Conheça os 10 patrimônios imateriais de JF e saiba como funciona o processo de qualificação

Bens culturais passam por avaliação criteriosa para definir como e o que deve ser preservado; Festa Alemã e Banda Daki estão na lista


Por Elisabetta Mazocoli

19/08/2025 às 07h00

BANDA DAKI
Banda Daki integra a lista de patrimônios imateriais de Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

Uma cidade não é definida apenas por sua paisagem ou pelas construções que permanecem de pé com o tempo. Desde o século 20, os patrimônios imateriais foram reconhecidos como igualmente importantes para a identidade cultural de uma nação, valorizando principalmente as tradições e saberes que vinham de países latinos e dos continentes asiáticos e africanos, que iam muito além da arquitetura ou dos objetos. É o caso, por exemplo, do modo de fazer acarajé, o tango argentino ou a produção artesanal de gelato. Na segunda matéria da série Nosso Patrimônio, a Tribuna apresenta os dez patrimônios imateriais de Juiz de Fora que passaram pelo processo de avaliação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) em relação à importância para a cidade e o que deve ser preservado para as gerações futuras. Conheça quais são esses bens culturais e o que define um patrimônio imaterial histórico e cultural.

Como explica o professor de História Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e membro do Comppac, Marcos Olender, um patrimônio imaterial é avaliado de acordo com o que faz tão singular e importante para uma comunidade. “É um modo de preservar tradições e saberes que persistem, mas que não têm uma fisicalidade concreta. Não é o objeto ou a edificação pronta que interessa, mas, em vários casos, que até levam a construções”, explica. Esses casos incluem festas e rituais, com características que podem, inclusive, depender da região onde estão sendo feitos.

Esse processo de reconhecimento é bem diferente do que acontece com os outros patrimônios da cidade, como exemplifica. “Para preservar um imóvel, temos um instrumento chamado tombamento, que tenta garantir que aquele imóvel ou área não vai perder  características que façam com que a comunidade reconheça suas características históricas e culturais. Mas como lidar com o imaterial? (…) No meu entender, criando um instrumento de registro correlato, que descreve o que tem que ser preservado e como”, diz. Até porque, no caso dos patrimônios imateriais, é preciso avaliar outros fatores. No caso do acarajé, que ele usa de exemplo, além dos ingredientes e do modo de fazer que se repete, há também uma dimensão religiosa envolvida na prática, que configura o que deve ser preservado na tradição.

Para ele, justamente por toda essa avaliação criteriosa e que busca uma pesquisa aprofundada, os patrimônios precisam ser determinados pelos órgãos competentes, e não por projetos legislativos, como tem acontecido em Juiz de Fora. Há casos em que  a titulação foi concedida por meio desses projetos pelo valor afetivo, sem passar pelo processo de análise especializada para o reconhecimento. “Como vamos caracterizar o que tem que ser preservado naquela prática sem o envolvimento com a comunidade e o estudo do quê exatamente constitui aquela prática?”, questiona.

Entre os bens já reconhecidos, ele entende que há diversidade de olhares sobre Juiz de Fora, mas também reconhece que é preciso haver avanços para que esses patrimônios incluam práticas que se mantiveram através da comunidade negra e indígena, por exemplo. “Quando sou apresentado ao patrimônio imaterial de Juiz de Fora, consigo identificar a singularidade, a diversidade, a complexidade cultural da minha cidade? Eu acho que, apesar de ter muitos elementos interessantes, ainda não”, diz.

Veja lista dos patrimônios imateriais de Juiz de Fora:

Apito do Meio-Dia 

O apito do meio-dia está instalado na cobertura da galeria Pio X e dispara o alarme no mesmo horário desde 16 de fevereiro de 1925, quando foi instalado para comemorar o centenário da Independência do Brasil. Ele é acionado quando faltam 30 segundos para o meio-dia e conta com várias histórias sobre períodos em que supostamente ficou sem funcionar, já fazendo parte da vida cultural da cidade.

Banda Daki

A Banda Daki é um dos desfiles carnavalescos mais populares de Juiz de Fora, que arrasta milhares de foliões para a Avenida Rio Branco. A festa é mantida desde 1972 como tradição da cidade, sempre renovando os carnavalescos e os membros da banda.

Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva 

O batuque afro-brasileiro de Nelson Silva tem mais de 60 anos e um repertório completamente autoral de sambas, lamentos, batuques, canções, toadas, maculelês e hinos. Com o grupo composto por pessoas negras, é responsável por divulgar a cultura afro-brasileira por meio de cantos e composições criadas ou adaptadas por Nelson Silva. 

FESTA ALEMA
Festa Alemã mantêm viva a tradição cultural das famílias de imigrantes que vivem na cidade (Foto: Felipe Couri)

Festa Alemã 

A Festa Alemã é um evento feito pelos imigrantes alemães, principalmente do Bairro Borboleta, que foram responsáveis por manter viva as tradições germânicas na cidade, promovendo sua popularização. A celebração é caracterizada pela presença de gastronomia, dança, música e artesanato típicos.

Pão Alemão  

O pão alemão é uma das iguarias produzidas pelas famílias de imigrantes alemães em Juiz de Fora desde o século 19. Cada família tem uma receita diferente, mas que mantém a base da utilização e do manuseio dos materiais tradicionais, com destaque para o uso da gordura de porco.

Miss Brasil Gay

O Miss Brasil Gay é um evento histórico e responsável por movimentar a economia da cidade no mês de agosto, atraindo turistas de todo o país para o maior concurso gay realizado em território nacional. O evento também é responsável por colocar Juiz de Fora na vanguarda da luta pelos direitos LGBTQIAPN+, mantendo grande importância cultural.

grupo divulgacao
José Luiz Ribeiro, diretor e fundador do Grupo Divulgação (Arquivo TM /Marcelo Ribeiro)

Grupo Divulgação

Desde 1966, o Grupo Divulgação desenvolve um trabalho consistente e ininterrupto no teatro, com dezenas de produções próprias. O grupo também tem compromisso com a educação por meio do teatro e com o incentivo à cultura com identidade mineira.

Roda de Capoeira

A roda de capoeira é o bem imaterial mais recente de Juiz de Fora, definido como salvaguarda em parceria com os capoeiristas da cidade, que fixaram suas práticas de aprendizagem, integração social e afirmação de identidade como parte da cultura do município.

Valsa ‘Oh! Minas Gerais!’

A valsa “Minas Gerais”, de José Duduca de Moraes e Manezinho Araújo, conhecida como “Oh! Minas Gerais!” é chamada por muitos como hino informal dos mineiros. A música foi composta em 1942, a partir da melodia de uma valsa italiana chamada de “Viene Sul Mar” e, mais tarde, foi doada ao acervo da cidade.

Festival de musica
Festival é referência internacional na difusão do patrimônio musical histórico (Foto: Leonardo Costa)

Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga

O Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga faz o resgate, a preservação e a divulgação da música dos séculos 17 e 18. É o evento mais antigo do gênero e se tornou referência internacional na difusão do patrimônio musical histórico. O festival também é considerado pioneiro na formação de instrumentistas e na ampliação do público para o repertório erudito e faz parte do calendário da cidade.

 

 

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