Festa de funk LGBTQIAPN+ celebra 10 anos em Juiz de Fora

Evento com influências do funk, da música eletrônica e pop reúne artistas locais e da região


Por Mafê Braga*

19/09/2025 às 07h00- Atualizada 19/09/2025 às 09h14

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Festa é realizada semanalmente no Clube Contra, em Juiz de Fora (Foto: Caroline Lagrimante / Divulgação)

A festa Kaô Funk, realizada semanalmente no Clube Contra em Juiz de Fora, celebra 10 anos de atuação na cidade em setembro. Segundo os organizadores, o projeto nasceu da vontade de romper barreiras, se tornando um símbolo de resistência e diversidade, com foco na valorização do gênero musical a partir das vivências da comunidade LGBTQIAPN+. Para comemorar a data, será realizada a edição Kaô Funk Generation, nesta sexta-feira (19), às 23h. No dia 26, a celebração continua com a  Kaôzona c/ Estude o Funk, no mesmo horário. Os ingressos podem ser adquiridos via plataforma digital.

Ao longo de uma década, a festa trouxe influências eletrônicas e da cultura pop, mas sempre retomando o funk, sem nunca se encaixar completamente em um só gênero. Um dos sócios do Clube Contra, Cláudio Jr Ponciano, mais conhecido pelo seu trabalho como DJ Crraudio, relata que a Kaô nasceu para poder abraçar um nicho, em especial, o dos artistas LGBTQIAPN+ que trabalham com funk.

O artista revela que, em muitos momentos, antes da criação da festa, recebeu comentários homofóbicos e preconceituosos a respeito da iniciativa. Apesar da situação,  a atividade semanal foi inaugurada com o propósito de conectar públicos diversos, trazendo alegria em meio à luta e à resistência. 

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DJ Crraudio foi um dos idealizadores da Kaô Funk (Foto: Caroline Lagrimante / Divulgação)

“Uma coisa que me toca, nessa parte pessoal relacionada à Kaô são os amigos que eu fiz nesses últimos dez anos. Os meus melhores amigos, as pessoas que trabalham comigo até hoje, que fazem parte da minha vida, todos foram por conta dessa festa. Por ela ser semanal, as pessoas gostam de ir, vão pra ver os amigos tocando, vão pra conversar… Algumas pessoas do público se tornaram sócios, amigos, pessoas que trabalham junto, DJs. Eu posso citar, por exemplo, a DJ Amanda Fie e o DJ ocriolo, que eram meus amigos e, a partir da Kaô, viraram sócios e começaram a tocar comigo”, diz.

Cláudio conta que o nome Kaô Funk foi escolhido como uma brincadeira, pois há dez anos o público não entendia a fusão sonora da festa. Nesse sentido, tocavam funk misturado com música eletrônica, pop, rock e outros estilos, e as pessoas falavam, “ah, caô, isso não é funk não”. Ele deseja que sejam criados outros eventos nesse estilo, pois entende que cultura é  impactar as pessoas a se inspirarem e a criarem seu próprio espaço e comunidade.

Projeto Estude o Funk

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DJ ocrioulo enfatiza a influência da Kaô Funk na sua tarjetória (Foto: BERRO INC / Divulgação)

Com o intuito de profissionalizar artistas na cena musical e fomentar a cultura carioca, o Estude o Funk já formou mais de 150 artistas do gênero, entre MCs, beatmakers e dançarinos.

Os DJs ocrioulo e Macarte, integrantes do ciclo 2025 do programa, irão tocar na comemoração da Kaô nesta sexta-feira. Os artistas irão trazer novas músicas, produzidas durante a residência artística no Rio de Janeiro.

Igor, conhecido como DJ ocrioulo, iniciou como fotógrafo na Kaô Funk e, posteriormente, passou a tocar no local, aprendendo com o DJ Crraudio. Conforme o artista, a festa sempre falou muito sobre a juventude periférica e LGBTQIAPN+, sendo um ambiente seguro para as pessoas dessa comunidade. Inspirado na música eletrônica e no afrobet, ele diz que viu o evento crescer ao longo dos anos e que as pessoas ficavam cada vez mais confortáveis, transformando o lugar em um espaço de vanguarda para a cultura.

“A importância da Kâo Funk é imensurável pra comunidade, porque quando ela começou, não existia espaço pra gente em Juiz de Fora. Então, eu acho que esses movimentos foram primordiais para a diversão e o lazer em meio à resistência. A expectativa ‘tá’ lá no alto, e eu espero que muitas pessoas prestigiem essa programação especial, que vai ser bem legal, vai ser incrível”, afirma o DJ ocrioulo.

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Dj Macarte faz parte do ciclo 2025 do ‘Estude o Funk’ (Foto: BERRO INC / Divulgação)

Já Matheus, o DJ Macarte, começou a tocar há menos de um ano e já se apresentou anteriormente na festa de funk. O artista, que antes frequentava o clube apenas como público, relata que a transição para DJ foi bem tranquila. Ele menciona que foi uma mistura de várias sensações e, principalmente, um orgulho de estar tocando em uma festa que já gosta e acompanha há anos, o que amplia a sensação de estar em casa e de se sentir acolhido.

“Eu lembro que antes a gente não tinha muitos espaços de representatividade na nossa cidade. E a Kaô vem trazendo isso, esse ambiente onde a gente pode se expressar e com um valor super acessível. Com certeza, a Kaô e os artistas ligados a ela me influenciaram muito a me tornar DJ e a trabalhar com música. O público pode esperar um set bem animado com mistura de vários estilos de funk e um pouquinho de outros estilos musicais também, porque eu gosto sempre de misturar.”

 

* Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Serviço

KAÔ FUNK GENERATION

Data: 19 de setembro (sexta)

Horário: 23h

Local: Clube Contra (Rua Francisco Maia, 90 – Centro)

Ingressos: a partir de R$10, compra via plataforma digital Shotgun

Classificação: 18 anos

KAÔZONA  + ESTUDE O FUNK (RJ) 

Data: 26 de setembro (sexta)

Horário: 23h

Local: Clube Contra (Rua Francisco Maia, 90 – Centro)

Ingressos: a partir de R$10, compra via plataforma digital Shotgun

Classificação: 18 anos

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