Juiz-foranos tentam emplacar samba-enredo da Portela
Sandra Portella e Edynel Raimundo participam das etapas de classificação que definem o enredo da escola de samba de Madureira
O carnaval começa bem antes daquela semana de fevereiro. As escolas, por exemplo, já estão no processo de escolher o samba-enredo para desfilar na avenida. Há 25 anos, Edynel Raimundo está na Portela e, desde então, compete para tentar emplacar a música da agremiação do bairro de Madureira, onde, inclusive, ele mora – apesar de ainda passar tempos em Juiz de Fora. Em 2000, ano em que as escolas do Rio de Janeiro comemoraram os 500 anos do descobrimento do Brasil, ele e seus parceiros venceram o concurso. No ano que vem, a Portela completa 100 anos, e a música dele, junto com Marcos Lauriano, Waldir Guimarães, Gadinelle, Marcello Luz e Serginho Pavuna, foi classificada na eliminatória do último domingo (14) para competir em mais uma etapa, que vai acontecer no dia 28. Ele faz parte da chave azul da disputa.
A outra chave é a branca e a classificatória acontece neste domingo (21). Sandra Portella, que também mora no Rio de Janeiro há alguns anos, está nessa fase. O samba foi escrito por Sandra em parceria com Meri de Liz, Ana Quintas, Simone Lyns, Andreia Moreira, Dayse do Banjo e Rozzi Brasil. – que formam o grupo Samba das Guerreiras. “Nossa parceria é a única só de mulheres e esperamos, de preferência, ganhar (risos), mas vamos batalhar. A concorrência é pesada, com nomes como Diogo Nogueira, Noca da Portela, Mariane de Castro, Carlinhos Brown; mas não vamos desistir, pois temos um samba lindo. Eles são grandes, mas também somos grandes, mesmo que de outra forma”, diz.
Essa é a terceira vez que o Samba das Guerreiras tenta emplacar o samba-enredo da Portela, e a primeira de Sandra, que já havia tentado emplacar o samba da Mangueira para o carnaval de 2020, sendo que a parceria para a Verde e Rosa ficou em segundo lugar. “Consegui carregar muita gente de Juiz de Fora para a torcida, foi um momento muito emocionante, em que fui recebida com um carinho enorme”, relembra.

Meses de trabalho
Edynel diz que, realmente, a torcida é parte importante para que a música seja eleita samba-enredo da escola. Na medida em que as classificatórias vão acontecendo, é normal que o coro seja endossado a favor da composição, e isso vale tanto quanto as questões técnicas da música. Mas o trabalho até chegar ao resultado final é extenso. Para quem (ainda) acha que fazer o carnaval é fácil, levar um enredo para a Sapucaí é trabalho de um ano inteiro, partindo da definição do tema, pesquisa, desenvolvimento, projetar carros alegóricos, fantasias, e depois deixar tudo pronto a tempo. E nesse processo há a composição do samba, com os artistas se debruçando sobre a sinopse entre os carnavalescos para criar, enfim, letra e melodia. No caso de Sandra e suas parceiras, foram meses trabalhando até gravarem, em junho, o samba que foi apresentado e aprovado pela escola de samba.
Já Edynel diz que foi um mês de trabalho, com os parceiros se encontrando até duas vezes por semana para chegarem a um resultado que agradasse a todos. Eles, na música, contaram a história da Portela, fazendo alusão a pessoas importantes para a escola desde o seu início até os dias de hoje. “É uma sintetização de tudo o que aconteceu. O trabalho não foi cansativo porque acaba que a gente está nesse processo há tempos. Eu, por exemplo, apesar de há 25 anos compor samba-enredo, desde os meus 14 escrevo música”, diz o sambista, que já tentou emplacar com mineiros um samba, mas, dessa vez, foi com cariocas.
Sandra entrou nessa parceria com o Samba das Guerreiras por causa da própria Portela, e, pela primeira vez, participa apenas com mulheres. “É um outro olhar, um carinho diferente, uma atenção a mais. São mulheres buscando espaço num universo majoritariamente masculino.” Mesmo que Sandra e Edynel estejam acostumados com o clima de competição nas escolas, cada passo conquistado é um prazer, com frio na barriga das próximas que ainda virão.