Entrevista com Mauro Cruz
Victoria vive numa floresta com os pais. Nunca tinha visto outras pessoas. Seus amigos são os bichos. Tudo muda quando ela conhece um taxonomista, que passa por lá procurando animais e plantas para novas catalogações. Através dele, ela fica sabendo da existência de Papai Noel e dos presentes que distribui para a criançada. A partir daí, sua sina é ir atrás do Bom Velhinho. O problema é que a bruxa má e um imenso dragão cruzarão o seu caminho e o do falcão migratório, que decide ajudá-la nessa empreitada. Essa é a aventura que o cirurgião-dentista Mauro Cruz, membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores, entre outras, apresenta em “Viagem ao Polo Norte – Um conto de natal” (Gryphon Edições).
“No meio da história, a gente acrescentou uma série de conhecimentos científicos. Falamos como é a taxonomia, como se classificam os animais e as plantas, ensinamos qual é a nossa árvore-símbolo, qual a nossa ave-símbolo, trazemos as lendas indígenas que existem aqui no Brasil. São elementos que têm muito a ver com a cultura brasileira entremeados com fantasia”, conta o escritor. O lançamento está programado para 22 de dezembro, às 20h, na casa do próprio autor, em um evento somente para os membros da Academia Juiz-forana de Letras. O livro está disponível nas livrarias Ca D’Ori, Dom Pedro II e Arco-Íris.
Tribuna – De onde veio a ideia de misturar a fantasia de um conto de Natal com conhecimentos de taxonomia?
Mauro Cruz – À medida que escrevia, essa ideia foi surgindo. Misturamos poesia, trova, cultura, fantasia.Talvez, no futuro, até saia um CD com músicas de Natal, todas com temas brasileiros. Até conheci um compositor que tem músicas natalinas baseadas no xaxado e no samba. Estávamos fazendo o CD e, por razões várias, desistimos, mas pode ser que volte.
– No final do livro, você apresenta algumas referências de locais e datas: Mar da Bahia, 2008/Terracota, 2013/ Juiz de Fora, 2014. O que elas indicam?
– Estava num Cruzeiro quando comecei a escrever o livro. Quando terminei, estava em frente à Bahia de São Salvador de Todos os Santos, aí eu registrei. Depois, houve um período em que comecei a burilar, porque, na confecção de um livro, primeiro você faz a estrutura, depois começa a lapidar a obra. Eu passei um bom tempo numa pousada aqui em Secretário (RJ), chamada Terracota, e concluí uma nova fase do livro lá. A finalização foi em Juiz de Fora, na minha casa.
– Esses lugares e momentos influenciaram a sua história?
– Claro que influenciaram, inclusive tenho fatos curiosos. Eu precisava escolher uma palavra mágica e não sabia qual. De repente, eu estava em Terracota, passou um bichinho do meu lado, e eu usei o nome dele ao contrário. Você pode ver como o ambiente influencia a história.
– No final de tudo, você traz os desenhos da Victoria, uma menina de 5 anos. Quem é a Victoria da vida real?
– É minha filha. Quando terminei a primeira parte do livro, lá na Bahia, li para ela, e ela estava naquela fase de criança fazendo desenho. Então, ela desenhou a própria Victoria, o falcão e o Jatobá e a fada das aves, personagens do livro.
– Um cirurgião-dentista que se envereda pela literatura. De onde surgiu esse desejo de escrever, principalmente, para crianças?
– Tenho muitos trabalhos científicos publicados, um livro de cirurgia na área de odontologia, de regeneração óssea, mas nada me dá mais prazer do que escrever para criança. É uma sensação extremamente agradável penetrar no mundo de fantasia, de muita pureza e imaginação. E eu tive um retorno com isso no livro “O riacho”, meu primeiro infantil, em situações com crianças de vários lugares. Se eu puder, continuo escrevendo só para crianças.
– O livro traz a figura do mal bem delineada. A bruxa fala, claramente, que quer matar a menina. As crianças não devem ser poupadas de assuntos delicados?
– A criança não quer máscaras. É direta e reta. Se ela vir uma pessoa com determinado problema, até deficiente, ela fala na cara: “você tem isso e isso”. O mal existe, a vida é uma mistura do claro e do escuro, do bom e do ruim. Na literatura, se existe realmente uma bruxa que nos acompanha pela vida, como uma sombra, se existe sempre algo que poderá acontecer porque não é bom, a criança quer que isso seja explícito.