mais ao espírito do que ao corpo”, brinca a atriz, que recentemente voltou ao ramo da gastronomia ao abrir a Casa de Concessa, em Paracatu. “Trata-se de um restaurante-café. Você entra e vê Minas Gerais lá. Aos domingos, quando estou aqui, coloco a Concessa para atender o povo. Enquanto faço isso, vou improvisando e criando muitas coisas.”
Tribuna – Por que a Concessa está longe da TV?
Cida Mendes – A TV sempre foi muito pontual, nunca fiquei em função dela. Foi o prêmio Multishow que me colocou lá, mas nunca fiquei atrás disso. A coisa aconteceu por merecimento. Se um dia forem montar a “Escolinha” novamente, estarei lá de novo. Quero ser dona da minha personagem, do meu texto. Talvez, por essa mania de ser dona do meu personagem, eu não tenha caído muito nas graças do pessoal da TV. Eles querem te sugar até enjoar.
– Você acha que ela tem a cara da TV?
– A diferença que eu sinto é que, na TV, as pessoas querem algo muito rascunhado, não nos dá tempo de aprofundar muito. Por exemplo, eles ficam querendo um bordão fácil, no final das frases, e eu nunca ponho porque acho isso muito idiota. Um dia, estava fazendo laboratório de humor na Globo, e começaram a me pressionar para colocar um bordão. Eu disse que meu bordão estava no meio das falas. Eles disseram que precisa ter um, para o público saber a hora de rir. Acho que isso é desprezar a inteligência do telespectador.
– Você faz outros personagens?
– Escrevi outro texto, “Adelaide pinta e borda”, mas a personagem se matou. As coisas dela caíram sem querer no rio. A Concessa me engoliu, não dou conta de pensar em outra coisa. Não é por preguiça, mas ela é muito forte. Tenho muita demanda. Fico pensando em tudo com a cabecinha dela.
– Você chegou a morar em São Paulo, mas voltou para Minas. Preferiu ficar na terra da Concessa?
– Não dei conta de São Paulo. Não dou conta daqueles esquemas que mostram nessa novela das 23h, da Rede Globo. Quando fui para lá, um produtor um dia me disse que eu não ia a lugar nenhum, ao que respondi: “Vim para cá para trabalhar”.