‘A arte, para mim, é a salvação da humanidade’, afirma ministra Cármen Lúcia, na Cineop

Ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia participou do Encontros de Arquivos no festival que acontece na cidade histórica


Por Cecília Itaborahy

22/06/2024 às 16h28

ministra cineop
“Sou absolutamente contra qualquer tipo de censura”, afirmou a ministra Cármen Lúcia (Foto: Leo Fontes/Universo Produção

A Mostra de Cinema de Ouro Preto, Cineop, promove uma série de debates que colocam em voga a preservação do audiovisual. Dentre as discussões, um dos principais focos é a importância da preservação para que se tenha construída uma memória nacional, sobretudo plural. Nesta sexta-feira (21), o Encontros de Arquivos trazia como tema “Políticas públicas para o patrimônio e a preservação audiovisual”.

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, foi uma das participantes. Ela abriu a conversa, que trazia setores do Ministério da Cultura (MinC) e apresentava, ainda, a estrutura de governança da Rede Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais.

Durante sua fala, Cármen Lúcia, de forma descontraída, apontou os diversos motivos pelos quais pode-se dizer que a produção cultural é importante para registrar a memória e, principalmente, fazer isso de forma plural e que atinja todos os lugares do Brasil.

Descentralização da cultura

No entanto, a ministra falou da dificuldade que se tem ainda de acesso à cultura como um todo. E é por isso que se  precisa garantir investimentos descentralizados de políticas públicas que garantam o direito aos bens culturais produzidos no Brasil. Mineira de Montes Claros, disse que por mais cultural que seja sua terra, sempre existiu dificuldade a esse tipo de acesso cultural.

“É responsabilidade do Estado assegurar que a produção cultural seja acessível a todos, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica. O dever do Estado é garantir que se produza, que se entenda e que se exiba aquilo que é produzido em benefício de todos”, afirmou.

Cármen Lúcia apontou que, no entanto, a cultura é um dos bens mais atingidos quando se instauraram governos autoritários. “Quando acontece um golpe de Estado, a primeira coisa que é eliminada é a cultura. A pessoa que tem acesso aos bens culturais tem condições de ser mais livre. Os Titãs têm razão quando cantam que não queremos só comida, nós queremos comida, diversão e arte, nós queremos saída para qualquer parte”, prosseguiu.

Cármen Lúcia destaca papel do Estado

Sobre a preservação, pontuou: “O artista pensa em todas as gerações: na que veio antes, na que existe agora e na que virá depois. Ele conta o passado, resgata o que precisa e se compromete com o presente”. Mas, para que tudo isso aconteça, de fato, é preciso exigir essa atenção do Estado, que é quem garante os recursos necessários.

“O produtor cultural tem o dever se exigir do Estado que ele promova e garanta as condições para a produção cultural que são da sociedade. (…) Esse é o papel que os senhores têm. A mim, como juíza, compete garantir que o estado cumpra essa obrigação dele. E promover, estimular, incentivar e garantir recursos para a cultura não é favor nenhum. É dever constitucional. (…) Eu preciso, cada vez mais, que a área cultural, produtores culturais, mais especificamente do audiovisual, tenham consciência dos seus direitos, que eles trabalhem para os direitos fundamentais de todos os cidadãos brasileiros, que têm, por sua vez, o direito igualmente de ter acesso a tudo o que é produzido e que nos dignifique como ser humano.”

E finalizou: “Sou absolutamente contra qualquer tipo de censura. Não significa que o exercício da liberdade, como é óbvio, seja no sentido de acabar com a liberdade do outro. É preciso que cada vez mais a gente tenha um setor cultural no Brasil forte, comprometido, responsável com o que é a produção cultural verdadeira, necessária e imprescindível para uma sociedade democrática (…) A arte, para mim, é a salvação da humanidade”.

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