Se for para tombar, T O M B E I
Rapper feminista, midiática e polêmica, Karol Conka chega aqui nesta sexta-feira, 23, com suas rimas e poesias esculachando moralismos hipócritas
Mamacita, como Karol Conka é carinhosamente chamada, compõe com forças contrárias às críticas e preconceitos sociais de sua vivência como mulher negra em destaque no rap brasileiro. No “Superbonita”, programa que apresenta na GNT, é mulher poderosa cheia de sensualidade e opinião, na vida pessoal é mãe de Jorge e filha de Ana Maria dos Santos de Oliveira, que foi base fundamental de Karoline desde seus 14 anos, quando perdeu seu pai. Na música, ela tem o poder de deixar a sociedade em choque. É rapper, funkeira, compositora e acima de tudo feminista. Consegue fazer tudo isso muito bem, dribla a vida e está no topo. É hora de alcançar o que quiser, sempre colocando em primeiro lugar sua independência. Não depende de ninguém e se valoriza, assim como empodera outras mulheres a sua volta.
Sua parceria com o duo de música eletrônica Tropkillaz garante uma estética sonora muito contemporânea e antenada, tudo isso combinado às suas letras que confrontam tudo que poderia puxá-la para baixo. E quem bate de frente com ela periga cair, já diz a letra de “Tombei”. E assim, sendo ela mesma, marca o Brasil e a nova era do rap feminino. É hora de chegar a Juiz de Fora, pela primeira vez, em show que acontece no Cultural Bar na noite desta sexta-feira (23). Fala sério, ela tem tudo a ver com essa cidade com multiplicidade de gênero e militância ativa, falta saber se o público LGBT, as mulheres líderes de coletivos feministas universitários e não acadêmicos poderão ter acesso ao evento.
Inquietação estética lacradora
Miscelânea de estética pop art, oitentista, antenada e com elementos gráficos e digitais. Sua identidade visual é marca própria, seu estilo é o que a difere. Desde a maneira descolada como se veste, suas fotografias e vídeos, tudo está sincronizado e sempre teve esse cuidado profissional carregado de autenticidade. Seus looks viram notícia, assim como seus cabelos coloridos trançados, curtinhos ou bem soltos e com os fios afro livres e expressos. Ela já foi inspiração até para a criação de uma Barbie personalizada do The Royal Dolls, projeto do brasileiro Rafael Silva. Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch, Adriana Bozon e Carolina Gonçalves são apenas alguns dos estilistas que já a vestiram, e a rapper disse em entrevista para a “Rolling Stone” que troca de roupa três vezes ao dia, seguindo as dicas de sua stylish, e se sente como uma boneca. A moda é sua irreverência e é por isso que foi convidada a assinar uma linha de bolsas da grife Soleah: tão lindas quanto caras, é por isso que foi alvo de diversas críticas na internet. Mas haters e “juízes da internet” são assuntos cotidianos com quem ela tem de lidar e até fala sobre isso na música “É o poder”, além disso, já teve uma conversa crítica com a youtuber Jout Jout em um dos episódios do “Superbonita”.
Sua produção audiovisual é toda dividida em pequenos cortes, frames curtos que evidenciam o ritmo, já teve clipe gravado até em Tóquio, da música “Farofei”, com participação do Boss in Drama, produzido pelo Péricles Martins. Mas o último, “Lalá”, lançado no dia 8 deste mês, está dando o que falar. Até o YouTube tem censurado e colocou como conteúdo impróprio para menores de 18 anos. Essa mentalidade reforça ainda mais a necessidade de produções artísticas que toquem no assunto. Karol Conka reuniu uma equipe no set de gravação apenas com mulheres, a direção é da Vera Egito e Camila Cornelsen, as duas são da produtora Paranoid, e a direção de arte é da Gabriela Vanzetta. Essas mulheres juntas soltaram o verbo para escrachar alguns tabus: o sexo oral, o prazer da mulher no sexo e a maconha, que ela trata no eufemismo como “sativa”, segundo nome científico da planta.
A letra é muito clara e direta, e no vídeo, ela usa metáforas com frutas e flores para representar os órgãos sexuais femininos. “Curvem-se, encostem os lábios na flor / Quebra esse tabu, isso não é nenhum favor / O que me anima é a habilidade na lambida / Malícia, muita saliva / Enquanto eu queimo uma sativa”. Inclusive essa é uma aproximação interessante, uma vez que os órgãos sexuais das plantas estão sempre à mostra e são considerados a parte mais bonita e que admiramos em uma flor. No clipe ela coloca a mulher numa posição de saber do que gosta, conhecer seu corpo e o que dá prazer, e os homens aparecem como meros “moleques mimados” que não entendem nada sobre o corpo da mulher e como proporcionar prazer. Os modelos escolhidos são do projeto da fotógrafa Lud Lower, “My Toy Boys”, em que a artista busca transferir a sexualização do corpo da mulher para o homem. Dessa forma, ela busca desconstruir o olhar objetificado e sempre de desejo sobre o corpo feminino.
O single é o poder
Karol não para de produzir, fazer shows, ser convidada para parcerias. Paralelamente a isso, está planejando seu novo álbum “Ambulante”. Seu último e primeiro full, “Batuk freak”, foi lançado em 2013 pela gravadora Deck Disc, cinco anos depois, 2017 está marcado como o ano de lançamento do segundo álbum. A data exata já foi adiada algumas vezes, e não há uma previsão de quando será disponibilizado, o que sabemos é que será lançado de forma totalmente independente. No entanto, na era da internet, ainda mais para uma artista supermidiatizada, mais vale se manter conectada com os fãs e a imprensa, lançando aos poucos os singles, com vídeos impactantes, e é o que tem feito. “Tombei”, “Farofei”, “Maracutaia”, “É o poder” e “Lalá” farão parte do disco. Essas quatro faixas, além de algumas mais antigas, como “Boa noite” e “Toda doida”, fazem parte do repertório do show, em apresentação junto a seu oficial DJ Hadji.
Karol Conka
Nesta sexta-feira, 23, às 23h, no Cultural
(Avenida Deusdedit Salgado 3.955). 3231-3388