Programa Murilo Mendes: o que se vê através do Paraibuna?
Minifestival de ecoartivismo acontece neste sábado e reúne artistas de várias linguagens para falar sobre o mesmo tema; além dele, outros eventos financiados pelo edital Pau-Brasil acontecem

O Rio das Águas Escuras nem sempre foi frequentado só por capivaras. O Rio Paraibuna, na verdade, já foi limpo e usufruído pela população juiz-forana nos dias quentes – para nadar mesmo. A cidade foi crescendo, e o rio, ficando poluído. Quase toda a população passa por ele. Juiz de Fora, que nasceu às suas margens, no entanto, vira de costas, tampa o nariz. Com a proposta de romper, tal qual o modernismo, o projeto Salve Paraybuna faz sua primeira ação e, neste sábado, organiza o Minifestival de Ecoartivismo, evento que tem início às 9h e dura até 20h30, sendo um dos aprovados pelo edital “Pau-brasil”, do Programa Cultural Murilo Mendes, da Funalfa. A proposta é, com a arte, fazer ver.
A ideia do projeto nasceu há bastante tempo, quando Nicolle Bello, uma das artistas que participam do festival, ainda morava no Coletivo Bananal, que fica no Bairro Ladeira, bem próximo ao rio. Vivenciando-o, nasceu a ideia de unir artistas de várias linguagens com um mesmo foco: o Rio Paraibuna. De acordo com ela, o intuito é dialogar com a população, através de diversas expressões, para que a cidade passe a enxergar o rio com um outro potencial. Entendendo a arte como um poder transformador, isso ajudaria, por exemplo, a fortalecer o projeto de despoluição do rio, fazer com que ele, limpo, não se restrinja às idealizações das histórias de uma outra geração. A ideia é de pertencimento.
Arte pelas ruas
O evento começa às 9h com uma exposição na Avenida Brasil, entre as pontes Wandenkolk Moreira e Élson Duarte, no Bairro Ladeira. Sete artistas foram convidados a, cada um, pensar duas artes visuais de maneira livre sobre o tema. As artes, que vão de fotografias a colagens, foram impressas em tecido ecológico de pet reciclado, e os painéis foram feitos pela equipe da Oficina Malungo, também com materiais naturais, reciclados ou reaproveitados. Depois do dia 19, as peças ficarão expostas no Museu Ferroviário.
Das 9h ao meio-dia, três performances acontecerão pelas ruas do Centro da cidade. Ainda recordando aquele tempo em que o Paraibuna tinha muitos peixes, a primeira se chama “Pescaria?” e vai encenar uma pescaria, mas, agora, tóxica. A segunda é “Fauna Paraybuna”. Com máscaras de animais que pertencem à fauna juiz-forana, feitas por Daniel Boscone, três artistas circularão pelo centro da cidade fazendo referência ao fato de que esses animais perderam seu habitat natural em decorrência da urbanização. Já “Rios invisíveis” propõe um artista “navegando” de canoa pela Avenida Itamar Franco. Por ali existem córregos que foram inviabilizados pela pavimentação. Durante todas as apresentações, zines serão entregues ao público, contendo ilustrações, fotografias, colagens e poesias – a revista também foi feita a partir de papel reciclado.
Com os corpos cobertos
À tarde, das 15h às 16h30, aconteceria o desfile de roupas de banho. Mas a programação foi alterada. Agora, será um “Cortejo fúnebre em ‘desomenagem’ à poluição do rio e das mentes”. O Salve Paraybuna convoca a população a ir, em conjunto, da rotatória da Rua Maria Perpétua, no Bairro Ladeira, até a Praça da Estação, com vestimentas que cobrem o corpo inteiro, para que “ele não seja exposto à sujeira”. Essa nova versão ironiza a polêmica em torno de outro projeto aprovado pelo mesmo edital, a “Praia”, cuja segunda apresentação foi suspensa pela Prefeitura sob alegação de “riscos elevados de turbulência social”. Uma capivara de bambu feita também pela Oficina Malungo acompanhará o cortejo. O nome dela é “Capivara de Troia” e, como um mascote, simboliza a luta pela despoluição do rio.
Taba Bambu, um coletivo de arquitetos e bioconstrutores, fará uma roda de conversa sobre educação ambiental voltada à realidade de Juiz de Fora, das 17h30 às 18h30, no Museu Ferroviário. A partir das 19h, no mesmo local, é a vez de um sarau com microfone aberto. Os dois eventos terão intérpretes de libras. O minifestival de ecoartivismo termina com show da Capivara Endiabrada, às 20h, também no museu. Além de o próprio nome ter relação com a proposta do projeto, a banda tem composições que abordam aspectos do Rio Paraibuna.
‘Pau-Brasil’ pra toda obra
Nesta sexta-feira teve início, também, a mostra on-line do “Projeto Residência híbrida Precáriobrasil”, do mesmo edital, que reúne obras de 11 artistas. Neste sábado (19), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, acontece o show “Mundos achados & perdidos”. No domingo (20), no mesmo espaço, acontece o “Música da criançada”, com show musical e contação de histórias, a partir das 11h. Também no sábado (19), o Projeto Nubus lança jogo on-line com recortes da obra de Murilo Mendes, no www.nubus.art.br. No outro sábado (26), às 15h, haverá oficina no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM). No sábado (26) e no domingo (27), haverá distribuição de bandeiras com artes produzidas pelo coletivo Precáriobrasil nas praças do Centro.