Serra do Espinhaço ganha destaque internacional com descoberta de quatro novas espécies de plantas

Cordilheira que atravessa Minas completou 20 anos como Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco e se tornou celeiro de novas espécies, algumas em risco, nos últimos anos 


Por Nayara Zanetti

18/10/2025 às 06h00

Cordilheira do Espinhaco 4 Foto Geisy Faria
Serra do Espinhaço se tornou um verdadeiro celeiro de novas espécies. (Foto: Divulgação/Agência Minas/Geisy_Faria)

Em 2025, a Serra do Espinhaço completou 20 anos como Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco e, nos últimos meses, se destacou no cenário internacional, mais uma vez, por ser um celeiro de novas espécies. Única cordilheira do Brasil, a área fica localizada no Norte de Minas Gerais e segue até a Chapada Diamantina, na Bahia, com cerca de 1.200 quilômetros de extensão. Além das belas paisagens que representam os conhecidos mares de morros de Minas, a Serra do Espinhaço abriga uma rica biodiversidade. Recentemente, quatro novas espécies de plantas foram descobertas e descritas em revistas especializadas, destacando a importância dos campos rupestres e da conservação ambiental. 

As publicações fazem parte das ações do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro, que reúne esforços de pesquisadores, gestores e instituições em prol da biodiversidade regional. As novas espécies são: Staelia fimbriata (Rubiaceae) e Wedelia riopardensis (Asteraceae), publicadas na revista Phytotaxa; Eriope carpotricha (Lamiaceae), descrita na Nordic Journal of Botany; e Microlicia geraizeira (Melastomataceae), publicada na Webbia. As descobertas ocorreram na região de Monte Azul e Rio Pardo de Minas, abrangendo áreas como as Serras das Marombas e a Serra Nova. 

Duas das recém-descobertas, a Staelia fimbriata e Eriope carpotricha, são consideradas microendêmicas da Serra das Marombas, o que significa que se restringem a áreas extremamente restritas. Por outro lado, a Wedelia riopardensis e Microlicia geraizeira foram registradas na região de Serra Nova.

A taelia fimbriata, pertencente à família do café, se destaca como um pequeno arbusto. Sua adaptação a solos arenosos e pobres em nutrientes — localmente conhecidos como “areais” — faz desse ambiente extremo um verdadeiro laboratório natural de resiliência. Em contraste, a Wedelia riopardensis, uma espécie de margarida de flores amarelas, prospera em solos arenosos e pedregosos, e seu nome é uma homenagem ao município de Rio Pardo de Minas, onde foi identificada pela primeira vez. 

Entre as quatro, a Eriope carpotricha é um achado raro: uma nova espécie de árvore. Ela habita zonas de transição entre a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga, e sua singularidade reside na presença de tricomas (pelos) em frutos e sementes, uma característica única dentro de seu gênero. Por fim, a Microlicia geraizeira, da família das quaresmeiras, uma planta que pode alcançar até quatro metros de altura e exibe flores brancas, foi batizada em reconhecimento ao povo geraizeiro, comunidade tradicional do Norte de Minas, cuja cultura se entrelaça profundamente com o uso sustentável do Cerrado. Essa espécie foi coletada pela equipe do Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Pesquisa colaborativa e internacional na Serra do Espinhaço 

serra do espinhaço
Microlicia geraizeira é uma das quatro espécies recém descobertas no Norte de Minas Gerais. (Foto: Divulgação/IEF)

As expedições de campo que resultaram nas descobertas de Staelia fimbriata, Eriope carpotricha e Wedelia riopardensis foram lideradas pelo doutorando Danilo Zavatin, da Universidade de São Paulo, com financiamento da Fapesp. As coletas contaram com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e de pesquisadores estrangeiros, como Raymond Harley (Inglaterra) e Roberto Manoel Salas (Argentina).

“Esse tipo de trabalho só é possível graças ao esforço conjunto. Além da equipe do IEF na região, a colaboração internacional mostra o poder da ciência quando há integração entre diferentes instituições”, destaca Danilo.

No entanto, as descobertas vêm acompanhadas de um alerta. As novas espécies Staelia fimbriata e Eriope carpotricha não ocorrem dentro de unidades de conservação de proteção integral, o que as torna mais vulneráveis. Por isso, ambas — assim como Wedelia riopardensis — foram classificadas preliminarmente como Criticamente em Perigo, conforme os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Embora a Wedelia riopardensis ocorra dentro do Parque Estadual de Serra Nova e Talhado, a espécie também apresenta populações pequenas e flutuantes, o que justifica a preocupação.

Estes trabalhos científicos integram uma avaliação rápida de endemismo e estado de conservação da flora endêmica, realizada no âmbito do PAT Espinhaço Mineiro e coordenada pelo Dr. Renato Ramos, pesquisador e membro do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) do plano. Renato acrescenta que o uso de ferramentas de big data foi fundamental para identificar lacunas de conhecimento científico e orientar as coletas em campo. “A Serra do Espinhaço ainda guarda inúmeras possibilidades de descobertas. A região tem sido um verdadeiro celeiro de novas espécies nos últimos anos, impulsionada pelas ações do IEF e pelo interesse dos servidores que atuam localmente”, afirma o pesquisador. 

O trabalho contou com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio dos programas Pró-Espécies e Copaíbas, e com a colaboração das equipes dos Parques Estaduais Caminho dos Gerais e Serra Nova e Talhado. 

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