É o fim do mundo


Por JÚLIO BLACK

19/05/2016 às 07h00- Atualizada 19/05/2016 às 11h05

Vilão que marcou época nos quadrinhos entre os anos 80 e 90, Apocalipse (Oscar Isaac) quer escravizar e exterminar a humanidade

Vilão que marcou época nos quadrinhos entre os anos 80 e 90, Apocalipse (Oscar Isaac) quer escravizar e exterminar a humanidade

A Fox, assim como a Warner Bros., parece incapaz de criar um universo de super-heróis coerente, ao contrário do que a Marvel vem fazendo com um pé nas costas desde 2008. O estúdio, detentor dos direitos dos X-Men, Quarteto Fantástico e Demolidor (este último já de volta à Marvel) para a tela grande, nunca conseguiu colocar todos os personagens numa mesma realidade cinematográfica e ainda cometeu alguns dos piores filmes do gênero – casso do “Quarteto…” lançado em 2015. A exceção fica por conta do universo mutante, que à exceção do primeiro “Wolverine” e de “X-Men: O confronto final” sempre teve produções que agradaram à crítica e aos fãs menos chatos. Mas nem tudo é perfeito, afinal a Fox é pródiga em bagunçar a cronologia dos seus “filmes X” – caso do mais recente lançamento da “Raposa do Século XX”, “X-Men: Apocalipse”, com lançamento nesta quinta-feira.

Primeiro, aos fatos do filme: a produção se passa em 1983, cerca de dez anos após os eventos de “X-Men: Dias de um futuro esquecido”, em que os mutantes salvaram a humanidade da ameaça dos Sentinelas. O Professor Xavier (James McAvoy) acredita que enfim poderá concretizar seu sonho de paz e harmonia entre mutantes e humanos “normais”, e tem como objetivo transformar sua escola numa instituição de ensino que receba tanto o Homo sapiens quanto o Homo superior.

O clima de “paz e amor”, porém, não vai durar muito, com o fim da hibernação daquele que é considerado o primeiro mutante da história: Apocalipse (Oscar Isaac). Nascido por volta do século XXX antes de Cristo, no Egito, En Sabah Nur (seu nome de nascimento) foi idolatrado como um deus por diversas civilizações antigas e acredita piamente na lei do mais forte – e “os mais fortes”, em sua opinião, são os mutantes, motivo mais que suficiente para escravizar/exterminar a humanidade.

Apesar de todo o estofo divino que possa ter, Apocalipse ressurge na década de 1980 nem um pouco a fim de se prender a questões religiosas. Ele quer é acabar com a fraternidade entre espécies e liderar os mutantes para assumirem seu posto no alto da cadeia evolutiva. Com poderes quase ilimitados, ele domina um grupo de mutantes para que sejam os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Magneto (Michael Fassbender), Psylocke (Olivia Munn), Anjo (Ben Hardy) e Tempestade (Alexandra Shipp).

Com tanto poder em suas mãos, o vilão parte para a destruição mundial insensata, e caberá ao Professor Xavier recrutar Mística (Jennifer Lawrence) para liderar a primeira equipe dos X-Men, que tem entre seus integrantes Noturno (Kodi Smit-McPhee), Fera (Nicholas Hoult), Ciclope (Tye Sheridan), Mercúrio (Evan Peters) e Jean Grey (Sophie Turner, a insossa Sansa Stark de “Game of Thrones”). A primeira missão do grupo não será fácil: impedir o fim do mundo e derrotar um adversário invencível.

Complicando o que era fácil

Se a história é fácil de ser entendida a princípio, difícil é encontrar unanimidade em relação ao longa, pelo menos entre os críticos norte-americanos que já assistiram a “X-Men: Apocalipse”. Enquanto alguns dizem que o filme é vibrante, com interpretações ótimas, cenas de ação de tirar o fôlego e reverência aos quadrinhos, outros cravaram que a produção tem roteiro confuso, excesso de personagens, é monótono e possui um vilão que não entrega metade do que promete.

Para quem já assistiu a todos os “filmes X” (cinco “X-Men”, dois “Wolverine” e “Deadpool”) produzidos pela Fox, ainda existe o incômodo da bagunça que virou a cronologia dos personagens no cinema, aí sim definitivamente digna das HQs. Explicando: os três primeiros filmes dos X-Men se passavam “em algum momento no futuro” e mostravam a equipe já formada, com a adição de Wolverine e mais alguns novos mutantes adolescentes, aproveitando tramas famosas dos quadrinhos como “Deus ama, o homem mata” (Chris Claremont/Brent Anderson) e “A saga da Fênix Negra” (Chris Claremont/John Byrne). A decepção com “O confronto final” e “X-Men origens: Wolverine”, porém, fez a Fox rever seus conceitos – e começar a bagunçar o coreto.

A cena pós-créditos de “X-Men 3” foi simplesmente ignorada e o estúdio apostou em mostrar as origens do grupo em “Primeira Classe”, situado na década de 1960 e considerado por muitos o melhor filme da franquia, com doses generosas de suspense, espionagem e geopolítica. A bagunça continuou com mais uma cena pós-créditos para inglês ver, desta vez em “Wolverine – Imortal”, o filme que antecedeu “Dias de um futuro esquecido”. A adaptação de mais uma clássica HQ da dupla Claremont/Byrne pelas mãos de Bryan Singer – que retornava à direção franquia – provocou alguns conflitos cronológicos, mas nada que se compare ao que se vê em “X-Men: Apocalipse”, que simplesmente ignora muita coisa vista nos longas anteriores.

A começar pelo próprio gancho no final de “Dias…”, em que Mística aparece com a fisionomia do militar William Striker – responsável por criar o projeto Arma X no cinema – e que foi simplesmente ignorado na produção. Já a popularidade de Jennifer Lawrence, por exemplo, fez com que Mística tivesse maior destaque e até mesmo se transformasse na líder (!) da primeira formação dos X-Men – que, de acordo com o visto até agora, só faria sua primeira aparição no filme lançado no ano 2000. Noturno, que encontrava com os mutantes pela primeira vez em “X-Men 2”, aqui passa a integrar o supergrupo desde os primórdios – situação parecida com a do Anjo, um adolescente em “O confronto final” mas que aqui aparece como personagem importante, muito devido ao fato de ele ser o mais famoso Cavaleiro do Apocalipse nos quadrinhos. Mais popular personagem X, Wolverine (Hugh Jackman) volta a aparecer, e já existem sinais de que vão fazer uma nova versão para a “Saga da Fênix Negra”.

A impressão que fica é que Fox e Bryan Singer aproveitaram “Dias de um futuro esquecido” para zerar o Universo X, ignorando por completo quase todos os filmes da franquia. Infelizmente, porém, parece ser mais uma etapa do tiroteio de cegos em um quarto escuro que o estúdio vem fazendo – afinal, não há a menor indicação de haver planejamento, por exemplo, para colocarem X-Men e Quarteto Fantástico no mesmo “planeta”. É esperar para ver o que auê cronológico vai render.

X-MEN: APOCALIPSE

UCI 2 (3D/dub): 13h, 16h, 19h e 22h. UCI 3 (3D): 13h30, 16h30, 19h30 e 22h30. Cinemais 2: 15h30, 18h30 e 21h30. Cinemais 5 (3D/dub): 15h, 18h e 21h. Palace 1 (dub): 14h40 e 17h40 (exceto segunda-feira). Palace 1: 20h40 (exceto segunda-feira). Santa Cruz 1 (dub): 15h, 18h e 20h45

Classificação: 12 anos

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