Entrevista exclusiva: rapper juiz-forano, RT Mallone dá detalhes sobre a nova música ‘Magenta’

Disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (18), ‘Magenta’ é o novo single do artista


Por Mafê Braga*

18/07/2025 às 07h00

27A3978
‘Magenta’ aborda experiências pessoais de RT Mallone (Foto: Divulgação/Digo Ferreira Photos)

RT Mallone é um artista juiz-forano que ganhou destaque nacional ao vencer o reality musical da Netflix, Nova Cena, no qual Djonga, Filipe Ret, Tasha e Tracie buscam o próximo sucesso do rap. Criado no Bairro São Benedito, na Zona Leste da cidade, ele iniciou seu contato com a música por meio do projeto social Curumim, aos 13 anos, quando participava de eventos de coral. Ele teve contato com o hip-hop por meio de um projeto de dança da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) e começou a participar do Encontro de MCs, evento que é referência em rima e poesia na cena local. Nesta sexta-feira (18), o rapper lança sua nova música de trabalho, “Magenta”.

Tribuna: O que a cor magenta representa pra você e por que ela dá nome à música?

RT Mallone: Magenta é um tom de vermelho, muito usado na Policromia, técnica de serigrafia que eu usava muito no período em que trabalhei com estamparia de camisas e blusas. Pra mim, Magenta representa o sangue, o denso, um sinal de alerta para quando as coisas estão ficando sérias, porém, é extremamente necessária na formação das imagens como um todo (assim como nas estampas). Esse vermelho desperta, em mim, a sensação de vida, não é possível descartar a parte séria, a parte tensa porque faz parte do processo, mas é preciso não negligenciá-la também.

Quais temas ou sentimentos estão por trás dessa faixa? Existe alguma história pessoal envolvida?

Essa música é uma parte muito pessoal da minha vida, fala, talvez de forma simbólica, do meu processo com a depressão, doença que assola não só artistas, como pessoas pretas, e que tem sido um dos maiores males dessa geração. Fala sobre meu desejo de fazer as coisas da forma certa e das dificuldades envolvidas nessa saga. Do meu desejo de usar o Rap para ajudar as pessoas e da frustração que sinto, em partes, por ver o movimento se tornando cada vez mais mercadológico. De certa forma, sinto que esse sentimento é compartilhado não só entre rappers e artistas, mas trabalhadores em geral. E a cor vermelha que rege a música é, também, um alerta para que olhemos com mais atenção para nós mesmos, para os nossos. A internet deturpa nossa visão da vida real e nesse ritmo acabamos não percebendo as lutas que cada um está passando. Precisamos nos enxergar mais.

27A4032
Primeira apresentação ao vivo da música será no Festival Alma, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/ Digo Ferreira Photos)

Magenta” marca alguma transição ou novo momento na sua caminhada artística?

Não sei se um momento novo, mas um momento de exposição. Eu estou me abrindo nessa faixa de uma forma que só a música e a arte nos permitem às vezes, pra me conectar com as pessoas que também sentem isso e mostrar que elas não estão sozinhas. Nada é novo aqui, ainda é o mesmo RT Mallone de antes do reality voltando às suas raízes e fazendo músicas com sentimento e vida, mirando se conectar com pessoas de verdade, e não com algoritmos, desafiando a nova lógica do mercado do Rap no Brasil, que exige letras cada vez mais rasas que sirvam puramente ao entretenimento e desprezam a condição psicológica e espiritual de seus ouvintes e criadores.

Como foi o processo criativo da música, desde a escrita da letra até a finalização da produção?

O primeiro elemento dessa faixa foi o instrumental do Eloy Polêmico, rapper e produtor de São Paulo que, além de uma referência pra mim na cena, foi o beatmaker da faixa. A letra veio naturalmente, como se meu peito estivesse cheio e pedindo pra ser esvaziado. O outro passo foi as mãos e a inteligência técnica e sentimental do Moraez, cantor, compositor e produtor do Rio de Janeiro, que foi o engenheiro de áudio da música, trazendo pra mixagem e masterização o peso certo em cada elemento do som e valorizando, ainda mais, o sentimento que eu queria expressar. Por último, Rodrigo Ferreira, fotógrafo e videomaker de Juiz de Fora, teve a sensibilidade de entender minha ideia pro visual, roteirizar, selecionar a melhor equipe e dirigir o videoclipe pra que a ideia do “palhaço em pós-expediente” fosse notável e ampliasse ainda mais o discurso de “Magenta”. Um trabalho feito por muitas mãos que sentem o mesmo que eu.

Há influências sonoras ou poéticas que guiaram você nessa criação? Algum artista ou referência direta?

Na construção da música não, foi apenas eu e o universo de sentimentos que carrego comigo. Agora a ideia do videoclipe nasce de uma rima do rapper Kamau (SP) na faixa “Lágrimas do Palhaço” – com participação da Tulipa Ruiz – onde ele diz: “A profissão não me permite ser triste, afinal, é pra alegrar que o palhaço existe”. Eu quis sintetizar essa ideia em vídeo porque sempre me vi nesse verso.

EU AINDA TENHO FOME mano Jogamos em casa no primeiro show da turne QMCMFS e alem de ter f
RT participa de turnê de Djonga ‘Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto’ (Foto: Lucas Mota / Divulgação)

“Magenta” faz parte de um projeto maior? Podemos esperar novas faixas ou um álbum em breve?

Na real, “Magenta” é um trabalho solo, um trabalho vivo e que respira seu próprio ar. Ela foi inspirada numa faixa antiga de minha autoria, chamada “Sangue e tinta”, que nunca foi lançada, mas meus fãs mais antigos de JF conseguem se lembrar de ouvi-la em performances ao vivo em meados de 2014, 2015.

Existem outros projetos em andamento ainda para este ano, mas “Magenta”, definitivamente, respira e caminha por si só. É uma carta sincera, escrita com meu sangue poético pra lembrar que isso ainda é sobre hip hop!

O que você espera que o público sinta ou reflita ao escutar essa música?

Mesmo sabendo que, quando uma música é lançada, ela se torna propriedade do mundo e que cabe aos ouvintes suas próprias interpretações, eu espero que “Magenta” tenha toda a base necessária pra chegar nas pessoas que precisam dela, que se sentem perdidas, desmotivadas ou frustradas com o rumo do mundo, pessoas que, assim como eu, estão tentando pôr as coisas no lugar. Que essas pessoas saibam que não estão sozinhas nessa missão de achar um lugar e um modelo melhor pra se viver, pra viver da própria arte e/ou do próprio sonho, sem necessariamente seguir tendências efêmeras de moda. E que também ligue um alerta para que voltemos a se importar com pessoas, voltemos a ver valor nas coisas e para que comecemos a olhar mais pra nós mesmos com empatia e cuidado, entendendo que cada um está passando por sua própria luta, apesar dos likes e dos sorrisos na internet. “Magenta” é um apelo ao que só se encontra offline, uma ode à vida!

* Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.