Nesta sexta-feira, começa a Mostra de Cinema de Tiradentes
Em formato on-line pelo segundo ano consecutivo, Mostra de Cinema Tiradentes resiste às restrições, começa nesta sexta-feira (21) e vai até o dia 29 de janeiro
O cinema está em transição. Talvez, entre 2005 e 2006, os realizadores e produtores pensassem que estavam passando pela maior das transformações da área: a mudança da película para o digital, que, inclusive, começou a democratizar o cinema. Em 2020, no entanto, a pandemia impôs uma nova forma de fazer cinema – a princípio, quase impossível; logo depois, mais experimental. A Mostra de Cinema de Tiradentes acompanhou todos esses processos, desde seu início em 1998, e vive para afirmar que, sim, cinema é adaptação. Prestes a iniciar a 25ª edição do evento, do dia 21 ao dia 29 de janeiro, uma semana foi o suficiente para que um novo rumo tivesse que ser tomado: do híbrido para o totalmente on-line, mais uma vez. O importante, de acordo com Raquel Hallack, coordenadora geral da mostra, é manter o motivo apresentado lá no início para a estreia: o fomento à formação, reflexão, exibição e difusão do cinema brasileiro, inclusive para além do Brasil.
A Mostra de Cinema de Tiradentes é a que abre a programação de eventos voltados para o audiovisual no país. Neste ano, além disso, ela seria a primeira a retornar ao modelo híbrido, com programações presenciais e on-line. Na última sexta-feira (14), no entanto, foi comunicado que o formato presencial estava suspenso, em decorrência do alto índice de contaminação por coronavírus na cidade de Tiradentes. Raquel assume que a decisão não foi fácil. O evento começa a ser programado seis meses antes de seu início. A tenda, por exemplo, já estava quase montada na cidade. Mas, para ela e a organização, o mais importante é salvar vidas. “Eu adiei o máximo que pude para tomar essa decisão, mas a gente estava acompanhando que o evento poderia ser interditado na metade se o Governo começasse a restringir as atividades. Todos ficaram muito sensibilizados e apoiaram a decisão. A força-tarefa foi para mudar o que seria presencial. E a gente está conseguindo.”
Mesmo com a falta do contato físico, em formato on-line no ano passado, a Mostra continuou fazendo efeito nas produções. A promoção e a divulgação das realizações acabam sendo facilitadas no remoto, já que qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo consegue acessar a plataforma, assistir aos filmes e participar das discussões. O cinema brasileiro, com isso, rompe as fronteiras. Assim como chegam filmes de todos os lugares do Brasil, o Brasil todo assiste às produções. Além disso, Raquel aponta para um intercâmbio além da programação: um encontro entre o público que participa, conhece a produção contemporânea, entende o cinema, reflete e, por fim, faz ecoar para além da grade programada no festival.
O que será do amanhã?
Neste ano, inclusive, principalmente por causa da Lei Aldir Blanc de incentivo à cultura, a curadoria do evento percebeu o aumento da participação de realizadores vindos do interior brasileiro, fora dos circuitos das capitais. Estima-se que 20% das produções inscritas tenham sido financiadas pelo edital. Raquel acredita que a lei foi importante para não interromper a produção. “A cultura precisa dos mecenas. A gente precisa de incentivo para produzir. Sem isso, não tem como”, diz. Ela percebe, também, um impacto fruto da pandemia e da falta desse incentivo pelo Governo. “A cultura como um todo já está impactada. A gente acompanha o aumento do desemprego no setor, a mudança de área de muitos que não estavam conseguindo se manter. E a pandemia ainda se intensificou.” No próximo ano, sem o edital e ainda vivendo as consequência da pandemia, o impacto pode ser ainda maior.
O cinema transita, também, para além dele mesmo. O turismo, por exemplo, se alimenta dele. A Mostra de Cinema foi uma das primeiras a perceber a vocação de Tiradentes para o evento. O fluxo de pessoas durante a programação aumenta em cinco vezes no município. Sem o presencial, a cidade perde também economicamente. Só o festival promove cerca de 2 mil empregos nesse período. Mas, mesmo on-line, o evento acontece para fazer ver os 169 filmes, além dos debates e os cursos. “O festival, que é um dos maiores do Brasil, é um instrumento de transformação social e de cidadania, por isso, apesar das dificuldades nesses anos, a gente continua o fazendo”, reforça Raquel.
O evento
É por conta de toda essa transformação contínua que o tema da Mostra neste ano é “Cinema em transição”, incluindo o trânsito entre as áreas e a mudança das formas de fazer e ver. Com olhar atento às produções de pessoas de todo o Brasil, de todas as idades e falando sobre vários temas, o que se mostra na programação é o próprio Brasil e a realidade pela qual passamos na atualidade. O homenageado da vez é o cineasta goiano Adirley Queirós, por seu trabalho documental e ficcional importante para as atuais configurações do cinema nacional. A abertura será em homenagem a ele, no dia 21, às 20h, no site www.mostratiradentes.com.br. Logo depois, tem a pré-estreia de sua série documental feita em parceria com Cássio Oliveira, “Fragmentos de 2016 em dois episódios”.
Todos os filmes estarão disponíveis no site, de maneira gratuita por cerca de 24 horas, a depender da mostra, sendo elas: Aurora, Olhos livres, Temática, Homenagem, Autorias, Foco, Panorama, Foco Minas, Praça, Formação, À meia-noite levarei sua alma, Sessão debate, Jovem, Valores, 25 anos, Regional e Mostrinha. Todos os dias, às 10h, 12h e 15h acontecem os debates “Encontros com os filmes”. Já a Sessão Praça começa às 19h, com debate logo em seguida. Toda a programação e os filmes que serão apresentados estão disponíveis no site.
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