Aos 35 anos de carreira, Badi Assad celebra trajetória e faz show inédito em Juiz de Fora

Em entrevista à Tribuna, cantora reflete sobre os rumos da música brasileira, a influência da família e o poder da reinvenção


Por Mariana Souza*

18/10/2025 às 07h00- Atualizada 18/10/2025 às 15h00

Badi Assad Pablo Bernardo
Começando celebração dos 35 anos de carreira, Badi Assad se apresenta na sexta (31), em Juiz de Fora (Foto: Pablo Bernardo)

Iniciando as celebrações dos seus 35 anos de carreira, a cantora e violonista Badi Assad se apresenta na sexta (31), às 20h, no Teatro Solar, em Juiz de Fora. Esta é a primeira vez da artista na cidade, encontro que ela define como um momento especial com os fãs locais.

Em entrevista à Tribuna, Badi conta que encara cada apresentação como um instante único. “Trato o momento do palco como algo que só acontece uma vez. Por isso, dou tudo de mim – pode ser, literalmente, o último instante da vida”, reflete.

Definir o próprio trabalho, segundo ela, nunca foi simples. “É difícil rotular um artista aberto a qualquer manifestação artística”, afirma. “Eu fiz tanta coisa, mas gosto de dizer que minha música é uma música universal brasileira.”

A artista explica que seu som nasce das raízes brasileiras, mas é atravessado pelas experiências internacionais acumuladas ao longo da carreira. “Faço música brasileira com influências das minhas andanças pelo mundo e de tudo o que vai me inspirando”, resume.

Badi por Gal Oppido 01
Com uma carreira internacional consolidada, Badi Assad faz show em Juiz de Fora pela primeira vez. (Foto: Gal Oppido)

A trajetória de Badi Assad começou fora do país. Seu primeiro disco foi lançado por uma gravadora de Nova York, em 1994, o que fez com que sua carreira ganhasse projeção internacional antes mesmo de se consolidar no Brasil. Hoje, ela vive no país e celebra o reencontro com o público brasileiro.

Nascida em São João da Boa Vista (SP), Badi afirma que a família teve papel decisivo em sua formação musical. Filha de artistas, cresceu em um ambiente dedicado à arte e começou a tocar aos 14 anos, inspirada pelos irmãos que já seguiam carreira.

Ao revisitar sua trajetória, a cantora reconhece as transformações que marcaram sua música. Iniciou  no violão clássico, migrou para o instrumental e incorporou a voz como elemento percussivo e interpretativo, passando por uma fase de experimentalismo.

Entre os momentos mais desafiadores, Badi relembra o período em que enfrentou uma disfonia focal, condição que a fez perder os movimentos de uma das mãos e a afastou dos palcos por dois anos, justamente no auge da carreira. A pausa forçada deu origem a uma nova fase: foi durante a recuperação que ela se descobriu compositora e passou a assinar suas próprias canções.

Hoje, aos 58 anos, a artista vê a trajetória com serenidade e aceitação. Reconhece que a técnica virtuosa deu lugar a uma expressão mais madura e autêntica. “Não voltei a ser exatamente a mesma, e tudo bem. Continuo me reencontrando o tempo todo e aprendendo a aceitar o que o tempo traz.”

O (re) conhecimento do público

Apesar do reconhecimento internacional, Badi admite que é mais conhecida dentro da classe artística do que pelo grande público. Ela avalia que alcançar uma audiência mais ampla depende de diversos fatores, como presença nas rádios, aparições na TV e uma estrutura de divulgação que vá além do mérito artístico.

A cantora observa que o cenário musical mudou, e que os artistas, hoje, precisam lidar com novas pressões impostas pelo ambiente digital. Segundo ela, o público é conquistado nas redes sociais, o que exige dos músicos não apenas produção, mas também engajamento e estratégias de marketing. Ela admite que já não tem a mesma disposição para se dedicar a essa dinâmica e critica o excesso de cobrança que transforma artistas em “produtos da indústria”.

Ela também reflete sobre os efeitos dos algoritmos e da segmentação digital, que limitam o alcance das produções. Para a artista, embora as plataformas tenham ampliado o acesso à música, elas acabam restringindo o contato com a diversidade cultural do país. Ainda assim, Badi acompanha de perto nomes das novas gerações, como Larissa Luz, Julinha Linhares, Josyara, Vanessa Moreno e Almério.

Para a artista, o objetivo é continuar se reinventando. Cada álbum, explica, é uma busca por novas sonoridades e formas de expressão. “O importante é seguir criando com verdade, sem expectativas irreais – e estar bem comigo mesma em cada etapa.”

Sobre o futuro, a cantora afirma que não conduz a carreira com base em cálculos de mercado, mas no próprio instinto criativo. Seu novo trabalho reúne parcerias com grandes nomes da MPB, como Adriana Calcanhotto, Otto, André Abujamra e Silmar, além de canções inéditas de Chico César, Paulinho Moska, Nando Reis, Zé Renato, Zeca Baleiro e Vicente Barreto. O projeto, segundo ela, celebra as conexões artísticas de sua geração.

Em março, Badi planeja lançar outro disco, voltado a canções que marcaram sua trajetória, unindo faixas já gravadas e outras que sempre fizeram parte de sua história. Ela também revela o desejo de revisitar as raízes do interior de São Paulo, com sonoridades inspiradas em lembranças da infância e da música caipira.

‘O que eu faço com isso, mãe?’

Badi Assad Pedro Henrique Gomide
Unidos pela música e pelo amor, Badi Assad conta como surgiu o Museu da Família Assad e os próximos projetos da carreira.(Foto: Pedro Henrique Gomide)

Badi define a música como uma força vital – uma forma de cura e conexão. No palco, diz sentir que ela funciona como uma medicina, tanto para o público quanto para si. Cada apresentação, afirma, é única: entrega tudo, como se fosse o último instante.

O vínculo familiar, que moldou sua trajetória, também inspira um de seus projetos mais pessoais: o Museu da Família Assad. A artista lembra que o amor é o que realmente une os Assad. “Apesar de compartilharmos a paixão pela música, o que nos une é o amor”, disse. A primeira exposição homenageia os pais, Seu Jorge e Dona Ica, e resgata a história musical da família. 

A ideia do museu surgiu após a morte da mãe. Durante a pandemia de Covid-19, Badi se mudou para São João da Boa Vista para cuidar dela e, ao reencontrar caixas com o acervo guardado pelos pais, decidiu preservar essa memória. “Não podia deixar todo aquele esforço e dedicação esquecidos”, conta.

O museu, explica, é uma forma de retribuição e gratidão. Para Badi, não existiria sua trajetória sem a família. “Acredito que pra educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. No meu caso, essa aldeia é a minha família.”

Entre as homenagens futuras está a do irmão Cito, que nasceu com lesão cerebral e epilepsia. Badi destacou o papel da APAE na vida dele – instituição que o ajudou por muitos anos. “Foram 50 anos de convulsões. Ele só parou de tê-las quando começou a frequentar a APAE, aos 50”, lembra. 

Além dessas, a cantora pretende homenagear o Duo Assad, irmãos de Badi, Sérgio e Odair, que celebram 60 anos de trajetória. Para o próximo ano, a cantora confirma a homenagem para os seus 35 anos de história. 

Entre homenagens e novos projetos, Badi encara o marco dos 35 anos de carreira como um ciclo de plenitude. Diz que nunca faltou coragem – nem quando a vida impôs pausas, nem quando precisou recomeçar. “A música me escolheu”, afirma. “Foi ela que me sustentou em todos os sentidos – financeiros, emocionais e espirituais.”

A artista celebra a caminhada com serenidade e orgulho. Reconhece que o brilho das grandes turnês e dos tapetes vermelhos foi tão importante quanto os momentos de silêncio e reconstrução. “A criatividade vive 24 horas por mim”, reflete. “E são os sonhos que mantêm essa chama acesa.”

 

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.