MAMM apresenta obra gráfica de Maria Lídia Magliani
Pela primeira vez, Minas Gerais recebe mostra individual da artista gaúcha, um dos maiores nomes das artes visuais no país
A arte de Maria Lídia Magliani não se limita em apenas uma linguagem. Magliani provocou questionamentos através de pinturas, esculturas, gravuras, ilustrações e no teatro. Sua extensa obra representa, de forma crítica e diversa, figuras humanas, retrata o corpo feminino em uma sociedade machista e reflete situações políticas do Brasil. Uma parte desse trabalho agora está, pela primeira vez em Minas Gerais, na galeria Convergência do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF). A exposição “Magliani – Gráfica” conta com mais de 80 obras da artista gaúcha.
A exposição conta com a produção de gravuras de Magliani, como as séries “Cartas”, “Um de Todos” e “Procura-se”. Os curadores, Júlio Castro e Sérgio Viveiros, explicam que a artista trabalhava, muitas vezes, simultaneamente em suas séries e que, nos seus últimos dias de vida, se dedicou de forma intensa à gravura, principalmente à xilogravura.
“Temos a ‘Um de Todos’, em que máscaras nos lembram que “persona”, em latim, significa máscara de ator, em uma referência clara ao passado da artista nos palcos. Nas ‘Cartas’, há, na pintura, uma presença acentuada da cor e da influência da xilogravura, como se estivessem presentes, nas pinceladas curtas, o corte da madeira. Já nas xilogravuras propriamente ditas percebemos uma certa fragmentação do espaço, com aspecto de colagem. ‘Procura-se’ foi a última série, onde a palheta da pintora se reduz ao preto e branco, com raros momentos de alguma outra cor”, analisam Júlio e Sérgio.
Magliani já viveu na cidade de Tiradentes, quando dizia que estava “abraçada pelas montanhas de Minas”. (Foto: Divulgação)
‘Abraçada pelas montanhas de Minas’
A artista já viveu em Minas Gerais, entre 1990 e 1996, na cidade de Tiradentes, quando buscava um lugar mais tranquilo para trabalhar. Dizia que estava “abraçada pelas montanhas de Minas”, e foi acolhida pela artista e escritora, Maria José Boaventura. “Logo nos primeiros tempos, ficou impactada com a abundância dos pigmentos terrosos presentes nas cercanias e resolveu usá-los em seu trabalho, o que gerou a série que se chamou ‘Em Gerais’”, comentam os curadores.
Magliani participou de exposições coletivas em Minas, inclusive no MAMM com “Aquisições Recentes: 2018.2021” (2021) e no Museu Mariano Procópio através de “Cada cabeça uma sentença” (1990). Três obras da artista chegaram a ser restauradas pelo Laboratório de Conservação e Restauração de Papel do MAMM/UFJF, sendo que duas delas foram inseridas na retrospectiva de sua obra pela Fundação Iberê Camargo.
O superintendente do MAMM/UFJF, Aloisio Castro, acredita que a exposição oferece ao público a oportunidade de conhecer aspectos da obra inspiradora da artista. “As obras em exposição evidenciam a potente figura artística de Maria Lídia Magliani, que, de modo visceral, entregou sua vida ao exercício pleno da Arte. Elas demonstram sua maestria em variadas técnicas de gravura em metal e em xilogravura, bem como no domínio do desenho, das ilustrações e em técnicas pictóricas”.
Sobre a multiartista
Magliani começou a pintar ainda criança. A artista nasceu em em Pelotas (RS), em 1946, e se formou em artes plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também cursou pós-graduação em pintura. Ao longo de sua vida, atuou no teatro como atriz, cenógrafa e figurinista. Trabalhou como ilustradora e diagramadora em diversos jornais. Também ilustrou livros de autores como Caio Fernando Abreu e Eduardo San Martin.
Desde o final da década de 1990, integrou as atividades do Estudio Dezenove, no Rio de Janeiro. Morreu em 2012, vítima de uma parada cardíaca, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, o Estudio Dezenove passou a ser o centro de referência sobre a obra de Magliani, realizando pesquisa e levantamento de sua produção. Em 2022, a exposição retrospectiva “Magliani”, com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, reuniu, na Fundação Iberê, em Porto Alegre, mais de 200 obras da artista.
No Museu Arte Murilo Mendes, a visitação é gratuita de terça a sexta-feira, das 9h às 18h e no domingo, das 13h às 18h, na Rua Benjamin Constant 790, Santa Helena.